Felipe Gonçalves (*)
Ralph Fiennes é um ator muito peculiar, ao mesmo tempo que entrega ótimos vilões também é um excelente protagonista. Ele fica tão bem no papel que assume que é impossível imaginar outros atores em seus personagens. Em “O Menu” ele é um chef de cozinha que entrega o melhor serviço possível ao mesmo tempo eu conta suas inspirações entre um prato e outro, mas será que isso é tudo?
“O Menu” dirigido por Mark Mylod é um filme que divide opiniões, o público mais casual do cinema geralmente não gosta de filmes que tem uma dinâmica mais lenta e que através de sua narrativa faz uma crítica mais contundente ao status quo. Esse filme é um apanhado de tudo aquilo que destrói as críticas culinárias e que podem ser completamente subjetivas e que se não apuradas da maneira certa podem causar a ruína de um bom restaurante. Acompanhamos Tyler e Margot, dois jovens que esperam uma barca para ir até um restaurante intitulado Hawthorne, muito exclusivo e bem selecionado em uma ilha. O chef Slowik bastante insatisfeito preparou uma recepção nada convencional para mostrar a hipocrisia dos convidados dispostos como arquétipos de clientes recorrentes de restaurantes como este.
O elenco que conta com Nicholas Hoult, Anya Taylor-Joy, Janet MCTeer, John Leguizamo e Hong Chau transformam completamente a experiência de assistir “O Menu”, a história gira em torno do serviço e como cada membro da equipe do restaurante se liga aos pratos, que são inseridos na tela com um breve letreiro com informação de cocção e como deve ser servidos. Anya e Hong Chau tem um dos arcos mais voltados para ação e são presenças que causam desconforto nos convidados e na equipe gerando a tensão que sentimos ao desenrolar desse filme. Ralph Fiennes é um maestro, tanto na atuação quanto na condução de seu plano e os demais convidados que se opõem aos métodos nada ortodoxos de apresentação de uma experiência gastronômica. Uma brilhante atuação que infelizmente ficou de fora das indicações do Oscar 2023.
Para quem não gosta de levar spoilers, aconselho que assista o filme disponível no Star Plus e volte aqui depois para finalizar a leitura. As mortes que presenciamos são a representação do fim daquilo que deveria ser feito com crivo, e o chef Slowik acredita que seu menu baseado em alguns atos seja uma obra deixada como uma crítica à indústria que permite que a profissão seja banalizada e transformada em um show que não preza pela qualidade, mas sim pelo embate entre cozinheiro e o público, que na maior parte das vezes não faz ideia de como fritar um ovo. A morte de todos é a redenção da cozinha.
(*) Filipe Gonçalves, é jornalista, adora cinema desde criança e escreve sobre cultura, futebol, cinema, música e cultura do local.