Especialista acreditam que respeito e compreensão nas relações individuais será fundamental
Nos últimos dias foi possível acompanhar a grande divisão entre a população brasileira em relação ao posicionamento político, seja entre amigos, empresas, funcionários e até mesmo na família. A discussão que se faz necessária agora é a de entender se o Brasil pode esperar ou não por paz e pela união da população neste período de pós eleições. Para entender quais devem ser os próximos passos, a reportagem do O Estado conversou com psicólogos sobre o que é possível esperar para o futuro.
De acordo com o psicólogo João Gabriel de Assis Benitez (CRP: 14/09470), que atua como psicólogo clínico, diz que a resposta é sim, que existe a possibilidade de reconstituição desses laços familiares. De acordo com ele, não podemos esquecer que a política é também uma espécie de afeto e uma forma de leitura da realidade.
Por isso, é doloroso quando um ente querido se mostra favorável a um projeto político que você sente ferir os seus ideais ou mesmo a sua existência.
“A tentação é olhar para essa pessoa como um espelho do seu representante político. Isso é grave quando se tem uma disputa onde ambos os lados se desprezam mutuamente. Desvincular a imagem do seu ente familiar dessa figura, desprezível aos seus olhos, é uma concessão que exige certo esforço. Um exemplo, a pessoa pode fazer uma concessão à história dela e de seu parente, às atitudes que a pessoa demonstra, ao seu caráter cotidiano, em detrimento dos discursos mais inflamados nas discussões políticas. Isso é um acordo mútuo afetivo”, disse o psicólogo.
Já o psicólogo clínico e organizacional, Emannuel Duim (CRP – 14/9.500), acredita que é possível trazer a normalidade, mas desde que em nossas relações individuais, seja familiar, conjugal, em ciclos de amizades, haja e a compreensão. É um desafio, mas é possível, entendendo sempre as escolhas do outro e as compreendendo, ambos os lados, nesta polarização.
“Temos visto desde o período da pandemia, que foi dito que as pessoas sairiam melhores, mais compreensivas e pacientes, contudo, observamos que foi o oposto que aconteceu. Em muitos lugares a agressividade foi aumentada, a impaciência, intolerância. Vimos que muitos, tendo em vista em não perderem seu tempo, foram em busca de seus ideais, expondo seus desejos, suas vontades e, após esse período tão polarizado e tão dividido após as Eleições, em meio a tantas incertezas que enfrentamos, a grande questão é: como podemos proceder? Antes de vivermos um Brasil unido, temos que ter o respeito e a empatia nas relações individuais. Observamos o crescimento de famílias, casais divididos, mas partimos pela base do respeito e da compreensão. Neste cenário pós- -eleições, muitos estão com os ânimos e agressividade muito aflorados. Todavia, acreditamos que é possível trazer a normalidade, mas desde que em nossas relações individuais, seja familiar, conjugal, em ciclos de amizades, haja o respeito e a compreensão. É um desafio, mas é possível”, finaliza Emannuel.
Vale lembrar, que no dia 28 de setembro o Jornal O Estado divulgou a história dos irmãos Miranda, que tendo a mesma educação e criação, optaram por ter caminhos opostos quando se trata das eleições. Maurício Miranda, 36 escolheu apoiar o atual presidente Jair Bolsonaro e a sua irmã Valéria Miranda,42 escolheu apoiar o até então candidato Lula. Na tarde de ontem (1), após o conhecimento do vencedor do pleito deste ano, a reportagem voltou a questionar sobre como estava o relacionamento dos dois.
“Vivemos em uma democracia. Embora eu não concorde com oque a maioria escolheu, temos que aceitar e seguir a vida. Tem isso dos dois lados, o extremo não leva a lugar algum. Oque temos que fazer é no diálogo tentar conversar mostrar os fatos pra que possa mudar opiniões diferentes”, pontuou.
Discurso
Relacionado a essa união e conhecendo da dificuldade de unir novamente a população, logo no primeiro discurso após o resultado da votação que elegeu o novo Presidente da República, o presidente eleito Luís Inácio Lula da Silva afirmou que é hora de “reestabelecer a paz entre os divergentes” e que “não existem dois Brasis” se referindo a população que até o momento se encontra divida em protestos por todo o país, em apoio ao atual presidente Jair Bolsonaro.
“Meus amigos e minhas amigas. A partir de 1º de janeiro de 2023, vou governar para 215 milhões de brasileiros e brasileiras, e não apenas para aqueles que votaram em mim. Não existem dois Brasis, somos um único país, um único povo, uma grande nação. A ninguém interessa viver num país dividido, em permanente estado de guerra. Este país precisa de paz e união”, afirmou Lula.
Por Claudemir Candido – Jornal O Estado
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