Após 29 anos, o Plano real chega a sua superinflação de 82,39%

Fotos: Nilson Figueiredo
Fotos: Nilson Figueiredo

Em 29 anos, real ‘acabou’ com a superinflação, que já chegou ao patamar de 82,39% em um mês

Se hoje, a inflação acumulada em 3,94% nos últimos 12 meses já é motivo de “desespero”, imagina em março de 1990, quando o Brasil chegou ao patamar de 82,39%. A chave muda quando o real começa a circular no dia 1° de julho de 1994, há 29 anos.

O Plano Real foi o mais engenhoso e exitoso plano de estabilização de preço já posto em prática na economia brasileira. Conforme dados do Banco Central, em 1993, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) atingiu acumulado de 2.477,15%. Em abril de 1994, três meses antes da criação do plano, a inflação chegou a 42,68%. Logo em agosto do mesmo ano, o índice caiu para 1,86%.

O economista Odirlei Fernando Dal Moro, que também é professor da Esan (Escola de Administração e Negócios) da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, compara as diferenças de época. “Sobre os preços, houve uma queda de inflação atingindo o mínimo histórico de 1,7%, em 1998. Todavia, no primeiro ano do real como moeda, a inflação acumulada pelo IGP foi de 33%, ou seja, um patamar elevado para os padrões atuais, mas uma taxa baixa, comparado aos quase 2.500% do ano de 1993. De todo modo, na estabilidade dos preços repousa, sem dúvida, os melhores resultados do Plano Real”, destacou.

Em relação às atividades econômicas, a economia brasileira mostrou um crescimento econômico abaixo do ideal nos primeiros anos do Plano Real, tendo como principais resultados o aumento da taxa de desemprego e, consequentemente, o aumento da informalidade. “Entre os anos de 1994 e 2003, a taxa de desemprego cresceu na economia brasileira, muito em função das políticas fiscais e monetárias restritivas do plano e necessário ao processo de estabilização”, completou o economista.

Sobre o poder de compras, Odirlei destaca que melhorou, se comparado aos anos anteriores. “A inflação é um movimento natural dos preços, na economia e é preciso analisar o poder de compra das pessoas. Em 1995, o salário-mínimo era de R$ 112 ou equivalente a US$ 112, se considerarmos uma taxa de câmbio de um por um. Atualmente, o salário mínimo é de R$ 1.320, o equivalente a US$ 272. Portanto, creio que o poder de compra das pessoas melhorou significativamente, nos últimos anos. Embora precise melhorar, já tivemos momentos piores”, enfatizou. 

 

Pontos positivos e negativos

Segundo análise do Banco Central, antes do real, a inflação era descontrolada e tinha aumento da desigualdade social. Depois da chegada do plano, a desigualdade reduziu; o mercado de crédito se fortaleceu; houve promoção da cidadania financeira, dentre outros pontos positivos.

A estabilização de preços foi fundamental para melhorar a vida das pessoas. Pois, antes do real mais da metade dos brasileiros viviam na pobreza e muitos deles abaixo da linha da pobreza. Com isso, o Plano Real foi essencial para tentar manter uma igualdade. “Com a estabilização e o  ganho real de compra, a taxa de pobreza caiu para perto de 33%, que é um número ainda elevado, mas menor que o anterior. Esse percentual se manteve nos primeiros anos do real, mostrando que estabilidade de preços é necessária, mas não suficiente”, relembra o economista.

Por outro lado, Odirlei relata que mesmo com a criação do Plano Real, houve aumento no desemprego. “Já os impactos negativos foram em relação do Plano Real não promover o crescimento econômico esperado, pois houve aumento do desemprego e da informalidade, assim como também dificuldades em manter as contas externas equilibradas. Os juros elevados e a expansão da dívida pública são as heranças mais questionáveis”, disparou

 

Melhorias no comércio

Na avaliação do vice-presidente da Associação Comercial e Industrial de Campo Grande, Omar Aukar, o Plano Real trouxe efeitos de suma importância para o país e a partir disso foi possível planejar a abertura de empresas. “Com o plano, foi possível saber quanto efetivamente iria se gastar, qual seria o retorno do empreendimento. Tudo fez com que o Brasil pudesse iniciar uma nova fase na vida econômica.”

“Desta forma, os empresários puderam ter um chão para pisar, quando se trata de planejamento, para que eles pudessem planejar a abertura de novas empresas, calcular o retorno do investimento e, a partir daí, gerar novos empregos e fazer com o que a máquina da economia voltasse a girar novamente, do lado positivo do Brasil”, reforçou o vice-presidente. Além disso, Omar entende que o Plano Real foi o ponto de partida para que houvesse uma inflação e uma economia estável e que permitisse, a partir de então, ter planejamento. “Era possível planejar tudo o que se desejava fazer dentro do empreendimento e ver os lucros mas, principalmente, o Plano Real acabou gerando ganhos às classes menos favorecidas, pois, como o dinheiro passou a ter valor e na época, inclusive, tinha uma qualidade de um para um do real. As classes mais humildes começaram a planejar as contas familiares e puderam se alimentar melhor e consumir mais nas compras de eletrodomésticos, imóveis, entre outros”, concluiu.

 

Família do real

O Plano Real começou a ser “desenhado” em 1993, mas começou a circular no dia 1° de julho de 1994. O planejamento teve três fases. Primeira: buscar equilíbrio das contas do governo, como, por exemplo, reduzir os gastos públicos, tais como revisão de orçamento de todos os ministérios e dos repasses institucionais para Estados e municípios.

Na segunda fase houve a utilização da moeda virtual (escritual), a URV (Unidade Real de Valor) utilizada a partir de 1º de março de 1994, junto com o cruzeiro real. Ela era uma unidade de conta e não podia ser usada como meio de pagamento A URV deveria ser usada nos novos contratos firmados no Brasil, enquanto os já existentes poderiam optar ou não pela conversão. Por fim, a terceira e última fase começou no dia 1° de julho, quando a URV foi transformada no real, uma moeda strictu sensu. Um real valia uma URV, ou CR$ 2.750.

Para manter o controle, foi estabelecido um teto para a taxa de câmbio e foram fixados limites máximos para o estoque de base monetária, até março de 1995.

O Banco Central, em conjunto com a CMB (Casa da Moeda do Brasil), desenvolveu projetos gráficos para as cédulas nos valores de 1, 5, 10, 50 e 100 reais e para as moedas de 1, 5, 10 e 50 centavos, além de 1 real. 

A cédula de R$ 1, que já não existe mais, tinha gravura da cena de um beija-flor alimentando filhotes em seu ninho. A de R$ 5 seria representada por uma garça; a de R$ 10, por uma arara. Na de R$ 50, o animal escolhido foi a onça-pintada, ameaçada de extinção, mas ainda encontrada na Amazônia e no Pantanal.

A cédula de R$ 100 tem a imagem de uma garoupa, um dos peixes marinhos mais conhecidos, encontrados nas costas brasileiras. Em 2001, o real passou a ter também cédulas de R$ 2 e de R$ 20, tendo como figura a tartaruga marinha e o mico-leão-dourado, respectivamente.

Todas elas têm padronização de um anverso, com a efígie da República e cores diferenciadas por valor. No reverso, a escolha por animais presentes na fauna brasileira. A primeira família do real foi lançada em 1994, ao substituir o cruzeiro real. A segunda família, lançada em 2010, representa a evolução do real.

Atualmente, a cédula de R$ 1 não existe mais. Já a nota de R$ 200 completa dois anos no dia 2 de setembro, mas pouca gente viu.

Antes de o real chegar ao Brasil, o país teve outras tentativas de estabilização que foram – Plano Cruzado (1986); Plano Bresser (1987); Política Feijão com Arroz (1988); Plano Verão (1989); Plano Collor 1 (1990) e Plano Collor 2 (1991-1992). 

Sendo assim, o Plano Real foi à sétima tentativa de estabilidade implementada na economia brasileira durante o mandato do ex-presidente, Itamar Franco, que tinha, como ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso. 

 

Divulgação

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[Marina Romualdo- O ESTADO DE MS]
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