Edital para artistas regionais do Festival de Inverno de Bonito 2023 causa imbróglio, segundo representantes da classe artística

Foto:O Festival
O FIB 2023
acontece nos
dias 23 a 27
de agosto, com
um investimento
de quase R$
7 milhões, do
Governo do Estado/Reprodução
Foto:O Festival O FIB 2023 acontece nos dias 23 a 27 de agosto, com um investimento de quase R$ 7 milhões, do Governo do Estado/Reprodução

O FIB 2023 (Festival de Inverno de Bonito) foi oficialmente lançado no dia 3 de agosto, mas a programação divulgada ainda não tem as apresentações dos artistas regionais. Segundo informações apuradas pela reportagem, a seleção pública realizada pela FCMS (Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul) foi lançada pela primeira vez em 7 junho e, por solicitação de artistas regionais, foi encerrada. O edital em questão contemplava as categorias: música, teatro, circo, dança, audiovisuais, cultura urbana, moda e artes visuais; e foi classificado pelos artistas “com burocracias excludentes e remunerações defasadas”. A data de realização do festival, que acontece no mesmo fim de semana do aniversário de Campo Grande, também foi outro fator considerado prejudicial. Em seguida, uma segunda proposta foi disponibilizada pela OSCIP (Instituto de Cultura e Desenvolvimento Solidário Máxima Social) por meio da FCMS, que encerrou as inscrições nesta quinta- -feira (10) e terá os selecionados divulgados no dia 15 de agosto, a apenas uma semana do evento, em Bonito. O FIB acontece nos dias 23 a 27 de agosto, com um investimento de R$ 6.765.000,00 (Seis milhões, setecentos e sessenta e cinco mil reais) do Governo do Estado, que promove o primeiro festival da nova gestão, que será organizado e realizado pela Setescc (Secretaria de Estado de Turismo, Esporte, Cultura e Cidadania), por meio de sua Fundação de Cultura. 

Mesmo com alguns reajustes, representantes da classe artística seguem reivindicando melhorias nas execuções dos editais, que, segundo eles, há quase duas décadas estão sem contemplar as solicitações da classe. O produtor cultural e campo- -grandense Ályson Jordan Ladislau Gamarra, o Aly, que é coordenador do Colegiado da Música, explica que a insatisfação dos artistas não iniciou com o edital do FIB 2023, porém foi uma influência forte para a mobilização, pois há anos os editais do Estado seguem a mesma estratégia administrativa. Inscrições com exigências que inibem uma participação democrática e remunerações que não correspondem à demanda dos trabalhos realizados, são alguns dos fatores pontuados pelo produtor. “Os festivais seguem planilhas de execução muito parecidas há quase duas décadas e, na prática, não conseguem beneficiar o setor cultural da forma que a classe artística entende ser possível. Cachês defasados e critérios excludentes são apenas dois pontos entre vários, que não contribuem para uma participação justa. A respeito do edital original, não acredito que tenha sido lançado com uma falha burocrática, mas por um entendimento da gestão à época, sobre o modelo de edital e valor de cachê que entendiam ser apropriados para artistas regionais”, afirma Ályson. 

Outra insatisfação foi a data do festival, que foi alterada de junho para agosto. A decisão pela troca foi realizada em uma audiência pública, em Bonito. De acordo com Álysson, a preferência pela data contribui para manter a estabilidade do fluxo turístico em Bonito. O produtor cultural ainda acrescenta que há o percalço de dois festivais estarem acontecendo na mesma data, além do Festival de Inverno é realizado o Reviva + em comemoração ao aniversário da Capital. “Segundo a organização local em Bonito, esta data contribui para manter o fluxo de turismo alto por mais tempo. Porém, em minha visão, o setor artístico perde um pouco por não ter o número máximo de turistas, como nos períodos de junho a julho. Neste ano, tem o agravante do ‘Festival Reviva Mais Campo Grande’, que acontece nas mesmas datas, impedindo que artistas participem das duas festividades. Outro ponto negativo é a escassez de equipe técnica, que estando envolvida com a realização de um dos eventos, não dá conta de atender ao outro, prejudicando a melhor entrega das propostas”, declara.

O secretário de Turismo, Esporte, Cultura e Cidadania, Marcelo Miranda, concorda que as datas precisam ser revistas para o ano que vem, mas afirma que a decisão pela realização do Festival de Inverno de Bonito em agosto foi uma decisão democrática. “O festival é previsto em lei com a realização em julho ou agosto. Foi promovida uma audiência pública em Bonito, com participação ampla da comunidade, dos empresários e gestores e, de forma democrática, eles sugeriram essa data, pois julho é alta temporada. Porém, concordo que a concomitância com o aniversário de Campo Grande é um dos pontos a rever para o ano que vem”, afirma. Quanto aos apontamentos e solicitações feitas sobre o edital regional do FIB 2023, o secretário declara que a fundação tem passado por um momento de adequação, mas pressupõe que reajustes podem ser feitos a partir da conferência estadual, prevista para setembro. “Estamos passando por uma reestruturação na fundação e essas ‘adequações’ são parte do processo. Atendemos ao pedido do fórum e dos colegiados e corrigimos o que foi possível no edital. Temos muito a ajustar e acredito que conseguiremos, a partir da conferência estadual e da reformulação do plano de cultura, previsto para ser realizado a partir de setembro. O diálogo é importante”, pontua.

Colegiados consultados 

A produtora cultural e uma das coordenadoras executivas do Fórum Estadual de Cultura de MS, Caroline Garcia, concorda que os valores do primeiro edital vieram desproporcionais e que, após as retificações, foram organizadas reuniões para que a solicitação, incluindo a burocrática, fosse resolvida. “Os colegiados foram consultados e apresentaram seus parâmetros de valor para que a fundação pudesse utilizá-los e chegar a um valor médio e justo de ser apresentado. Outra solicitação, como a ampliação vagas de algumas áreas, também foi discutida, corrigindo assim os problemas levantados e reduzindo a questão burocrática, no que é possível. Por o chamamento ser via OSCIP, foi possível de atender, porém, o prazo restante para essas inscrições, realmente, diminuiu muito”, declara a coordenadora.

Sobre as resoluções a respeito dos cachês, a coordenadora acredita que realizar uma pesquisa de valores no Estado a respeito do setor cultural pode ser uma ação efetiva, pois assim seria possível estabelecer cachês que fossem adequados à realidade sul- -mato-grossense. “Precisamos criar, em âmbito estadual, algum modelo de pesquisa de valores”, pondera. Apesar dos percalços, Ályson ressalta a importância da união artística em busca dos direitos da classe, e que o investimento e ações desenvolvidas pelo governo são fundamentais para a construção e valorização da cultura e arte regional. “Graças  

à mobilização coletiva, foi possível conquistar esse reajuste para quem irá se apresentar. É preciso que o Estado olhe para o setor cultural com respeito e orgulho dos valores simbólicos e econômicos que podemos produzir. Por isso, defendo política pública para desenvolvimento de projetos de formação, criação e circulação. Com o passar do tempo e com maturidade adquirida, proveniente de mais recursos nos lugares certos, o setor pode se desenvolver e gerar condições dignas para toda a classe, dos bastidores às estrelas”, destaca o produtor.

Selecionados serão publicados no dia 15 Confi ra alguns valores pagos por apresentação

 

Foto: Reprodução

 

Segundo o edital, para a área da música serão selecionados artistas para o Palco das Águas, Balneário e o Circuito Comunidades, os cachês variam de R$ 12.000,00 a R$ 3.000, o valor bruto. Já no teatro serão selecionados quatro espetáculos, em grupo de até oito integrantes, com estrutura de iluminação cênica definida pela OSCIP e será pago por uma apresentação o valor bruto de R$ 8.000,00.

Para o circo, os espetáculos com no mínimo 30 minutos de duração de artistas solos e/ ou grupos, com até oito integrantes, tem o valor bruto de R$ 8.000,00 para uma apresentação. Para a dança são quatro vagas e será pago por uma apresentação o valor bruto de R$ 8.000,00.

No audiovisual, será selecionado curta-metragens, com no máximo 20 minutos de duração, para exibição ao ar livre e/ou similares. Será pago por uma exibição o valor de R$ 3.000,00. 

Serão selecionados dez profissionais da área de moda, com criações autorais, para exposição no estande do “Espaço Criativo” – Economia Criativa – destinado à moda, com a possibilidade de comercializar os produtos e, participação no “Desfile das Marcas” – sendo obrigatória apresentação da coleção 2023. O valor é de R$ 4.000,00 por toda a participação nos eventos da moda.

Na categoria Cultura Urbana, serão selecionadas uma apresentação com no mínimo 30 minutos de duração de grupos com até seis integrantes. Serão selecionados dois grupos, para realizar duas apresentações cada grupo, totalizando quatro apresentações de performance. Será pago, por uma apresentação, o valor bruto de R$ 4.000,00, por apresentação, da performance.

Serão selecionados 10 profissionais de artes visuais; formato das artes visuais: desenho, pintura, gravura, escultura, fotografia, arte digital, arte objeto, vídeo arte, sendo o cachê para cada artista de R$ 3.000,00.

Por  Ana Cavalcante e Kátia Kuratone 

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