Após flexibilizar medidas de isolamento e outras estratégias de prevenção contra o novo coronavírus, a Europa voltou apresentar números alarmantes de mortes e pessoas infectadas. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o continente teve uma “maior aceleração” na disseminação do Sars-CoV-2 e se tornou o responsável por metade dos novos casos de Covid-19 e do aumento de 46% nas mortes, em consequência da doença, registradas no mundo na última semana.
Para conter o avanço da segunda onda do novo coronavírus, países como Itália, Lituânia, França, Alemanha e Reino Unido voltaram a impor o lockdown, que não foi bem aceito por parte da população que quer a retomada total do comércio ainda na pandemia.
Atitudes semelhantes causaram a segunda onda na Europa, como apontado pelo o Dr.Sergio Botti, Médico Infectologista com Doutorado em Saúde Pública pela Fiocruz.
“Tudo nos leva a crer que os principais fatores que levaram a uma segunda onda na Europa foram o afrouxamento do distanciamento social e do uso universal de máscaras. O retorno das atividades escolares e universitárias também parece que auxiliou. Em contribuição, a surdez dos governantes aos clamores da saúde pública e da epidemiologia para reforçarem as estratégias de testes em maior volume e rastreamento de contatos, além de reintroduzir as restrições aos primeiros sinais de crescimento da pandemia – ações efetivas de vigilância epidemiológica”, explicou o especialista.
O infectologista ainda frisou que ações de vigilância devem ser respeitadas e reforçadas para evitar que o Brasil tenha uma alta acentuada na quantidade de novos casos, assim como vem acontecendo na Europa.
“Esse é o grande ensinamento que podemos aproveitar. Não podemos desrespeitar as regras de ouro e devemos reforçar as ações de vigilância, com aumento do número de testes diagnósticos, efetivo rastreamento, testagem e estabelecimento de quarentena de 14 dias para os contatos, mesmo que o seu teste seja negativo. São as únicas medidas capazes de fazer com que a curva de infecções e mortes pelo coronavírus se mantenha em queda no nosso meio”, concluiu Sérgio Botti.
Brasil
A segunda onda de Covid-19 pôs em alerta o hemisfério Norte, que entrou na estação mais fria do ano. Já no Brasil, o verão pode ajudar na luta contra o coronavírus, se a população tomar os devidos cuidados, como apontado pelo pesquisador do Observatório de Pesquisa da Covid-19 na Fiocruz, Christovam Barcellos. Segundo o especialista, a chegada da época mais quente do ano seria ideal para preparar o sistema de saúde e evitar um futuro colapso.
“Essa segunda onda já é preocupante para o hemisfério norte. No Brasil, talvez tenhamos um tempo, que vai coincidir com o nosso verão, para nos anteciparmos tanto no incentivo às medidas de proteção individual, quanto na reestruturação do serviço de saúde, com mais testes, identificação das populações mais vulneráveis, dos casos que podem ser graves, internação para os casos mais graves e tratamento os casos mais leves. Também podemos preparar uma estratégia para vacinação e impedir ou desestimular as aglomerações durante o verão, que é muito comum na praia, encontros de família, como no Natal, que devem ser práticas evitadas de qualquer maneira, para a gente não ter surto nos próximos meses”.
Conforme aponta o pesquisador Christovam Barcellos, o Brasil apresenta uma lenta queda no número de casos registrados de Covid-19, por isso, não se pode afirmar que o país já superou a primeira onda, ao contrário do que acontece nos Estados Unidos.
O rápido avanço do novo coronavírus no Brasil mostrou a falta de preparo do país para lidar com uma grave epidemia. Além dos desvios de verbas voltadas para a área da saúde, que resultaram no fechamento de diversos hospitais de campanhas, os hospitais públicos também enfrentaram uma grande crise, devido ao aumento da quantidade de pacientes e falta de material essencial para atendê-los.
Por isso, o governo precisa desempenhar um papel fundamental para conscientizar o brasileiro e concentrar seus esforços em melhorias para o sistema de saúde, como explicou o Médico Infectologista com Doutorado em Saúde Pública pela Fiocruz, Dr. Sérgio Botti.
Para tornar o sistema de saúde brasileiro eficaz no combate ao coronavírus, é preciso melhorar a vigilância na saúde, e o SUS tem papel de grande importância neste processo, podendo trabalhar de forma semelhante ao que vem sendo realizado em países europeus, como a Inglaterra.
“Podemos olhar para o que a Europa está fazendo, com um sistema de vigilância muito forte, que não realiza somente testes, mas também faz a identificação de locais de risco. Na Inglaterra, se detecta até alguns bares que podem estar sendo fonte de transmissão, e há a intervenção sobre esses bares. O SUS é poderoso e tem uma tradição de vigilância em saúde que deve ser utilizado e aperfeiçoado durante o verão, para que a gente se prepare para uma possível segunda onda – que pode ser evitada com a vacina – a partir de março e abril, quando acaba o verão”, explicou Christovam Barcellos.
(Com informações: Terra)