“Só cheguei até onde eu estou agora porque eu tenho palavra”

Alan Guedes Prefeito Dourados
Imagem: Reprodução/Nilson Figueiredo
Sofrendo forte oposição no primeiro ano de mandato, prefeito avalia as críticas como pessoais, “zero problema” de relacionamento com o deputado Barbosinha e reafirma manter apoio à candidatura de Riedel

Por Rafaela Alves e Suelen Morales – Jornal O Estado do MS

O prefeito de Dourados, Alan Guedes (PP), voltou de Brasília (DF) com aprovação do Senado, de um empréstimo no valor de US$ 40 milhões (equivalente a R$ 208 milhões). O recurso é visto como um ganho à administração, pois serão feitas obras de saneamento, mobilidade urbana, infraestrutura, etc. “Essa aprovação representa o maior programa de investimento da história da cidade de Dourados”, denominou.

O pacote de investimentos, batizado de “Desenvolve Dourados”, será a oportunidade de a gestão mostrar serviço. Ao assumir o mandato, em janeiro de 2021, o prefeito sofreu forte oposição de vereadores na Câmara. Guedes diz que hoje entende o posicionamento de “atacar pedra” em momento que não havia recursos para pagar salários de servidores e fornecedores. Neste ano, os professores municipais ficaram 40 dias em greve reivindicando a reposição salarial do Piso Nacional do Magistério, de 33%, e possibilidade de aumento da tarifa de ônibus.

As críticas soaram em desentendimento público, entre o prefeito Alan Guedes e o deputado estadual Barbosinha, hoje ambos do mesmo partido, PP. “Sempre fiz oposição nos quatro anos da ex-prefeita Délia Razuk, mas fiz uma oposição sempre muito responsável, sem pessoalizar. As pessoas veem que tem uma oposição que ela é pessoal. Eventualmente porque elas não gostam de mim ou porque queriam ser prefeito em meu lugar. Não sei. Mas é pessoal. Nós não temos mais nenhum problema com a Câmara Municipal”, diz.

Sobre as eleições de 2022, o prefeito da segunda maior cidade de Mato Grosso do Sul reforçou em entrevista ao jornal O Estado que está com o candidato Eduardo Riedel (PSDB), que tem como vice o Barbosinha, que foi um dos seus concorrentes na corrida pela vaga de prefeito de Dourados. No entanto, Guedes ressalta que isso não afeta nem o afasta da campanha do Riedel.

“Não, não me afasta porque eu não tenho compromisso com ele. Tenho compromisso com o Eduardo Riedel e eu tenho palavra. Eu só cheguei até onde eu estou agora porque eu tenho palavra, e na política você só tem a palavra. Então, como eu dei minha palavra ao Eduardo e ao governador Reinaldo Azambuja, no passado, eu honro e cumpro”, garantiu.

O Estado: Dourados adquiriu recursos de US$ 50 milhões para obras de infraestrutura e modernização. A maior parte virá do Fonplata (Fundo Financeiro para o Desenvolvimento da Bacia do Prata) e outros de contrapartida do município. Quais ações serão feitas para saneamento, mobilidade urbana e infraestrutura?

Guedes: Ele é um fundo internacional, multilateral, dos países da Bacia do Prata (Brasil, Argentina, Paraguai, Bolívia e Uruguai). Cada país tem um pedaço do seu orçamento que vai para o banco fazer os investimentos. Desde o início da gestão, nós tínhamos uma meta para captar recursos para fazer investimento. Porque uma coisa é o recurso de emenda federal, recebemos um bom volume em 2021, mas precisávamos ter um valor mais vultoso para poder impactar de fato o investimento. Então, assumimos com as contas um pouco complicadas e isso não permitia.

A gente foi conseguindo fazer esse equilíbrio. Regularizar tudo e então fomos para o Fonplata. O processo começou em abril do ano passado, quando nós submetemos ao banco uma carta consulta, que é uma manifestação de interesse do município em contratar um financiamento internacional. Temos de ter as contas em dia, não pode ter nenhum débito financeiro com a União, fiscal, tributário e principalmente previdenciário. Então todo esse conjunto permitiu que hoje pudéssemos ostentar bons índices de gestão fiscal e financeira

Então nós criamos um programa que chama Programa de Desenvolvimento de Dourados, tem a captação dos US$ 40 milhões (R$ 208 milhões), só que são US$ 50 milhões (R$ 260 milhões) porque o Fonplata para emprestar ele requer 10% de investimento próprio.

Essa aprovação representa o maior programa de investimento da história da cidade de Dourados. Então os principais investimentos como drenagem e asfalto vão consumir um bom valor disso. A parte ambiental também, porque nós vamos ter duas avenidas importantes, uma no Córrego do Paragem e outra no Córrego Água Boa, e vamos inclusive recuperar áreas degradadas.

São ações que vão se somando a outras que já estão acontecendo e que vão melhorar muito a mobilidade e a segurança no trânsito. Uma parte do programa com viés institucional será bastante importante para a recuperação de alguns prédios públicos, como o teatro municipal.

O Estado: O asfalto é um grande problema da cidade. Há muitos buracos. O quanto já foi feito de recapeamento e quanto precisa ser investido para recuperar a malha viária?

Guedes: A nossa cidade tem um asfalto velho, principalmente nos bairros. É um asfalto de 40 anos e a gente tem muita dificuldade com isso. Hoje, na área central, em algumas regiões há um investimento sendo executado pelo Governo do Estado que vai ajudar muito a avançar nesse critério. Com isso, nossos serviços de recuperação vão para os bairros. Nós temos dois contratos, um contrato próprio que está avançando e vamos investir ano que vem em tapa-buracos. Algo em torno de R$ 10 milhões ao ano. A previsão deve ir para o orçamento. Com isso, eu acredito que a gente consiga recuperar a malha viária.

O Estado: Como a gestão, conseguiu evitar o aumento da tarifa de ônibus? Existe uma “varinha mágica” para resolver os problemas do transporte público?

Guedes: Não. Transporte público não tem varinha mágica, tem compromisso político e responsabilidade. Em Dourados, temos um contrato com uma concessionária que foi renovado recentemente. Foi licitado pela gestão anterior e logo no início da nossa gestão, nas pautas com os funcionários, o diretor da empresa disse que no futuro deve tomar uma decisão. Porque a tarifa técnica, o transporte coletivo de maneira geral, não só em Dourados, ele funciona mais ou menos da mesma forma em todo o país. Existe uma planilha e todos os custos são jogados nela.

O equilíbrio financeiro permitiu que a gente pudesse fazer um subsídio à concessionária. A tarifa técnica hoje estava em torno de R$ 5,60. Então não tem cabimento, não tem condições de sair de uma tarifa de R$ 3,50 para este valor. É um aumento que impacta muito na vida do trabalhador, na vida de quem usa. Qualquer aumento neste momento da economia do país seria muito danoso. Então nós começamos uma negociação muito franca e transparente com a concessionária, com o interesse em fazer um subsídio da tarifa. Colocamos dentro do custo do transporte o equivalente a R$ 380 mil por mês. Solicitamos a autorização legislativa pra Câmara, fizemos a alteração orçamentária e passaremos o recurso para a empresa num período de um ano e oito meses de gestão.

O Estado: Como prefeito, tem enfrentado problemas de relacionamento com a Câmara Municipal. Existe uma ala que ainda não aceita a derrota nas urnas?

Guedes: Existe e a gente respeita. Não tem o que fazer. Tratamos todo mundo com respeito e temos um relacionamento harmonioso na Câmara Municipal. Mas tem um grupo que entende que atacar pedra torna tudo melhor. Mas nós estamos há um ano e oito meses mostrando resultado nos índices fiscais, de gestão em saúde e recursos na educação. Tínhamos a obsessão desde o início da gestão de preparar pra que a cidade pudesse fazer investimentos, como no caso do ônibus; esse equilíbrio financeiro nós promovemos com muito esforço. Mas a Câmara tem o papel dela, temos uma base de pessoas, de vereadores que são próximos da gestão, que nos ajudam a encontrar caminhos, apontar soluções. Eu sou ex-vereador, fui presidente da Câmara, entendo o papel e a importância da Câmara.

O Estado: Por ter sido ex-presidente da Câmara não imaginava um clima mais harmonioso?

Guedes: Sempre fiz oposição nos quatro anos da ex-prefeita Délia Razuk, mas fiz uma oposição sempre muito responsável, sem pessoalizar. As pessoas veem que tem uma oposição que ela é pessoal. Eventualmente porque elas não gostam de mim ou porque queriam ser prefeito em meu lugar. Não sei. Mas é pessoal. Nós não temos mais nenhum problema com a Câmara Municipal, passo todas as matérias com tranquilidade. A gente tem de apresentar caminhos porque o problema das pessoas, o problema da cidade, é um problema real.

O Estado: Sobre atritos. Teve o episódio com o deputado estadual Barbosinha. Como anda o relacionamento? Foi resolvido?

Guedes: Como eu disse, o campo pessoal fica no campo pessoal. O que aconteceu é que o Barbosinha perdeu a eleição. A derrota talvez ela não tenha sido digerida no período que deveria ter sido. E o deputado Barbosinha optou em seguida por fazer uma oposição à administração da cidade. Feito isso, a gente não recupera, não volta atrás a essa oposição. Agora ele é candidato a vice-governador e eu quero que, como vice-governador, se ele se eleger, possa ajudar a cidade, como não ajudou no período em que foi deputado e eu prefeito. Do ponto de vista pessoal, zero problema porque eu não transfiro para campo profissional, político, às questões de ordem pessoal.

O Estado: A indicação de Barbosinha a vice de Eduardo Riedel (PSDB), candidato ao governo, te fez afastar da campanha ao governo?

Guedes: Não, não me afasta porque eu não tenho compromisso com ele. Tenho compromisso com o Eduardo Riedel e eu tenho palavra. Eu só cheguei até onde eu estou agora porque eu tenho palavra, e na política você só tem a palavra. Então como eu dei minha palavra pro Eduardo e ao governador Reinaldo Azambuja, no passado, eu honro e cumpro minha palavra. As questões de natureza política com relação a indicação, isso não me diminui, não me afasta da campanha, porque justamente o compromisso é maior do que isso.

O Estado: Pretende continuar no partido?

Guedes: Eu não tenho razão hoje para sair. Tenho uma relação boa com a presidente do partido, que é a deputada Tereza Cristina, candidata ao Senado. Nenhum problema, eu acho que o partido é um partido grande, é um partido importante. Quando fui eleito no PP, foram eleitos apenas três prefeitos, eu, o prefeito Lídio (Ledesma) de Iguatemi e o prefeito de Costa Rica, Cleverson (Alves), depois na eleição suplementar a prefeita de Sidrolândia Vanda (Camilo).

Então nós éramos em quatro, hoje no partido é algo em torno de 20 prefeitos. Todos nós fomos recebidos muito bem, éramos o partido no Estado, do deputado Evandro, deputado Gerson Claro e todos se sentiram muito confortáveis com a chegada desse novo grupo, com a chegada da Tereza e dos prefeitos. Então eu não vejo motivo nem razão pra pensar em troca de partido.

O Estado: Projetando a eleição de 2024, já definiu se sairá à reeleição?

Guedes: Está cedo ainda para pensar na reeleição. Precisamos passar esta eleição com um bom trabalho. Esta é a missão. Um trabalho que efetivamente seja reconhecido pelas pessoas e eu tenho muita convicção de que o pior momento da cidade já passou. Hoje a gente está vivendo um novo momento. Desde o ponto de vista do equilíbrio financeiro, dos investimentos, nós estamos conseguindo fazer obras com recurso próprio, começamos esta semana a construção de 48 salas de aula modulares. Então, em um ano e meio de gestão, talvez eu não tenha tido a notícia de que aqui em MS algum colega prefeito, nesse ou no mandato anterior, tenha construído 48 salas de aula neste período de gestão. Claro que vamos concluir até o fim do ano, mas essas salas são equivalentes a quatro escolas novas no padrão de 12 salas do FNDE.

Então os investimentos estão sendo feitos em educação tecnológica, infraestrutura, e esse volume de investimentos também se dá ao trabalho, às características das pessoas do nível de conhecimento que eu tenho com as pessoas em Dourados. Tenho certeza de que naturalmente pavimenta uma candidatura pra reeleição, embora esteja cedo pra se discutir isso. Discutir composição, aliança, mas é o caminho natural de quem enfrentou dificuldades no início, mas com toda a tranquilidade eu sei que nós estamos no caminho certo.

O Estado: Ao fim do mandato, pretende apresentar qual legado?

Guedes: Eu pretendo apresentar à cidade, um legado de respeito e de entrega de gestão da coisa pública. Gestão no sentido de equilíbrio, no sentido de pontuações. De notas, temos os índices oficiais que comprovam a boa gestão. Porque, se a gente fizer boa gestão, do ponto de vista financeiro e do equilíbrio financeiro, as entregas são uma consequência natural disso. Então, como legado eu quero deixar a autoestima douradense renovada, bem de novo, de volta como a principal cidade do interior, como a cidade que irradia desenvolvimento para uma região que tem 1 milhão de habitantes. Todos os investimentos que a gente faz é pensando nessa retomada do protagonismo de Dourados.

Veja também: Alan Guedes investirá US$ 40 mi e promete mudar Dourados

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