Em 2022, Mato Grosso do Sul chega aos 45 anos, e hoje tem quase três milhões de habitantes, com setor de indústria forte e consolidado, fortes influências multiculturais de países vizinhos e outras culturas.
Mas a nossa história começa muito antes disso, mesmo antes do Mato Grosso uno. Todas as mudanças ocorridas por estas terras, ao longo dos séculos, resultaram em forte influência hispânica na nossa cultura, vinda, posteriormente, dos países vizinhos, em especial o Paraguai.
Movimento divisionista
Conforme o cientista político Tito Machado, “o movimento divisionista não era – digamos – universal. Não era suficiente para que se fizesse uma pressão ao governo federal e junto ao congresso para referendar a divisão de Mato Grosso, efetivamente. É claro que, se fosse perguntado à população ‘é bom dividir?’, a maioria ia dizer que sim, por conta de que aqui teria outra administração, o que significaria maior número de empregos públicos, etc., mas dizer que existia na população uma vontade estabelecida – eu que vivenciei aquele período não vi isso”, afirma.
Tito relembra, ainda, que a divisão do Estado foi muito comemorada pelo povo. “Eu não posso deixar de observar que na divisão houve uma festa estrondosa, foi a maior festa popular que já vi no Estado, o povo foi todo para a rua, eu fui também, e houve uma festa muito grande. Existia uma expectativa, mas não era uma coisa que pudéssemos dizer que existia um movimento divisionista, houve vontades divisionistas.”
Machado ainda comenta que, muito embora a divisão tenha sido interessante, é impossível não imaginar como seria o poder se ainda fôssemos Mato Grosso.
“Imagine o poder que teríamos! Com certeza seríamos – com essa configuração territorial do Brasil hoje – seguramente o terceiro estado mais forte, estaria disputando o lugar com Minas Gerais”, assevera.
Evolução e crescimento
MS se tornou referência no agronegócio e desenvolvimento agropecuário de forma geral, segmento que se destaca cada vez mais e se baseia nos cultivos de arroz, c a f é , t r i g o , milho, feijão, mandioca, algodão, amendoim, cana-de-açúcar e, principalmente, soja, produto do qual o Estado é um dos maiores produtores do Brasil. Assim, com dinamismo, o setor proporciona progresso e possibilita a instalação, a reboque, de outros segmentos, como indústria, comércio e serviços.
Na pecuária, MS tem o maior rebanho bovino do país, sendo atualmente o segundo maior exportador de carne bovina do Brasil. Também há rebanhos equinos (cavalos), asininos (burros, jumentos) e muares (mulas). Além disso, o Estado também possui jazidas importantes de manganês, calcário, estanho e mármore, principalmente na região oeste, onde fica o Maciço de Urucum, rico em ferro e manganês.
Como vários outros estados do Brasil, Mato Grosso do Sul passa por intenso processo de industrialização, e os incentivos do governo acabam por ajudar a atrair indústrias de grande porte, tendo, assim, impacto na economia.
Turismo e cultura
O ecoturismo também é forte, tendo como carro-chefe principalmente a cidade de Bonito e a região do Pantanal. Campo Grande é relevante no turismo de negócios e, nos anos mais recentes, tenta se firmar também como uma capital cultural, o que pode ser percebido pela cena musical variada, que agrada desde aos fãs de sertanejo, passando pelo samba, chorinho, rock, erudito até o blues e, mais recentemente, o jazz.
Para o secretário de Cidadania e Cultura, Eduardo Romero, Mato Grosso do Sul é um Estado jovem, porém, promissor. “Tem saído do cenário de um Estado perférico, para um Estado de referência, e isso tem sido em diversos aspectos, entre eles – e principalmente – o aspecto cultural. Nós somos um Estado de fronteira seca com países como a Bolívia, o Paraguai, fazemos divisa com São Paulo, com Minas, com Paraná, com Mato Grosso, então a gente tem uma correlação direta dessas influências, tanto do próprio Brasil, como dos países vizinhos e, ao mesmo tempo, é um Estado que se fez da multiculturalidade”, explica.
Romero segue, detalhando o aspecto da multiculturalidade sul-mato-grossense: “Nós temos o privilégio de termos aqui a segunda maior população indígena do país, com oito etnias; de termos 22 comunidades remanescentes quilombolas, a segunda maior colônia japonesa do Brasil, de termos colônia árabe, colônia italiana, colônia portuguesa… Temos o privilégio de conviver com essas misturas de etnias, de cultura e ter identidades que se entrecruzam. Eu diria que o maior privilégio para MS é exatamente ser esse ‘caldeirão’ multi e intercultural, onde as fronteiras geográficas são apenas referências administrativas e políticas, mas, na convivência e no dia a dia, elas se misturam e se integram.”
Muito antes da divisão
Segundo estudo de 2004, da pesquisadora Sandra Nara da Silva Novais, a região onde hoje fica Aquidauana teria abrigado Santiago de Xerez, o primeiro povoamento não índio de Mato Grosso do Sul, já em 1593, fundado pelos espanhóis, que teriam passado também pela região onde hoje fica Naviraí, no sul do Estado.
Quase dois séculos e meio depois, em 1822, com a independência do Brasil, nossa região passou a ser a Província de Mato Grosso e, posteriormente, com a proclamação da Repúbica, em 1889, tornou-se Estado de Mato Grosso.
Outra coisa que teve grande impacto sobre a história de MS foi a Guerra da Tríplice Aliança, conhecida também como a Guerra do Paraguai, que, à época, tomou vários territórios do que hoje conhecemos como Mato Grosso do Sul. O conflito marcou a história não apenas do Estado, como também do Brasil, sendo considerado, até hoje, o maior conflito armado da América do Sul.
A guerra teve episódios notáveis, como a defesa do Forte Coimbra e o sacrifício de Antônio João Ribeiro no Posto Militar de Dourados, que em companhia de apenas 15 soldados recusou-se à rendição e combateu – bravamente – quase 400 combatentes de Solano López. Antes, porém, enviou ao comandante Dias Silva, de Nioaque, uma mensagem: “Sei que morro, mas o meu sangue e de meus companheiros será de protesto solene contra a invasão do solo da minha Pátria”.
Após muitas situações ao longo de décadas, a decisão de desmembrar Mato Grosso e criar Mato Grosso do Sul foi tomada em abril de 1977 pelo terceiro presidente do regime militar, Ernesto Geisel, seis meses antes da assinatura da Lei Complementar nº 31, em 11 de outubro. A divisão efetivamente aconteceu em janeiro de 1979 com a instalação do governo do novo Estado.
Por Méri Oliveira – Jornal O Estado do MS.
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