No último sábado (18), a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, esteve no Estado. Acompanhei a comitiva que foi ao território Laranjeira Nhanderu, no município de Rio Brilhante, área de retomada guarani e kaiowá e que, logo após, voltou a Campo Grande, reunindo-se com o governador Eduardo Riedel, secretários e deputados. O discurso forte da ministra indígena destacou a necessidade de diálogo por parte do Estado, para solucionar o conflito agrário que coloca MS, segundo a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, em uma crise humanitária pela não demarcação do território indígena. Afirmou Guajajara que Lula está disposto a retomar espaços de diálogo com os indígenas, o governo do Estado e o setor produtivo, para que se avance na demarcação e acabe com a insegurança jurídica e vulnerabilidade dos indígenas. Na outra ponta, o governador Eduardo Riedel sustentou que a polícia não vai atuar para ter conflito em território sul-mato-grossense, que não se pode permitir esse tipo de situação no Estado e que é favorável à paz no campo. Sim, governador, todos nós queremos paz no campo, mas, para isso, é preciso que a paz seja construída e projetada pelo Estado, para todas e todos os sujeitos dos campos, das águas e das florestas. O agronegócio é um setor importante da economia, mas não pode ser tratado como o único.
É preciso políticas, também, para os quilombolas, ribeirinhos, indígenas, trabalhadores rurais semterra, agricultura familiar entre outros. Se tudo isso ocorrerá, não sei, mas não podemos deixar de destacar a importância desse momento histórico, em que o governador do PSDB e uma ministra do governo do PT se colocam em espaços de diálogo e escuta, na tentativa de resolver um problema secular. A demarcação das terras indígenas é um direito constitucional. Inclusive, direito que vem sendo violentado desde 1993, pois está expresso que, em cinco anos, após a promulgação da Constituição de 1988, a União demarcaria todas as terras tradicionalmente ocupadas. Sendo assim, o atraso estatal em fazer cumprir a constituição gera conflito agrário. Em 2020, a ONU reconheceu que os indígenas são agentes vitais à preservação do meio ambiente, mas, para tal, é preciso de território demarcado. Se os indígenas garantem a preservação do meio ambiente, como sustenta a ONU, esses sujeitos, ao invés de serem tratados, por parcela do agronegócio, como inimigos e atrasados deveriam ser vistos como aliados, pois são eles que podem ajudar a salvar os biomas brasileiros, imprescindíveis para o crescimento e manutenção do agronegócio. Tem uma música do Rappa que diz que se o branco soubesse o valor que o preto tem, ele tomava banho de piche e preto ficava também. É a mesma lógica, se o agronegócio soubesse a importância dos indígenas para a preservação do meio ambiente e, portanto, para a agricultura, quem também estaria lutando pelo direito constitucional à demarcação das terras indígenas seria o próprio agronegócio. Espero, ao ver Riedel dialogando com Guajajara, que é um biólogo, portanto, sabedor da importância dos biomas, das chuvas, do ecossistema, da natureza, dos rios e dos animais humanos e não humanos, que iniciemos um novo momento na história de MS. A demarcação das terras indígenas não é responsabilidade do governo do Estado, mas do governo federal.
Todavia, a predisposição de ambos em dar fim a essa crise humanitária pode, pela primeira vez, tirar o Estado de MS desse cenário de violência, desumanidade e incoerência, frente às vidas dos povos indígenas. O agronegócio só têm a ganhar com a demarcação das terras indígenas em MS.
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Muito bom! ✊🏻
Parabéns pelo texto coerente e fundamentado. Vamos acreditar que o governador estabeleça essa política e que cessem os assassinatos dos povos indígenas.
Obrigado pelos comentários! 💙