Por IZABELA CAVALCANTI (O ESTADO MS) – A exploração do pó de rocha pode ser uma alternativa para solucionar a crise no fornecimento de fertilizantes para a agricultura brasileira. Mato Grosso do Sul tem potencial para este segmento com, pelo menos, três mineradoras que se destacam na remineralização dos solos com o calcário.
De acordo com o secretário da Cadeia Produtiva da Mineração da Semagro (Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar), Eduardo Pereira, no Estado existem mineradoras em atividade que conquistaram o registro do Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento). É o caso da Mineração Esteio, em Itaporã, e da Mineração Campo Grande, no município de Terenos.
Já a Mineração São Francisco, localizada em Inocência, está em processo de obtenção do registro para comercializar remineralizadores. Segundo a geóloga Magda Bergmann, essa nova alternativa não será para competir com os fertilizantes solúveis, mas sim para complementar.
“A nova rota alternativa de insumos para produção agrícola não pretende competir com os fertilizantes solúveis, mas complementar o uso desses fertilizantes. Inclusive, as rochas não possuem teores equivalentes ao dos fertilizantes solúveis e também, não necessariamente, possuem todos os nutrientes que uma determinada cultura agrícola exige. O conhecimento dessas rochas não passa de um potencial”, destacou.
De acordo com a Semagro, existem vários tipos de rochas com características diferentes, em diversas regiões do Brasil. Em Mato Grosso do Sul ocorre a formação Serra Geral, que abrange do sul ao norte do Estado, composta por rochas basálticas. As rochas alcalinas (Fecho dos Morros e Morro Pão de Açúcar), no município de Porto Murtinho, e os calcários e fosfatos, na Serra da Bodoquena.
“As rochas basálticas têm expressividade nos terrenos de planalto, que são as áreas de maior presença da agricultura do MS e, também, a mesma unidade geológica ocupa parte das regiões Sul (PR, SC e RS), Sudeste (SP) e Centro-Oeste (MS, MT e GO) do país, que receberam derrames vulcânicos há milhares de anos”, acrescentou Bergmann.
Segundo o titular da Semagro, Jaime Verruck, os fertilizantes, conhecidos como formulações de NPK (nitrogênio, fósforo e potássio), em sua maioria, são importados com custos elevados, além de serem controlados por poucos países produtores, como Estados Unidos, Rússia, Ucrânia, Canadá, China e Alemanha.
“Estamos vendo a dificuldade de importar esses fertilizantes, em razão de embargos aos países que estão em guerra (Ucrânia/Rússia) e, principalmente, pelo alto custo de importação. Para não sofrer com a dependência desse tipo de insumo altamente solúvel (NPK), o uso de remineralizadores (conforme princípios da tecnologia da rochagem), passa a configurar se como uma alternativa viável (ou nova rota tecnológica), que auxiliará na redução de usos de produtos químicos, na dependência externa e na remineralização dos solos, por meio da adição de multinutrientes (derivados das rochas), o que facilitará a recuperação e renovação do solo”, salientou Verruck.
Custo
Segundo pesquisa desenvolvida na UnB (Universidade de Brasília), os custos de aquisição de pó de rocha são menores que o dos insumos importados. A diminuição é de cerca de 20% a 30% do valor dos insumos convencionais, com o efeito se estendendo por até cinco anos consecutivos (disponibilização lenta dos nutrientes).
Além disso, os níveis de fertilidade são crescentes e os resultados positivos ainda são observáveis até cinco anos após a aplicação dos remineralizadores; a produtividade também se mostra equivalente ou superior às obtidas pela fertilização convencional.
O rendimento também pode ser maior, em alguns casos chegando a 30% mais do que o obtido com insumos químicos.
Brasil
Segundo o geólogo e pesquisador Eder Martins, da Embrapa Cerrado, somente no ano passado, os remineralizadores foram aplicados em cerca de 3 milhões de hectares no Brasil.
Integrantes do GAAS (Grupo de Apoio à Agricultura Sustentável), de Goiás, comentam que já aplicam pó de rocha há mais de dez anos em seus campos, sendo que alguns produtores já substituíram totalmente os fertilizantes convencionais por pó de rocha.
O PNF Plano Nacional de Fertilizantes) inclui como meta a certificação de até 1.000 minas até o ano 2050, potencialmente fornecendo remineralizadores a todas as regiões do Brasil, com uma produção de cerca de 18 milhões de toneladas.