Começa hoje (8), às 19h, e vai até o dia 23, na Galeria de Vidro, na Esplanada Ferroviária, a exposição “Éden”, que vai contar com telas em aquarela da artista visual Camila Kipper, vencedora do Prêmio Ipê de Artes Visuais, que passou a trabalhar com a técnica durante a pandemia.
Assim como aconteceu para a maioria das pessoas, a pandemia representou mudanças e ressignificações, e com a artista plástica Camila Kipper não foi diferente. Anteriormente mais habituada a pinturas a óleo, com o isolamento social e o fechamento de seu ateliê, ela começou a desenvolver trabalhos em aquarela, técnica que acabou aprimorando a ponto de propor uma exposição só com esses trabalhos.
“A pandemia nos reduziu às nossas residências, né? Eu tinha um ateliê, onde produzia trabalhos grandes, com tintas a óleo, e com a pandemia me vi com restrições para realizar esse trabalho. Então me veio a ideia de trabalhar com aquarela, que é uma matéria-prima que não tem muito cheiro, é fácil de manusear, e aí fui desenvolvendo um trabalho muito interessante que foi surpreendente até para mim, pois nunca tinha me dedicado a essa técnica com profundidade. Surgiu então uma série de trabalhos, e aí veio o edital do Prêmio Ipê. Como eu estava com um volume interessante de aquarelas, veio a ideia da exposição ‘Éden’.”
O que poderia ser visto como um obstáculo, logo se tornou uma oportunidade de a artista – que soma 14 anos de experiência na área – explorar uma nova técnica. “Não é uma técnica fácil, é considerada por muitos artistas como uma técnica de estudo, por não permitir erros. É difícil ter controle, e o papel não aceita correções. Uma boa aquarela é como ‘um erro que deu certo’”, explica Camila.
Como professora, a artista ensina técnicas diversas, mas escolheu o abstracionismo como norte de seu trabalho autoral. “O abstracionismo é uma desconstrução do figurativo. A figuração de libertação de um desejo de realizar, de fazer, de não querer copiar, mas de fazer algo que não existe, que vem de mim e que se transforma a partir do olhar de cada indivíduo”, define.
“Éden”, o tema da exposição, apesar de fazer alusão ao paraíso das escrituras, ressignifica esse conceito para falar sobre natureza e sobre a celebração ao feminino. “Sou muito embasbacada com as belezas naturais, desde pequena ficava olhando as flores e pensando que eram uma expressão do divino. No meu trabalho, mesmo abstrato, tem uma questão forte com as cores e com a natureza, são florais sem ser, pássaros sem ser pássaros”, afirma Camila.
“Eu sempre tive, também, essa força de questionar por que a mulher não é reconhecida, não só no mercado de trabalho, mas na sociedade em geral, falta um reconhecimento do potencial feminino. Pensando sobre como a gente usa e abusa dos recursos naturais, o tema ‘Éden’ é uma provocação que eu faço, é uma fusão do feminino e da natureza, porque são seres constantemente desrespeitados”, define.
Assim, o “Éden” proposto pretende chamar atenção para a responsabilidade que temos de preservar as riquezas naturais e, ao mesmo tempo, de combater a misoginia. “A ideia de comunhão com a natureza e de pertencimento foram as premissas que nortearam minha pesquisa. Acredito que tanto a natureza como a mulher não se deixam aprisionar por muito tempo, mas estão sempre em transformação”, completa Camila.
A artista espera que sua arte traga, ao público, a leveza de bons momentos em meio à correria do cotidiano. “Eu vejo a arte como um momento de apaziguamento, quando nós enquanto público entramos em um museu para ver obras é como se conseguíssemos tirar um tempo para nós, a vida da gente é sempre corrida, estamos sempre preocupados com trabalho, com família, finanças, e a arte vem para dar um refresco. A gente precisa da arte para que a gente suporte nossa vida, vejo dessa forma. A arte tem que trazer leveza, apesar das questões filosóficas, dos questionamentos, queria que minha exposição ‘Éden’ transmitisse isso, um momento para as pessoas curtirem, contemplarem, se elevarem de sentimentos bons, positivos, de esperança”, conclui a artista.
Mostra coletiva
Em mostra coletiva, a artista visual vai expor seus trabalhos com o origamista Elder Alves. “Eu sou uma pessoa muito do conjunto, acho que quando compartilhamos crescemos muito mais, então pensei em como juntar meu trabalho com o dele de maneira que conversasse”, conta. Como a aquarela tem a transparência como característica, ela transformou 14 de suas obras em luminárias, fazendo da exposição um belo jardim que integra o origami com a arte abstrata.
Esta é a primeira vez que dois ganhadores do Prêmio Ipê apresentam juntos seus trabalhos, e Elder Alves comentou sobre a novidade. “A gente decidiu fazer uma exposição não de maneira separada, como se fosse uma colcha de retalhos; nós conversamos antes e tentamos fazer uma integração entre as duas linguagens. Então acho que outro ponto interessante é ver esse processo entre duas bases de comunicação visual distintas e a maneira como uma arte pode conversar com outra”, disse o artista.
Elder é natural de Campo Grande e origamista há 30 anos. Nas últimas duas décadas passou a se dedicar a uma modalidade específica da arte com dobraduras, que é o origami decorativo. “Geralmente o origami é visto como uma arte ligada a uma coisa infantil, a crianças. As pessoas nunca associam o origami a uma ferramenta de artes visuais”, explica.
SERVIÇO: A exposição “Éden” começa hoje (8), às 19 horas, na Galeria de Vidro, e vai até 23 de novembro, com entrada gratuita, das 8h às 17h30, na Avenida Calógeras nº 3.015. A mostra foi financiada pelo Prêmio Ipê de Artes Visuais, uma iniciativa da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Sectur).
Por Méri Oliveira – Jornal O Estado do MS.
Leia a edição impressa do Jornal O Estado do MS.
Acesse as redes sociais do O Estado Online no Facebook e Instagram.