Etarismo, você conhece?

Reprodução/freepik
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Termo remete aos preconceitos sofridos por causa da idade, e que pode ser considerado crime

 

Você já ouviu falar de etarismo? Esse é o nome que se dá ao preconceito contra pessoas, com base na sua idade. Os idosos constituem o grupo que mais sofre com o etarismo, no Brasil e no mundo. Recentemente, um caso de etarismo cometido por três estudantes de uma universidade particular em Bauru (SP), contra uma mulher de 45 anos, que estava em seu primeiro dia de aula, repercutiu nacionalmente, de forma negativa, nas redes sociais e acabou na polícia. A universitária Patrícia Linares, de 45 anos, registrou um boletim de ocorrência por injúria e difamação contra as três jovens, que gravaram um vídeo em que praticam discriminação etária contra ela.

O documento foi feito na Delegacia de Bauru, no interior de São Paulo, na segunda-feira (20). Nele, Patrícia argumenta ter sido profundamente insultada e sofrer, até hoje, as consequências da ofensiva realizada por Giovana Cassalatti, Beatriz Pontes e Bárbara Calixto, que teriam causado um alvoroço em sua vida. Há, agora, seis meses para apresentação de uma queixa-crime.

A psicóloga Carolina Pina afirma que a forma como a sociedade vive, atualmente, impacta na forma que se enxerga e se trata o envelhecimento. “Vivemos em uma sociedade imediatametista, que troca facilmente o que ficou ‘antigo’ por algo recém-lançado e que vê a juventude como padrão único de beleza”, ressalta.

A reportagem do jornal O Estado conversou com alunos de Campo Grande sobre o tema. O mestre em estudos culturais, Eduardo Ramirez, de 55 anos, e a acadêmica de educação física, Alessandra Kanashiro, de 39, afirmam que não foram alvos de preconceito entre os colegas de turma, mas ressaltam que o etarismo precisa ser discutido e avaliado.

Concluindo a graduação de Ciências Sociais aos 51 anos e o mestrado em Estudos Culturais com 54,
Eduardo Ramirez, de 55 anos de idade, considera importante a repercussão na mídia. “Nos convida
a pensar que o etarismo precisa ser avaliado num quadro maior, do julgamento das diferenças
humanas”, afirma o mestre, que começou ciências sociais com 34 anos e, devido a diversas participações em projetos de extensão, concluiu com 51.

Prestes a completar 40 anos de idade, Alessandra Kanashiro, formada em Comunicação Social no ano de 2004, decidiu reingressar na faculdade, com 39 anos, e está no terceiro semestre de Educação Física. A acadêmica disse que a sociedade precisa discutir a existência do ser humano e suas etapas de vida, e ressaltou o respeito em relação às pessoas maduras, que decidem começar ou retomar os estudos. “São fatores sociais, culturais e aqueles que envolvem nossa própria educação, que precisam ser discutidos. Então, vejo essa importância de entender nossas fases da vida e respeitar cada momento”, disse.

Eduardo explica que o fato de ter experimentado a maturidade no curso de Ciências Sociais, com 34 anos e o mestrado podem ter contribuído para que não fosse alvo de preconceito. “Em ambos cursos as diferenças são objeto de estudo e, por conta disso, os alunos possuem um perfil muito mais compreensivo quanto a isso.”

Estereótipo ultrapassado Segundo a psicóloga, o estereótipo de que envelhecer é um problema pode levar a pessoa a desistir de seus projetos e sonhos, causar solidão e, com isso, ter menos qualidade de vida está ultrapassado. “Muitos jovens acreditam que idosos não tem mais idade para sair de casa em horário de pico, porque não fazem nada e podem sair em qualquer outro momento sem
atrapalhar, já que eles não conseguem mais tomar boas decisões para a própria vida”, explica.

Estereótipo ultrapassado Segundo a psicóloga, o estereótipo de que envelhecer é um problema
pode levar a pessoa a desistir de seus projetos e sonhos, causar solidão e, com isso, ter menos qualidade de vida está ultrapassado. “Muitos jovens acreditam que idosos não tem mais idade para sair de casa em horário de pico, porque não fazem nada e podem sair em qualquer outro momento sem atrapalhar, já que eles não conseguem mais tomar boas decisões para a própria vida”, explica.

A profissional ainda ressalta a importância de cuidar da saúde mental em todas as fases da vida, para evitar uma depressão em casos de discriminação. “É importante buscar ajuda profissional para lidar com esse momento, e que as pessoas próximas também estejam atentas a esses sinais, para que o atendimento especializado chegue a quem está em sofrimento e, de repente, não consegue buscar ajuda sozinha.

As universitárias que hostilizaram Patrícia Linares desistiram do curso e trancaram a graduação. A psicóloga disse que não é possível afirmar se houve um trauma na vida das três jovens, mas afirma que ocasionou uma exposição de abrangência nacional. “Com certeza, gerou impacto em suas vidas. Nós podemos aprender, evoluir e repassar o aprendizado. O problema não está em errar, mas em persistir no erro. Errou? Aprendeu? Então, agora você pode aplicar o que aprendeu na sua forma de viver”, ressalta.

Por Livia Bezerra   – Jornal O Estado do MS.

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