Dia Nacional do Escritor

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Em homenagem à data comemorada hoje, autores falam sobre a arte de escrever e o cenário literário

Nesta terça-feira (25), é comemorado o Dia Nacional do Escritor, de acordo com a iniciativa instituída pela União Brasileira de Escritores, em 1960. Desde então, em comunhão com a data, são organizados nacionalmente eventos e celebrações que buscam valorizar autores da literatura brasileira. O jornal O Estado, em homenagem aos profissionais da arte literária, foi conversar com Raquel Naveira, Américo Calheiros e Sylvia Cesco sobre o percurso da literatura regional.

‘Os deslimites da palavra’ 

“Quem lê e/ou quem escreve mantém preservada sua capacidade de sonhar, de rir, de ser generoso e de compartilhar sentimentos. Quem lê e/ou escreve não perde sua capacidade de se indignar diante das injustiças sociais, que é algo que o mundo está precisando muito”, afirma Sylvia Cesco, ex-presidente da UBE-MS (União Brasileira de Escritores do Mato Grosso do Sul). Iniciar a matéria do Dia Nacional do Escritor com as palavras de Sylvia, uma entre tantas escritoras que Mato Grosso do Sul possui, é um ônus de muito prazer. Escritora e colunista, a autora conta que a literatura é uma influência necessária e positiva para a vida de todos, e que a sua jornada com as letras começou logo na escola.

“Sempre gostei muito de escrever. Fui aluna durante sete anos no colégio estadual e no curso de letras da faculdade da professora Maria da Glória Sá Rosa, ícone cultural deste Estado, que reconheceu em mim essa facilidade de criar textos literários, sob forma de poesia, conto ou crônica”, explica Sylvia. Após o incentivo de Glorinha, como era carinhosamente chamada e também de outras amigas, publicou, em 2011, seu primeiro livro: “Guavira Virou”. A escritora também declara, enquanto recordava as diversas obras de sua autoria publicadas, o livro que organizou em celebração à Glorinha. “Em homenagem à Maria da Glória, organizei o livro de crônicas e contos: ‘A Glória Desta Morena’, com textos inéditos que ela havia deixado antes de falecer e que contou com a participação de vários escritores”, relembra.

Sylvia ainda ressalta a importância dos incentivos culturais promovidos pelo município e pelo Estado, contudo, reitera que a demanda de arte da região é muita e de qualidade, por isso precisa de mais atenção e fomento. “O incentivo está vindo dos recursos do FIC (Fundo de Investimento à Cultura) e do FMIC (Fundo Municipal de Incentivo à Cultura). “Evidentemente que tais recursos são dirigidos a vários setores culturais além da literatura, como teatro, artes plásticas, cinema, audiovisual, música, dança… o que está correto; no entanto, a demanda ainda é grande, pois nosso Estado de MS, sem dúvida, é uma fonte inesgotável de talentos culturais, incentivados e valorizados pelas diversas instituições culturais, universidades e grupos autônomos que fazem e respiram cultura. Mas as grandes empresas, aqui instaladas, também poderiam olhar esse setor com mais atenção”, define a autora.

A paixão pelo fazer poético 

Para Raquel Naveira, formada em direito e letras, “A literatura traz conhecimento, companhia, lampejos e revelações que nos iluminam. É um dom, uma vocação, uma paixão”, comenta a professora, docente universitária por mais de 40 anos e colunista semanalmente em periódicos de O Estado. Apesar de uma extensa carreira universitária, a escritora é uma literata de coração, contendo mais de trinta obras publicadas, como afirma Raquel. “Tenho mais de trinta livros publicados, nos gêneros, poesia, ensaios, crônicas, romance e infanto-juvenis. Uma produção bastante grande, numa vida dedicada à literatura.”

Quando questionada sobre o cenário regional, Raquel comenta que os eventos e incentivos que tem acontecido na cidade são de suma importância, pois são eles que abrem oportunidades para que novos escritores apareçam e se encantem com a literatura. “Há, sim, uma vida literária e incentivos interessantes aos escritores. Muitas pessoas escrevendo, publicando, estudando letras, apaixonadas pelo fazer poético.” A escritora também fala sobre o contentamento por ter uma de suas obras indicadas como leitura obrigatória em um vestibular e comenta sobre outras premiações que são incentivos para a produção literária.

“Estou feliz com a indicação de meu livro ‘Fiandeira’ como leitura obrigatória para o vestibular 2024 da UFMS. Agora, no dia 7 de agosto, também receberei o Prêmio de Melhor Livro de Crônicas com o ‘Mundo Guarani: Fragmentos de uma Alma da Fronteira’, que saiu pela editora Almedina (Brasil/ Portugal). O prêmio foi concedido pela União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro. O tempo é bastante lento para os autores e os desdobramentos dos livros. Eles têm destinos misteriosos”, comenta Raquel.

E recomenda como celebração ao Dia do Escritor, a ida ao IHGMS (Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul) e as crônicas escritas por Américo Calheiros. “Inclusive, recomendo fazerem uma visita ao Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul e conhecerem a história de Campo Grande, nesse mês de agosto, em que comemoramos a sua fundação. Em conjunto, que leiam uma série de crônicas cheias de amor por esta cidade que Américo Calheiros escreveu.”

Américo Calheiros é professor, escritor e teatrólogo e diz que, apesar de haver muitas conquistas a serem efetivadas, está muito otimista com o atual cenário literário, no Estado. “Fico muito feliz ao ver, inclusive crianças, publicando seus textos e as escolas do ensino fundamental querendo ouvir os escritores regionais e estimulando seus alunos a escreverem. É um quadro bastante alvissareiro, embora haja muitas conquistas a serem efetivadas como, por exemplo, aproximar mais o grande público sul-mato-grossense da leitura, principalmente das obras regionais”, comenta. Acrescenta o autor, como sugestão de leitura, em homenagem ao Dia do Escritor: “Recomendo, em especial, a leitura dos nossos escritores regionais, que são os grandes contadores das nossas histórias e importantes consolidadores da nossa identidade”.

‘O que eu queria era fazer brinquedo com as palavras’ 

Nesta terça, a “Casa do Poeta das Coisas Desimportantes”, como diz a recepção da “Casa-Quintal de Manoel de Barros”, abre as portas para a voz da cantora Alzira E, que apresentará o show “Rio de Manoel”. Transformado em centro cultural no dia 19 de outubro de 2022, o espaço dispõe de uma exposição com objetos pessoais do poeta, desenhos, cartas trocadas pelo escritor com amigos e uma caderneta com um poema nunca publicado. Com o show “Rio de Manoel”, Alzira E também apresenta um repertório novo, cantando, pela primeira vez, a música homônima ao evento e canção inédita, em parceria com o poeta. Em conjunto, apresenta composições realizadas com a poetisa Alice Ruiz e a música dedicada ao poema “Rio Vermelho”, de Cora Coralina.

O evento vai começar às 19h30 e os ingressos podem ser retirados no site sympla.com.br. O perfil no Instagram @casaquintalmaoneldebarros fornece mais informações sobre o centro cultural onde o poeta corumbaense transformou palavras em brinquedos, como escreveu em um trecho do “Livro Sobre Nada”. As poesias do escritor são marcadas pela realidade imediata que o cercava, especialmente, a natureza. “Quando as aves falam com as pedras e as rãs com as águas – é de poesia que estão falando.” O “Quintal” está localizado na rua Piratininga, 363, bairro Jardim dos Estados.

Em Campo Grande, a vida literária tem sido bem movimentada, seja por iniciativas corajosas de livrarias independentes ou de escritores de gerações distintas que, com a escrita literária, seguem possibilitando o acesso a outros mundos e questionando certezas. Para os leitores curiosos com o cenário literário da capital, vamos deixar algumas sugestões de perfis no Instagram de escritores e de livreiros independentes da cidade.

“Histórias de Dona Menina” e “Um Palmo e Meio de Proseio” são algumas das publicações escritas por Sylvia Cesco que podem ser encontradas em @ cescosylvia. Na Casa do Artesão, está disponível o livro “Cara a Cara com Campo Grande”, de Américo Calheiros. Em @americocalheiros, “Poesia para que Te Quero” e o restante de sua vasta publicação também podem ser compradas. Publicações de Raquel Naveira, como “Tecelão de Tramas”, “Álbuns de Lusitânia” e outras obras da autora podem ser adquiriras no site das editoras Penalux, Life e lme – dina. Pelo @hamorlivraria podemos acompanhar a programação de uma das charmosas livrarias independentes da cidade. Em contraposição ao mercado editorial, o casal de livreiros compõe seu catálogo com títulos que não eram encontrados na cidade, além de promover eventos dos lançamentos de escritores da cidade.

E como disse Américo Calheiros: “Ler é viajar em novos universos. É conhecer novos seres, novas vidas e infinitas possibilidades de descortinar as distintas personalidades e facetas humanas. Assim, na natural imersão nessas histórias e em suas peculiaridades é possível avaliar a si próprio e ser impulsionado a mudanças, por que não?”

Por – Ana Cavalcante 

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