Feito sem o auxílio monetário, de forma independente entre amigos, há mais de três anos, “O Troco”, de Tero Queiroz, foi selecionado para exibição na 3ª Mostra do Filme Marginal que acontece – no próximo mês – no Rio de Janeiro. Retratando a adolescência e o envolvimento de jovens e adolescentes com o tráfico, de um ponto de vista regional, a produção irá contribuir na Sessão Marginal XVI – Representações Afro-Diaspóricas de Expressão.
“Eu acredito que o ‘corre’ que a gente passou está aí, foi tenebroso, mas amadureceu bastante. Deu para ver bastante dessa realidade, de como são duras e rigídas as leis nessas situações, e digo as do crime, não as do Estado, mas o peso e abandono dele é muito grande nessa ocasião. As pessoas também não se envolvem, não por não querer se identificar e se humanizar, mas para se proteger e aos seus. Aí o filme me convence. Quando ele me mostra que as situações moldam o ser humano, a pessoa que se encontra nessas condições”, explica o diretor Tero Queiroz, responsável pela realização e pelo roteiro da obra.
Contando com participação de Filipi Silveira na roteirização, direção e também como ator, “O Troco” foi produzido pela Fundo da Vila Films, tendo como cenário o bairro Nossa Senhora Aparecida. “O filme vai de pessoas com baixo acesso a câmeras de luxo para um público também específico. Me inscrevi no festival já almejando passar em alguma das edições, sabendo que não era um festival competitivo ainda, fiquei mais feliz porque a obra está aí para ser observada”, conta o diretor.
Tero também ressalta a reação ao ver sua obra passando os limites de fronteira e conseguindo tela em outra cidade e estado, indo figurar em terras cariocas. “Eu fiquei muito feliz, assim como estou pelo ‘O Troco’ ser selecionado para um festival de extrema importância na política atual que a gente vem tendo com o cinema brasileiro. ‘O Troco’ é uma história que vem do meu passado, para o presente e se mistura com um pouco do que eu vivi no passado e estou vivendo agora.”
“O Troco narra um pouco das histórias vividas e através delas eu conto também metáforas, investigo cinema, ângulos de câmera… é uma proposta bastante ousada e queríamos fazer assim, com produção pequena, sem precisar de dinheiro para fazer o filme mais sincero possível com nossa realidade”, completa o diretor.
Tendo estreado no Museu da Imagem e do Som de Mato Grosso do Sul (MIS-MS), um ponto convergiu entre a ideologia por trás da produção audiovisual e as diretrizes que traz o festival, o fato de ambos não tenderem para o competitivo concretiza a escolha de “O Troco” para essa edição da 3ª Mostra Marginal.
Sobre o cenário regional, Tero ainda chama atenção para um ponto que acaba sendo barreira para as pessoas – como foi o caso – que realmente querem produzir e tirar suas ideias do papel, mas não encontram a estrutura e base necessárias para a criação de uma obra audiovisual. “Acho que o cenário cinematográfico em Mato Grosso do Sul é jovem, no sentido de que não há uma empresa, o que dificulta o acesso geral da arte, dos produtores, de todos a esse mercado.”
Prometendo ainda um retorno, a exibição no Estado do Rio de Janeiro (se depender de Tero Queiroz) não será o fim do título: “O Troco é um filme feito por amigos, simples, sem recurso algum, então pensando no cenário ele é um filme ‘não competitivo’, é um filme para dialogar, conversar sobre… e eu pretendo fazer ‘O Troco 2’, de subtítulo: ‘Moeda do Mal’, e esse, sim, deve ter algum investimento e tentaremos angariar por meio de recursos públicos, mas, caso a gente não consiga, fazemos sem o recurso mesmo, mas ele vai acontecer”, finaliza.
Serviço: “O Troco” será exibido no dia 21 de setembro, às 16h, no Centro Cultural da Justiça Federal, na Avenida Rio Branco, 241, na Cinelândia, no Rio de Janeiro. (Leo Ribeiro)