Especial Consciência Negra por Geliel Oliveira e Rafael Belo
Apesar de 54% da população sul-mato-grossense ser negra, o Estado lidera o ranking de mulheres negras sob trabalho desprotegido na região centro-oeste, segundo o estudo publicado pela Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), no segundo trimestre de 2021, o número de mulheres negras que atuam em trabalho desprotegido, que corresponde a 51%, é 16% maior que o número de mulheres não negras sob o mesmo índice.
A pesquisa evidenciou também que, a diferença no rendimento médio entre mulheres negras, que corresponde a R$ 1.951,00 e não negras, que representa R$ 1.951,00 chega a assombrosos 52.8%. O rendimento para a classe masculina também não fica para trás, são R$ 2.553 para homens negros e R$ 3.841 para não negros, uma diferença de 50.4%.
Durante a pandemia que afetou diversos setores, a taxa de subutilização da força de trabalho foi de 30,2% para mulheres negras e 21,9% para mulheres não negras, já para os homens o índice foi menor, 16,4% para negros e 14% para não negros.
A ex- ministra-chefe da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro, como ela mesma diz, quebrou barreiras e conquistou espaços distantes dos estruturalmente impostos às mulheres negras. Além de professora universitária, é assistente social, militante do movimento negro e de mulheres negras, escritora, também, gestora pública e ícone das frentes de lutas pela equidade social e de gênero no Brasil.
Foi ela que deu início a tramitação do Estatuto da Igualdade Racial e convenceu, o então presidente Lula para implementar as quotas raciais mesmo contra os ministros da época Tarso Genro e Fernando Haddad que se posicionavam opositores da ideia e defensores apenas das quotas sociais. Assim, desencadeou manifestações contrárias a ele de jornalistas negacionistas da existência de racismo no Brasil como Ali Kamel.
“Antes da graduação eu não tinha me atentado a este nosso mundo racista e machista”, destacou a ex-ministra Matilde Ribeiro que aos 61 anos se revelou poeta com seu canal do youtube “Memórias Poéticas”. Para a ex-ministra, a percepção da vida das mulheres, principalmente das negras, não é vista pela sociedade a partir de todas as suas potencialidades.
Imposição
“Em geral, a vida das mulheres é muito limitada por uma visão de que mulher nasceu para casa (trabalhos doméstico), mesmo hoje no século XXI. Ainda há o estereótipo de que mulher nasceu para casa, para cuidar de filho, que não nasceu para outra profissão diferente da de empregada doméstica” pontuou. Para ela esse “pensamento social” causa uma repulsa até de pensar.
“Considerando que, quando nós temos oportunidade, nós seguimos a vida e vamos em frente. Então, eu sou filha de empregada doméstica com um trabalhador na área de serviços. Durante muito tempo meus pais trabalharam na roça. Minha mãe era totalmente analfabeta, meu pai semi-analfabeto. Então, na minha família não tinha condições para me tornar esta pessoa que sou hoje: doutora, fui ministra e sou professora universitária. Tudo isso aconteceu com muito esforço pessoal e da minha família, além de insumos na comunidade onde eu morava. Mas não é esse o destino imposto para a maioria das mulheres”, analisa Matilde Ribeiro..
Ela acredita que alguma luz se acendeu sobre ela, que quebrou barreiras. Muitas de nós (mulheres negras) estamos onde estamos por quebrar muitas barreiras. A maioria das mulheres negras não nasce em família de classe média com as oportunidades postas, a gente conquista”, aponta.
Ela está no podcast Questão de Pele, comandado por Romilda Pizano, que está no ar nas plataformas do Jornal O Estado Play. Veja:
Matéria editada às 09h38 para acréscimo de informações.