Dólar pressiona queda no preço dos insumos

Agricultura
Foto: Agricultor Álvaro Henrique, em propriedade de Ponta Porã/Arquivo pessoal

Conforme Aprosoja, fertilizantes tiveram retração de 48% em junho deste ano

Com a queda do dólar, a tendência é que o preço dos insumos na agricultura também sigam os mesmos passos. Desde o começo do mês passado, a moeda norte-americana tem oscilado e se mantido abaixo dos R$ 5. Na sessão de ontem (27), encerrou com alta de 0,65%, cotado a R$ 4,75.

Conforme boletim da Aprosoja/MS (Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso do Sul), o preço médio dos fertilizantes teve queda de 48%, se comparado junho deste ano com o mesmo período do ano passado. O MAP (fosfato monoamônico) saiu de R$ 5,2 mil para R$ 3,6 mil, queda de 30%; o KCL (cloreto de potássio), saiu de R$ 6,2 mil para 2,7 mil (-56%); e o NPK (nitrogênio, fósforo e potássio) de R$ 6,9 mil para R$ 2,9 mil (-58%).

Em nota, a associação informou que o movimento de redução do dólar impacta diretamente no preço de importação de insumos para a produção de soja e milho, como no caso de fertilizantes. Porém, o novo anúncio de aumento da taxa de juros americana pode impactar no movimento dos investidores na Bolsa de Valores e provocar modificações no câmbio.

O outro lado 

Por outro lado, existem fatores que podem impulsionar o preço. Ainda conforme a Aprosoja, a redução na despesa de custo das lavouras como reflexo das tensões do mar Negro e efeitos climáticos na safra americana podem garantir uma maior demanda pela produção brasileira de soja e milho, que deve ser impulsionada por um custo de produção reduzido.

Na visão do economista do Sindicato Rural de Campo Grande, Staney Barbosa, o momento pode não ser oportuno.

“Considero que a queda do dólar pode ser ruim ou benéfica ao produtor rural, mas depende do momento e conjuntura do mercado. Neste momento, não é ideal, já estamos sendo penalizados internamente. Mesmo que o produtor rural aproveite o momento para adquirir insumos, poderá incorrer em novas quedas e, consequentemente, mais prejuízos. O que o mercado busca agora é entender para onde vai esse dólar, só assim será possível pensar em um planejamento adequado para a próxima safra”, destacou.

Ele lembra ainda que, desde o início de junho, o dólar vem apresentando uma tendência de queda que está preocupando muito o setor agropecuário. 

A expectativa para este ano é que o Brasil entregue ao mundo a maior safra de grãos de sua história, cerca de 317,6 milhões de toneladas de grãos. Toda esta produção, somada a questões estruturais do nosso modelo logístico, fez com que os preços da soja e do milho despencassem internamente, conforme Staney explica.

Com a queda do dólar caem também os ganhos relativos da atividade, pois boa parte das receitas do agronegócio brasileiro depende fundamentalmente do câmbio e dos preços internacionais das commodities.

“Este quadro nos leva a outra questão. Boa parte dos insumos que foram utilizados na safra foram adquiridos a preços maiores do que os que estão sendo praticados atualmente, ou seja, o produtor pagou mais caro para plantar e irá receber menos por sua produção”, completou.

Apreensão

O agricultor e empresário, Álvaro Henrique Mello de Souza, que possui terras localizadas na região fronteiriça, em Ponta Porã – Região Capei e Cabeceira do Apa –, acredita que o momento é de apreensão. “Nós configuramos uma produção de quase 150 milhões de soja e este número é 50% maior que a produção da safra brasileira de 2015-2016, então o mercado, em um momento, iria ter recuperação de estoques”, argumenta o produtor. 

Ainda de acordo com Álvaro, somente agora, em 2023, o mundo está se estabilizando, em termos de produção. “Ainda é lenta a estabilidade, basta ver os números norte-americanos e europeus. Passamos por instabilidades geopolíticas, como o caso da guerra da Ucrânia, isso influencia a procura da soja e aponta para uma tendência de queda no mercado. Como consequência, traz um achatamento da margem do produtor, pois soja e milho caíram de maneira drástica, o milho caiu mais de 50%”, avalia o agricultor. 

Histórico do dólar 

O dólar iniciou o ano em alta. No dia 2 de janeiro, a moeda norte-americana encerrou o dia a R$ 5,35, representando uma elevação de 1,51%. Até o momento, de janeiro a julho, contabiliza 69 aumentos. Desde o começo do ano, somente em janeiro e julho que o dólar permaneceu por quatro dias em elevação. Por outro lado, a primeira queda ocorreu logo no dia 5 de janeiro, quando saiu de R$ 5,45 do dia anterior e voltou para R$ 5,35 (1,85%). Ao todo, já foram 73 retrações. Em março, a moeda chegou a manter queda por seis dias seguidos; depois, em maio e junho, foram cinco dias consecutivos de queda.

Reflexo econômico 

O professor do curso de Economia da UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados), Enrique Duarte Romero, avalia o cenário de maneira positiva. “Isso permitirá o barateamento dos custos de produção, porque serão produzidos a um custo menor do que estavam quando da desvalorização da nossa moeda, o real. O agro, por exemplo, teve o maior Plano Safra, que são créditos acessíveis para o setor, até mesmo para o pequeno agricultor. Já os consumidores tendem a ganhar com preços estáveis e previsíveis, isso permite uma expectativa melhor. Na economia, expectativas positivas são muito relevantes, porque possibilitam mais investimentos”, explica. 

O economista Eugênio Pavão complementa que a queda da moeda americana traz boas notícias para o controle da inflação brasileira. Produtos importados como insumos, grãos, remédios e trigo, a exemplo, são prováveis de sofrerem queda nos preços por terem componentes importados. “Para o final do ano, a expectativa é de crescimento do consumo graças à queda da inadimplência (renegociações) e crescimento do PIB. Pelo lado da política fiscal, o aumento das importações vai reduzir o superávit comercial do Brasil”, avalia o especialista.

Foto: Arquivo pessoal

Agronegócio e PIB 

O setor do agronegócio movimenta pelo menos 24,5% de toda a economia brasileira, conforme dados levantados pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada – Esalq/USP), em parceria com a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil). 

De acordo com o levantamento, somente no primeiro trimestre de 2023, o PIB do agronegócio brasileiro apresentou avanço de 0,19%. No ramo agrícola, o avanço foi de 0,66%, partindo do segmento primário da agroindústria e agrosserviços – o setor de insumos recuou, pressionado pela desvalorização dos fertilizantes e defensivos. Produtos como algodão, café, tomate, milho, soja, trigo, cana, cacau, banana e batata sofreram queda nos preços, ao passo que o crescimento foi sustentado pela expectativa de uma safra recorde de grãos no campo e de maiores produções no cultivo de café e cana-de-açúcar.

Já o ramo pecuário sofreu queda, representando -1,09% e sob influência de baixas observadas em todos os quatro segmentos – insumos, primário-agropecuária, agroindústria e serviços. No caso dos insumos, por exemplo, o desempenho negativo foi impactado, sobretudo, pelos menores preços das rações e dos medicamentos veterinários. Para o segmento primário pecuário, a retração ocorreu pelo menor valor bruto da produção esperado para o ano, mesmo em um cenário de certo alívio dos custos com insumos.

A queda do valor da produção refletiu os menores preços de bovinos e aves de corte, uma vez que se projeta a expansão de produção para todas as atividades pecuárias acompanhadas – exceto o leite. Na agroindústria pecuária, apesar da maior produção estimada de carnes para o ano, o PIB também foi pressionado pelo comportamento desfavorável dos preços da carne bovina e dos couros bovinos. 

Em contrapartida, o que favoreceu a projeção crescente do PIB no segmento de agronegócio foi a redução dos preços de fertilizantes e defensivos frente a 2022. Na indústria, o PIB cresceu devido a uma redução de custos dos insumos, tendo em vista que a produção industrial registrou queda modesta e os preços dos produtos, que também cairam – com destaque para o etanol, madeira e café industrializado.

Por – Julisandy Ferreira  

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