‘Cracolândia’ se estabelece na Orla Ferroviária e causa preocupação

Conforme o comandante do 1º BPM, o local é um tendão de Aquiles, em termos de entorpecentes

A Cracolândia da Capital, população em situação de rua, composta na sua maioria por dependentes químicos e traficantes, se estabeleceu na Orla Ferroviária, região central. Muitos usuários migraram da antiga rodoviária, onde era considerada a cracolândia de Campo Grande. Eles deixaram o prédio após uma intervenção da Polícia Militar, Polícia Civil e o município.

Segundo os comerciantes, o número de usuários da região aumenta a cada dia. Outro problema da região são os vagões, trailers, que ainda não foram retirados e servem de abrigo para os usuários. O último a ser retirado pela prefeitura foi em abril do ano passado. Na Orla ainda tem três vagões. Antenor Santos, 56 anos, tem uma loja na rua Dom Aquino, próximo da Orla, há 30 anos. Segundo ele, o aumento na população em situação de rua foi de 80%.

“Os clientes ficam com medo de vir até a loja, principalmente, quando eles estão todos aglomerados nas esquinas. O número de usuários na Orla era bem menor, a maioria veio da antiga rodoviária quando a polícia se instalou lá. A nossa situação está horrível, o poder público precisa fazer alguma coisa, já não é só questão de segurança”, assegurou.

Genilza Lopes, 50 anos, é gerente de um brechó que fica praticamente do lado da Orla. Ela afirmou que todo dia o número de pessoas no local aumenta. “Tem os que migraram da antiga rodoviária, mas a cada dia aumenta mais e são umas pessoas estranhas, inclusive, já vi gente até com tornozeleira eletrônica”, assegurou.

A costureira Lilian Vilela, 41 anos, está no mesmo ponto na rua Dom Aquino há 10 anos. Ela garantiu que se nada mudar em relação aos usuários, esse será o último ano no local. “A quantidade deles era muito menor, hoje eles são muitos. Brigas acontecem direto e como eles usam pau e pedra, eu tenho que correr e fechar a porta para não ser atingida ou um deles invadir a loja. Então, aqui não dá mais, tenho pedidos das próprias clientes para mudar de local”, ressaltou.

Conforme outro comerciante que não quis se identificar, o problema maior é a venda de droga que ocorre a qualquer horário e local. “A impressão que dá é que nessa região da Orla a droga está liberada, eles compram e usam na cara dura. Os vagões também contribuem, porque além de dormir, eles escondem droga e objetos furtados. Os clientes já não querem mais descer para esse pedaço da Dom Aquino, justamente porque tem que passar pela Orla”, disse.

Segundo Adelaido Vila, presidente da CDL (Câmara de Dirigentes Lojistas), realmente houve o aumento da população em situação de rua na Orla. Ele alega que o local precisa ser ocupado e as pessoas encaminhadas para tratamento. “Temos propostas para transformar a Orla em estacionamentos, hoje, o grande problema do centro é justamente a falta de vagas. No entanto, se não acontecer uma intervenção com essas pessoas e elas serem submetidas a tratamento, não vai resolver, tendo em vista que elas vão para outro vazio urbano”, reiterou.

Em nota, a SAS (Secretária Municipal de Assistência Social) afirmou que serviços são oferecidos para população em situação de rua e que dentre os serviços existe o SEAS (Serviço Especializado em Abordagem Social), que trabalha 24h por dia realizando abordagens e que são encaminhados para o Centro POP apenas as pessoas que aceitam atendimento. O município oferta ainda um trabalho psicossocial com os usuários e que por meio da parceria com a subsecretaria de Direitos Humanos, eles são encaminhados para comunidades terapêuticas.

Policiamento

O comandante do 1ºBPM (Batalhão da Polícia Militar), tenente-coronel Wellington Klimpel, alegou que a Orla Ferroviária é o tendão de Aquiles, em termo de entorpecente, da região central. “Nós fazemos diversas abordagens, todo dia existe policiamento preventivo e ostensivo na área, prendemos pessoas que estão ali naquele aglomerado, mas o problema persiste. Ali não temos tráfico de grandes proporções, coisas ínfimas, gramas”, garantiu.

Conforme a Polícia Militar, o aumento se deve ao fato de que muitos usuários migram de uma região para outra conforme o policiamento é intensificado. “Foi o que ocorreu no prédio da antiga rodoviária, com a intervenção muitos usuários migraram para outras regiões, incluindo a Orla Ferroviária”, explicou o tenente-coronel.

A base móvel comunitária do 1ºBPM foi instalada na antiga rodoviária no dia 20 de março deste ano e desativada em 22 setembro. Segundo o comandante, a base foi desativada para melhor aproveitamento da equipe que ficava fixa fazendo o policiamento de um grupo pequeno de pessoas. “Agora. eles patrulham o bairro Amambaí inteiro, aproximadamente 12 mil pessoas, em uma viatura móvel. E é importante frisar que mesmo sem a base, os usuários não retornaram para o prédio, porque continuamos fazendo um policiamento intensivo na região”, declarou.

Jaime Andrade, 67 anos, vende carro no prédio da antiga rodoviária. Segundo ele, o local melhorou em 100% sem os usuários. “Achávamos que eles iriam voltar quando a base da polícia foi retirada, mas graças a Deus isso não aconteceu. Aqui ficou muito melhor, até as vendas subiram, porque agora as pessoas não têm medo de vir até aqui”, disse.

(Texto: Rafaela Alves)

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