Custo de produção do girassol é 38,55% menor que o da soja

girassóis
Foto: Marcos Maluf

Durante a pandemia, importação da semente tinha sido restrita, agora está normalizada

Mato Grosso do Sul ainda tem muito a se desenvolver nas lavouras de girassóis, mas ainda assim é possível encontrar quem cultive esse tipo de planta, como é o caso da fazenda Cinco Estrelas, na região do Indubrasil.

O “mar amarelo” de girassóis vai muito além da beleza e serve também como alternativa rentável, já que da planta é possível extrair mel, óleo e farelo de girassol. Além disso, também é uma importante fonte de proteínas para a alimentação animal. A Argentina é a principal exportadora das sementes de girassol para o Brasil.

O que chama a atenção é o seu custo de produção, que é 38,55% menor que o da soja. Conforme dados da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), na segunda safra de 2022, por exemplo, o custo de produção estava em R$ 4.951,37.

Já segundo informações da Aprosoja/MS (Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso do Sul), os custos estimados para implantação da soja 2022/2023, por exemplo, foram de R$ 6.860,08 por hectare.

A agrônoma Gabriela Stefanello, filha do dono da fazenda Cinco Estrelas, João Carlos Stefanello, explica que, apesar de ter uma baixa produtividade em relação à plantação da soja e do milho, os custos não são elevados.

“A plantação de girassol é diferente do milho e da soja, a produtividade é baixa, porém os custos também são menores e extrai menos nutrientes da terra, é de fácil manejo e baixo investimento. Então, o próximo cultivo pode pesar um pouquinho menos na adubação. Melhora o aproveitamento da mão de obra da propriedade e da capacidade ociosa da indústria de extração”, destaca.

Importação 

Formada em agronomia, Gabriela conta de onde vem as sementes dos girassóis e defende que o setor precisa ter mais investimentos em pesquisa.

“As sementes são importadas da Argentina, aqui não tem muita pesquisa sobre o cultivo dos girassóis, multiplicações das sementes é preciso ter mais investimentos em estudos. Muitas vezes, o agricultor tem que fazer a pesquisa com seu próprio dinheiro. Por exemplo, a soja e o milho têm um monte de setores de pesquisa, agora girassol, para quem se liga, para ter uma noção de espaçamento da semeadura?”, questiona.

Sobre a importação, houve dificuldades no período da pandemia, pois as fronteiras ficaram fechadas. “Tivemos dificuldades, porque, com a covid-19, as fronteiras ficaram fechadas e não conseguíamos trazer o produto da Argentina. Agora, já está normalizando. Com a guerra da Ucrânia, o adubo passou a ficar mais caro. Ano passado, mesmo, chegamos a pagar quase R$ 7 mil no produto. Então, o agricultor foi muito penalizado porque teve insumos que aumentaram 300%”, completou.

Fazenda Cinco Estrelas 

Inspirada pela vida no campo do pai, o agricultor João Carlos Stefanello, Gabriela Stefanello mergulhou nesse universo verde e rico da agricultura. A fazenda Cinco Estrelas é uma de suas propriedades, em Mato Grosso do Sul, que ficou famosa pelo “mar de girassóis” que se forma, nessa época. Trabalhando ao lado do pai há 12 anos, Gabriela compartilhou com O Estado um pouco da história da família e sobre os desafios com o cultivo do girassol.

“Meu pai nasceu em uma fazenda e é de uma família de produtores, no Rio Grande do Sul. Além da plantação de girassol, também plantamos soja e milho. Com o girassol se faz produtos bons, mas tem um mercado bem restrito. O nosso girassol não é para produção de óleo justamente porque, aqui no Estado, ninguém produz, o nosso é para pássaro e alimentação humana, um nicho considerado pequeno”, lamenta.

Por lá, atualmente, estão plantados 156 hectares de sementes de girassol. A colheita será na segunda quinzena de outubro, depois de beneficiada no armazém, tirando as sujeiras e vendendo a produção para São Paulo. “Estamos trabalhando com uma expectativa de colher uns 90 quilos por hectares, é uma produção boa”, disse.

Para aqueles que pretender conhecer a “fazenda dos girassóis” e registrar belas fotos, a família Stefanello deixa um recado. “Nós gostamos muito quando, nessa época, os girassóis florescem e as pessoas vão lá visitar e tirar fotos. A plantação se tornou também um ponto de encontro das araras, e isso é a natureza. Por que o que se pensa é que a agricultura agride o solo, e não, nós trabalhamos para cuidar dele, até porque sem um solo bem conservado, a gente não produz. Com essas visitações, as pessoas percebem que o agro faz parte da nossa vida”, conclui.

Girassol no mercado brasileiro 

Ainda de acordo com a pesquisadora da Embrapa, Regina Maria Villas Boas, a soja ainda é o principal grão que leva o país a ter potencial. “O Brasil é autossuficiente para atender o mercado interno. O país é um expressivo importador, com compras na casa de 53,7 mil toneladas do produto, no último ano”, explicou.

Ainda conforme Regina, a semeadura é feita logo após a colheita da soja, no verão, entre fevereiro e março. “A época de semeadura do girassol deve ser adequada às exigências climáticas da cultura, para favorecer seu estabelecimento, desenvolvimento e a expressão máxima de todo seu potencial genético”.

A pesquisadora da Embrapa pontua a quantidade de quilos colhidos da plantação, para que se garanta lucro. “O custo de produção de uma lavoura de girassol, de uma forma geral, equivale a uma produção de mil quilos de girassol por hectare. Então, o que se produzir acima de mil quilos já está tendo o pagamento dos custos de produção e está tendo a média de produtividade. No Brasil, varia em torno de mil e quinhentos quilos de girassol por hectare”, finalizou.

De acordo com dados da Embrapa, o girassol é principalmente cultivado no mundo como fonte de óleo comestível, sendo a terceira cultura anual com maior produção de óleo no mundo.

Entre as culturas anuais, o girassol é responsável por 16% da produção mundial de óleo, enquanto a soja atende 46% da produção. Por outro lado, considerando-se as principais culturas produtoras de óleo (culturas anuais e perenes), o girassol responde por 9%, logo após a palma de óleo (dendê) com 35%, a soja com 26% e a canola, com 15%.

Segundo o Boletim da Safra de Grãos, divulgado pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), em agosto, para a safra 2022/2023 é esperado 55,7 mil hectares de girassóis, no Brasil. Em relação à produtividade, a projeção é de 1.558 kg por hectare. A produção deve ficar em 86,8 millhões de toneladas.

Por Suzi Jarde – Jornal O Estado de Mato Grosso do Sul.

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