Por Méri Oliveira
“O jornal O Estado foi meu berço”, afirma o fotojornalista Marcos Maluf, que conquistou o primeiro lugar da categoria Foto do 9º Prêmio Sebrae de Jornalismo na etapa Nacional. O resultado do prêmio foi divulgado na última quarta-feira (14). Ele levou de outros 55 inscritos do Brasil, com o trabalho “Do puxadinho que vira legado ao sonho rompido à luz da pandemia”. Maluf foi o representante do Centro-Oeste e, antes disso, venceu as etapas Regional e Estadual.
Em entrevista à reportagem ele lembra que no início de carreira, chegou a ser estagiário de fotografia do jornal O Estado, na época da faculdade. “Quando eu comecei no jornalismo, eu queria trabalhar na televisão, e logo fui vendo que eu não levava jeito para vídeo e migrei para o rádio. Eu estagiei na rádio na faculdade e até achei que fosse seguir no rádio. Eu era o pior aluno de fotografia. No curso de jornalismo, no módulo de fotografia eu era o pior aluno, o [Renan, professor] Kubota passava raiva comigo”, brinca e completa: “No jornal O Estado eu comecei em 2015 e sou muito grato! Eu sou um ‘bebê’ no fotojornalismo, em comparação a muitas pessoas. E isso eu devo às amizades que eu fiz, aos amigos, enfim, não seria possível se eu não tivesse amigos e quem compartilhasse conhecimento”.
O primeiro equipamento de Maluf foi comprado com esforço e economias. “Eu juntei minhas economias e fui até o Paraguai comprar o equipamento, que me acompanhou por muito tempo. Acho que, na época, dava uns R$ 2 mil, mas era o início ali”, lembra. Nessa época, o fotojornalista tinha outro emprego. “Eu tinha um trabalho muito bom na minha outra profissão. Eu era técnico em automação e resolvi sair dessa multinacional, onde trabalhei por 11 anos. Eu me lembro de um amigo perguntar ‘cara, mas você está preparado para começar esse tipo de coisa? e eu falei ‘não, mas eu vou tentar'”, relata.
O professor
O fotojornalista Renan Kubota, por sua vez, comenta: “Maluf tem uma relação engraçada comigo e com a fotografia. Ele, como grande parte dos alunos, que estudam em universidades privadas, trabalhava e ainda estudava. No primeiro momento, ali, ele não se interessou muito pela fotografia em si, mas acho que esse amor veio depois, quando ele descobriu que ela não era um fim, mas sim um meio. Algo que ele pudesse utilizar para se conectar com as pessoas. Quanto a mim eu fico muito feliz em ter contribuído, mesmo que minimamente, nem que seja pra despertar uma fagulha ali, aquele gostinho inicial”.
Segundo o diretor de Operações do Sebrae-MS, Tito Estanqueiro, a atuação da imprensa é fundamental para dar voz às micro e pequenas empresas, que respondem pela maioria dos empreendimentos no estado e no Brasil. “Os jornalistas têm a arte e sabedoria, seja na captação de imagens, seja na escrita, em transmitir os bons casos de sucesso da nossa economia. Os pequenos negócios são a força da nossa economia, seja no Mato Grosso do Sul ou no Brasil. São vocês que conseguem pautar notícias que inspiram outros sul-mato-grossenses a empreender”, declarou.
A emoção de ser premiado
Marcos Maluf conta que toda a circunstância e fatos que envolvem a conquista do prêmio trazem, a ele, muita emoção, desde a conexão que tem com o jornalista Cleber Gellio, já que os dois já foram ourives. “E a minha família toda tem ligação, ou é ourives, ou meu avô, por exemplo, já foi do garimpo, e na matéria tem um pouco do meu avô, tem um pouco do meu bisavô, tem meu tio na matéria, tem alguns amigos do Cleber. Essa matéria de certa forma tem um pedacinho da minha vida”.
E em relação a isso, entra outra memória afetiva. “Quando eu embarquei no avião, sentei na janela com a asa do avião perto, e eu me lembro que meu avô era fiscal do DAC (Departamento de Aviação Civil), e ele ia fiscalizar os aviões, e ele me levava pra trabalhar com ele no aeroporto e muita coisa passou na minha cabeça, muitas memórias importantes foram revividas”.
A ocasião também fez com que Maluf se lembrasse de colegas que o inspiram. “Eu cresci olhando as fotos do Valdenir Rezende e eu tenho um respeito enorme pelos filhos dele, que são dois grandes profissionais, o Bruno e o Álvaro Rezende, são dois grandes fotógrafos também. E aí, lógico, depois tem o Cleber Gellio, que sempre ganhava prêmio e eu me espelhava muito nele. Tem o João Garrigó, que tem um trabalho fantástico, o meu amigo André Bittar, que é um baita fotógrafo de natureza, o Luiz Alberto do Diário Digital, o Marcelo Calazans, o Nilson Figueiredo, que tem uma bagagem imensa, como pessoa tem um coração incrível! Minha admiração pelo Figueiredo e muitos outros”, enumera.
E já se explica em seguida: Eu só vou destacar esses aí, porque são os que me vêm na cabeça, eu não quero pecar com ninguém, todos, todos são meus amigos e, todos, de alguma forma agregam na minha vida e no meu trabalho.”
A foto vencedora
Maluf explica que os signos utilizados na foto vencedora não foram propositais. “A foto vencedora foi a foto que, sem querer, tem vários signos e tem tudo a ver com a matéria. Depois que a gente já estava quase finalizando todo o material, ele estava cravando pedras no anel e tinha uma luminária muito boa, no quesito de composição”.
Feita a foto, a coisa toda foi despretensiosa. “E eu coloquei a foto no meio, mas eu jamais imaginaria que ela ia ser a foto premiada, porém o Cleber me abriu os olhos depois da inscrição, colocar essa foto, tem muitos significados. Ela tem uma auréola na luz ali, tá formando a auréola das pessoas que já se foram na pandemia, e aí a ferramenta na mão do ourives tá quase tocando o anel”, explica.
O único signo que foi feito de propósito, segundo o fotojornalista, foi a aureóla. “Eu não deixei que a ferramenta tocasse o anel porque eu queria que fosse simbolizado um sonho inalcançável, estava simbolizando o sonho de pessoas que não conseguiram alcançar [a cura] durante a pandemia e se foram. Foi o único signo que realmente foi intencional. O outro da auréola aqui que ficou na cabeça como se fosse um anjo, que foi da luz e, aí, a confirmação de que a gente não pode desistir jamais!”