Filme mistura terror, toques de humor ácido e críticas sociais pesadas ao consumismo desenfreado
Com estreia nesta quinta-feira (1º), o filme “O Menu”, dirigido por Mark Mylod, traz uma trama que tem recebido boas notas da crítica especializada, e começa, já sem fazer rodeios, mostrando o jovem casal Margot Mills (Anya Taylor-Joy) e Tyler (Nicholas Hoult) se preparando para embarcar rumo ao restaurante Hawthorne, renomado, sofisticado e comandado pelo chef Julian Slowik (Ralph Fiennes), e instalado em uma ilha particular e deserta, o que, por si só, já seria um tanto assustador.
É possível perceber que Margot parece reconhecer outros clientes no local, já que somente a elite da sociedade está presente, e cada cliente paga mais de mil dólares para estar ali e provar os experimentos gastronômicos do excêntrico chef, e entre eles destacam-se um idoso e sua esposa, três rapazes, funcionários do investidor do restaurante, um astro do cinema decadente acompanhado de sua secretária e, ainda, uma crítica gastronômica e o editor de sua revista.
Conforme a trama vai se desenrolando, é possível perceber que Tyler é um aficionado por gastronomia e tem um ótimo conhecimento sobre Slowik, bem como de suas técnicas, ferramentas e receitas, além de mostrar a personalidade “clássica” do tipíco sabichão com o qual volta e meia nos deparamos nos mais diversos ambientes. E, é claro, ele também faz de tudo para ser notado por Julian. No decorrer da história, o espectador também percebe que Margot nada mais é do que uma oportunista que, por meio de seu trabalho, chegou ao lugar certo, porém, na hora errada e, ainda, que ela não era parte do que estava planejado.
Críticas sociais
Margot é, provavelmente, a “final girl”: não apenas é uma personagem que destoa de toda aquela paleta ora acinzentada, ora em tons terrosos, de personagens absolutamente “hipnotizados” por aquela atmosfera que passa elegância e sofisticação mas que, certamente, oculta algo de podre e assustador.
Mas não é só isso. Ela funciona, também, como uma forma de ilustrar, ainda que “de leve”, a queda da sanidade do chef, especialmente mais ao fim do filme, quando ela finalmente consegue descobrir o que se esconde por detrás das portas e é quando os monólogos de Julian se tornam mais claros e deixam transparecer críticas duras e diretas ao sistema consumista e altamente predatório no qual a sociedade atual se baseia e do qual, muitas vezes, se beneficia de forma abundante, algo que é muito bem ilustrado por meio da trama que envolve a alta gastronomia em um cenário direcionado para bilionários que não conseguem se preocupar com outra coisa que não seja o próprio bolso.
Além disso, as pitadas – muito bem colocadas – de humor ácido dão um toque especial à narrativa, sendo esta uma técnica que poucos cineastas conseguem dominar bem o suficiente para ter trabalhos bem-sucedidos que não caiam na vala comum das tentativas frustradas de se fazer algo interessante e que prenda a atenção do espectador o suficiente para não deixar a obra tediosa.
Partindo desta premissa, com “O Menu”, o diretor Mark Mylod aborda os pontos de vista sem fazer alarde, mas usando o desdém e o ar blasé para ilustrar bem a futilidade que vemos, muitas vezes, em estabelecimentos caríssimos e em reality shows mais que batidos que povoam os canais de TV mundo afora, e vai desvelando, pouco a pouco, os segredos e mistérios que fazem parte da história.
Sinopse
O casal Margot (Anya Taylor-Joy) e Tyler (Nicholas Hoult) viaja para uma ilha costeira remota para comer num restaurante altamente exclusivo e luxuoso. Ali, o chef Slowik (Ralph Fiennes) preparou um cardápio farto, que inclui algumas surpresas chocantes. Rotten Tomatoes Antes mesmo da estreia, o filme já atingiu 89% de aprovação no Tomatometer do site Rotten Tomatoes, referência nos lançamentos do cinema nos Estados Unidos.
Crítica especializada
Segundo o jornalista Cadu Costa, do site Ultraverso, “há destaques positivos como uma fotografia plena e localizada num ambiente claro e envolvente. Os pratos são bem reproduzidos que dá a impressão de estarmos em um episódio do Master Chef ou Chef’s Table. Isso sem falar em como todos os atores estão realmente agradáveis e inteligentes em suas atuações. Porém, é inegável que ver Ralph Fiennes intenso, mas hilário, enquanto interpreta o chef enlouquecido, e Anya Taylor-Joy com seu talento habitual chamam mais atenção do que os deliciosos diálogos à mesa”, pontua.
Para o crítico Renato Marafon, “‘O Menu’ é uma das mais gratas surpresas de um ano que tem sido ótimo para os fãs de filmes de suspense e terror. Ele serve uma torta de climão com um rocambole de diversão e desespero. E é delicioso. Todos os sabores e sensações são explorados aqui, e o espectador pode degustá-los com todo o prazer. No fim, fica aquele gostinho de quero mais”.
Serviço: “O Menu” estreia hoje em cinemas de todo o Brasil e tem classificação indicativa de 16 anos.
Por Méri Oliveira – Jornal O Estado do MS.
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