Na manhã desta quinta-feira (02), profissionais da Rede Municipal de Saúde realizaram um ato na frente da Prefeitura de Campo Grande, cobrando ao executivo municipal o pagamento imediato da taxa de insalubridade e o enquadramento no plano de carreira
O presidente do SINTE/PMCG (Sindicato dos Trabalhadores em Enfermagem do Município de Campo Grande), Ângelo Macedo, esteve na frente da prefeitura e informou que a categoria se uniu após assembleia, realizada na noite de ontem (1), onde de forma unânime, foi aprovado a reunião na frente a prefeitura.
“Ontem nós fizemos uma assembleia. Ela surgiu em virtude dessa inércia da gestão, porque nós temos um plano de cargos e carreiras que tinha um prazo até 31 de dezembro do ano passado, para que fosse feito o enquadramento da categoria, e dentro desse enquadramento já houvesse a projeção e a programação do percentual a ser pago no salário de janeiro, que é pago em fevereiro”.
Ele alega que falta diálogo entre o executivo e a categoria, além da falta de resposta do atual secretário municipal de saúde, Sandro Benites (Patriota).
“Nós protocolamos [as reivindicações da categoria] assim que ele foi nomeado secretário de saúde; imediatamente foi solicitado uma agenda, protocolamos um ofício e infelizmente ele simplesmente nos encaminhou, via ofício mesmo, a secretaria de gestão. Não tivemos diálogo com o secretário de saúde, não porque não procuramos, não houve resposta. Também não teve resposta do Secretário de Gestão [Maria das Graças Macedo]. Isso fez nós abrirmos a assembleia, para que a categoria tivesse conhecimento de tudo isso que está sendo noticiado, para que a gente pudesse tomar as devidas providências”, explica.
O presidente ainda diz que, se não houver uma resposta para o pedido protocolado na manhã de hoje, em até 15 dias, a categoria deve se reunir novamente e anunciar o indicativo de greve. Na terça-feira (7), às 8h, para novos atos, com concentração na prefeitura e às 9h em carreata até a Câmara Municipal, para pedir apoio aos vereadores.
Um dos membros da diretoria do sindicato, Bruno Vieira, salientou que as reivindicações são apenas para o cumprimento do que já está em lei. “A gente não está aqui para começar nenhuma briga, são lutas de muito tempo que agora a gente quer colher o fruto, o resultado. A única pendência é sobre o Piso Nacional, mas a verba é federal, então a Prefeitura não vai meter a mão no bolso de início para arcar com nada, é só uma questão de boa vontade”, disse.
O advogado do sindicato, Márcio Almeida, disse que tanto a paralisação quanto a possibilidade de greve, estão dentro da lei. “A assembleia de ontem foi um ato que cumpre o Artigo 4º da Lei de Greve, porque o sindicato que possui registro sindical, tem total legitimidade para eventualmente decidir por um movimento grevista para o convencimento do poder executivo. Então o artigo 4º diz que você precisa organizar a pauta de reivindicações. Então vai ser apresentada essa pauta, e aí esperar que o município sente com o sindicato para construir esses caminhos.
A enfermagem se sacrificou nos dois anos que se passaram da pandemia, sem qualquer reajuste e agora ela precisa que seja reestruturado o sistema remuneratório. Se eventualmente esses trabalhadores decidirem parar, quem vai sofrer é o usuário da saúde pública de Campo Grande”, finaliza.
Luta por reconhecimento
Para o enfermeiro Rodrigo Rocha da Silva, 39 anos, a luta é pela categoria e principalmente por causa das mulheres enfermeiras. Ele acredita que a prefeita da Capital, Adriane Lopes (Patriota), deveria ter um olhar mais atento para as enfermeiras, que são maioria na profissão.
“Primeiramente estamos aqui para reivindicar um projeto que foi aprovado há muitos anos atrás. Inclusive foi feito até estudos de impactos econômicos na época, sendo aprovados na câmara. Então esse projeto foi aprovado lá, ele deu um espaço de anos para a Prefeitura se preparar pro pagamento, que começaria a ser implantado agora final do ano.
Final do ano era o prazo para começar a pagar uma parte desse projeto que foi aprovado na câmara. Então começaria agora. O que aconteceu? Não foi pago. Então, o que nós podemos fazer? É reivindicar, é correr atrás dos direitos que já estão expostos e não estão sendo cumpridos, pelo executivo. Inclusive eu eu sou uma minoria da categoria que eu sou uma parte da representação masculina. A categoria é feita basicamente, oitenta por cento feminino. E nós estamos hoje em dia pela política atual, nós estamos lutando muito pelas causas das mulheres. E mulheres guerreiras da enfermagem que trabalham horas e horas, em plantão, dentro do posto de saúde, sai do posto e vai pra outro plantão, nada mais, tão querendo ser valorizada também. Então, como nós temos uma representante do executivo feminina também, nós esperávamos, que tivesse uma sensibilidade com a própria com parte feminina.”, disse o enfermeiro.
Ele ainda relatou as dificuldades enfrentadas pela categoria durante a pandemia de Covid-19. “Olha, foi assustador até para as próprias equipes de saúde. Foi a primeira vez que eu passei por uma pandemia. Perdi parentes nessa pandemia também. Como muitos outros colegas perdemos colegas, eu tive uma questão mais perto de mim que foi na minha unidade, que foi um companheiro, um colega de trabalho próximo a nós, que ficou entubado, acho que foi uns quinze dias, justamente por ter sido exposto, lutando dia a dia na batalha, contra o vírus, tentando salvar o maior número de pessoas possíveis”, finaliza.
Com dez anos de carreira, a enfermeira Thaís Avalos, 37 anos, diz que o momento é de luta por todos os profissionais da saúde, que trabalham em condições insalubres e com falta de material. Ela acredita que ao conceder boas condições para os trabalhadores, as condições para os usuários do SUS (Sistema Único de Saúde) também melhoram.
“Eu acredito que a gente tá aproveitando esse momento também para isso, a insalubridade e o momento da pandemia foi um grande desafio para todos os profissionais, porque a gente trabalhou em condições muito difíceis, a gente trabalhou muito exposto, pouco material. Foi bem difícil, perdemos muitos profissionais de saúde também por conta da falta de material, por conta das condições insalubres, a gente perdeu muitos colegas. E hoje a gente tá aqui tentando mudar um pouquinho dessa história, provar que o profissional de saúde realmente precisa ser visto tanto pela gestão municipal, estadual e também na esfera federal, ele precisa realmente ser visto, porque a gente é importante, qualquer desastre, qualquer pandemia, qualquer situação que venha acontecer a nível mundial e nacional, quem vai estar sempre a frente são os profissionais de saúde”.
Com informações da repórter Mylena Fraiha.
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