Esse quantitativo, segundo o novo superintendente da PRF/MS, se dá pelo trabalho desenvolvido e pela localização geográfica do Estado
À frente da PRF /MS (Polícia Rodoviária Federal em Mato Grosso do Sul), desde o início do mês de março de 2023, o inspetor João Paulo Bueno tem como um dos principais objetivos manter a força policial mais próxima à população, honrando o título de polícia cidadã, coisa que a corporação já tem se comprometido a fazer.
Mesmo com os desafios diários e sendo um dos Estados onde mais se realiza apreensão de drogas do país, Bueno afirma que este não é o único papel do efetivo da PRF em Mato Grosso do Sul. “Nós somos atuantes no trânsito das nossas rodovias, apreensão de drogas e também no combate a outros crimes, como exploração sexual de crianças e adolescentes, trabalho escravo e outros crimes, então, temos um leque de ações a serem realizadas”, disse.
Além disso, o inspetor também ressalta a importância da PRF nas ações de repreensão ao tráfico, em um Estado de fronteira. De acordo com ele, o efetivo de polícias aqui de MS, é altamente treinado. Inclusive, o Estado é responsável por 40% da apreensão de droga de todo o país.
“Nossos policiais estão fazendo treinamento, então eles já entendem, eles já sabem como é que funciona esse tipo de crime, já somos mais direcionados a isso e é normal, é da natureza da PRF. Tem a parte do trânsito que a gente também faz muito, mas mantemos o foco no combate ao tráfico”, pontuou.
Mato Grosso do Sul está ainda trabalhando na execução de cinco obras da PRF, que já contam com incentivo do governo federal. São cinco obras que estão em vista de serem construídas, sendo elas a unidade operacional de Ribas do Rio Pardo, de Diamantina (que fica em Ivinhema), e a delegacia especial de fronteira, que é em Dourados.
“Eu acredito que vamos ter ainda mais investimento [por parte do governo federal]”, declara o superintendente.
O Estado: Quais suas metas, estando à frente da PRF?
Inspetor Bueno: Temos algumas metas com relação à PRF. Precisamos retomar alguns caminhos que já tínhamos no passado, com relação à parte de uma polícia mais próxima da sociedade, mesmo. A PRF sempre foi conhecida como polícia cidadã. Então, a gente vai buscar isso, que a PRF fortaleça sua proximidade com a sociedade, com a comunidade, por meio de ações sociais e ações de educação para o trânsito. Eu acredito que isso faz muita diferença, para buscar uma sociedade mais segura, um trânsito mais seguro e essa é a nossa principal meta, na verdade.
O Estado: O senhor assumiu o cargo com foco em posicionar a PRF como polícia cidadã. Como fará isso?
Inspetor Bueno: Para aproximar a polícia da população, a gente vai fortalecer o relacionamento, pois a PRF já cuida da parte de educação e social, os trabalhos sociais da PRF. Mas, vamos dar ênfase maior, exatamente para atingir esse objetivo. É claro que, em paralelo, a PRF continua trabalhando nas ações de prevenção de trânsito, nas operações nos feriados prolongados, quando temos um aumento no fluxo de veículos. Aqui, no Estado do Mato Grosso do Sul, nossa característica é a parte de combate ao tráfico de drogas. Continuaremos também com as ações de combate ao crime, não só de tráfico de drogas, mas exploração sexual de crianças e adolescentes e na área da escravidão, porque sabemos que a rodovia federal é um dos pontos sensíveis para esse tipo de crime, então a gente tem todo um leque de ações a serem realizadas.
O Estado: O quadro hoje, da PRF, em Mato Grosso do Sul, supre a demanda? Qual é o déficit?
Inspetor Bueno: Atualmente, a PRF do Mato Grosso do Sul, tem o maior efetivo da sua história, pois temos, aproximadamente, 640 policiais lotados no Estado. Se me perguntarem se é o suficiente, não, precisaríamos de mais, mas a PRF, nacionalmente, já está com seu quadro praticamente completo. Trata- -se de um pouco mais de13 mil policiais para os 27 Estados da federação. De modo que já estamos com o efetivo máximo, aqui. Nossa malha viária é muito extensa e hoje há em torno de quatro mil quilômetros de rodovias em Mato Grosso do Sul, isso é muito. Temos, também, muitos dos 640 policiais na área administrativa, o que também é necessário. A PRF é um departamento, um órgão em que a gente só tem um cargo: o de policial rodoviário federal e a parte administrativa precisa existir para a parte operacional conseguir fazer seu trabalho, nós precisamos dos PRFs lá, também. Então, é o PRF que toca o órgão e posso dizer que temos um efetivo bom, sim, mas que não é o suficiente.
O Estado: É necessário um novo concurso?
Inspetor Bueno: Sim e eu acredito que o departamento, cuja sede fica em Brasília, já pensa em algo a mais para o futuro, porque, como já disse, o nosso quadro está praticamente cheio. Porém, nesses anos, principalmente nos últimos anos e para os próximos teremos muitos policiais que vão se aposentar, deixando abertas essas vagas para os novos e isso causa déficit dentro da polícia.
O Estado: O trabalho, no Estado, tende a ser diferenciado por conta da localização, tendo em vista que Mato Grosso do Sul faz divisa com dois países produtores de drogas?
Inspetor Bueno: Realmente, a posição geográfica do Estado e a situação existente, de fazer fronteira com o Paraguai e com a Bolívia, é uma característica do Mato Grosso do Sul. Quando falamos da parte de combate ao crime essa é uma característica do Mato Grosso do Sul. Para se ter uma ideia, no ano passado, a PRF/MS foi responsável por 40% de toda a apreensão de droga de todo o país, ou seja, 40% da droga apreendida é oriunda da nossa regional e isso se deve ao trabalho desenvolvido.
O Estado: Como a PRF tem atuado na repreensão ao tráfico?
Inspetor Bueno: O policial, aqui do Mato Grosso do Sul, é voltado a esse tipo de combate, por isso temos certa expertise nisso, o que é possível com treinamento constante. Os policiais fazem esse tipo de treinamento e eles já entendem, já sabem como funciona esse tipo de crime, já são mais direcionados a isso, é da natureza dos policiais que atuam no Estado. Quando ele chega na PRF, ele vai, realmente, utilizar o treinamento. Claro que tem a parte do trânsito, que também fazemos muito, aqui. Ano passado, tivemos alguns recordes, principalmente de apreensão de cocaína: chegamos a dez toneladas apreendidas em 2022. E hoje, estamos no meio do ano e já contabilizamos nove toneladas. Acreditamos que iremos passar a quantidade anterior de apreensão. Fazemos a atuação pontual com grupos táticos, temos as equipes especializadas, em cada delegacia, sendo que há nove, hoje, no Estado, e cada delegacia tem seu grupo especializado de combate a todo tipo de crime, por isso fazemos uma atuação bem pontual. As delegacias mais atuantes são as de Dourados, Corumbá e Campo Grande, que é o centro do Estado. Tudo o que vem da Bolívia e do Paraguai vai para Campo Grande e depois sai para as delegacias das divisas: de Três Lagoas, Nova Alvorada (que tem o posto de Bataguassu), Paranaíba e Coxim. A gente consegue fazer esse tipo de atuação praticamente no Estado todo. Tudo que sai da fronteira tem que ir para a divisa, para os grandes Estados, como Minas Gerais e São Paulo. É assim que atuamos.
O Estado: A fronteira de MS é uma das mais perigosas do país?
Inspetor Bueno: Nossa fronteira é, na verdade, muito extensa. Temos quase mil quilômetros de fronteira, de divisa, se contar do norte ao sul do Estado e boa parte disso é dividida por rios, mas há muitos locais em que há fronteiras secas. Em relação a perigo, eu acho que Mato Grosso do Sul não tem essa característica. Mas, se formos pensar no tráfico de drogas e em como isso traz prejuízo à segurança pública, pode-se dizer que sim. Campo Grande não é uma cidade com índice de criminalidade elevada, é muito segura, felizmente. Por conta da atuação dos policiais e da segurança pública, temos um Estado bem seguro.
O Estado: A PRF já estuda como será o trabalho, com a operação da Rota Bioceânica?
Inspetor Bueno: Sim, pois a Rota Bioceânica trata-se de algo importante, mas que ainda vai evoluir, aos poucos. A PRF já está conversando com o Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), para o posto, em Porto Murtinho, que trata-se de uma unidade alfandegária, mas a PRF está inserida nesse contexto, também. Junto a isso, já estamos trabalhando com a possibilidade da construção de um posto de fiscalização em Porto Murtinho, com o fortalecimento das delegacias que serão envolvidas no novo fluxo de veículos do Estado, em especial as de Guia Lopes e de Corumbá. Acredita-se que essa rota será muito utilizada e isso vai influenciar o Mato Grosso do Sul inteiro, vai mudar nossa realidade, nosso trânsito. Uma outra preocupação que a gente está tendo e investindo é para iniciar a obra da unidade operacional de Ribas do Rio Pardo, uma cidade que mudou muito também. Hoje, já está sendo instalada a Suzano lá, o que mudou totalmente a realidade da região, isso impacta no trânsito, por exemplo, pois os veículos aumentaram muito e acreditamos que a Rota Bioceânica terá um impacto muito maior dentro do Estado. Já estamos pensando em ter um reforço no efetivo, prevendo a nova rota, essa linha de interligação entre os portos do oceano Pacífico, dos portos do Chile e estamos fazendo esse tipo de planejamento, pois a PRF está de olho nisso.
O Estado: Quais os produtos mais apreendidos, em MS?
Inspetor Bueno: O que apreendemos muito são celulares e computadores. Ainda relacionado a contrabando, cigarros e pneus também tem bastante, junto com o tráfico de drogas.
O Estado: Como o senhor avalia os investimentos realizados pelo governo federal neste ano, para a corporação?
Inspetor Bueno: Estamos ainda no início do governo, mas já há previsão de investimento. Em MS, por exemplo, estamos com cinco obras da PRF e o governo está ajudando muito para recebermos um incentivo, nessas obras. Está para ter início as unidades operacionais de Ribas do Rio Pardo, Diamantina (que fica em Ivinhema), a delegacia especial de fronteira (que é de Dourados). Está sendo construída uma delegacia nova para Dourados exatamente por conta da característica da região, de ter muitas apreensões de drogas. Estamos tendo um incentivo muito grande, por parte do governo do federal. Acredito que teremos ainda mais investimentos.
Por Camila Farias – Jornal O Estado do MS.
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