Índices registrados em Ladário são os mais baixos em quase 50 anos
Como se não bastasse os incêndios que já consumiram quase 3,2 milhões de hectares do bioma, o Pantanal sofre com outro problema causado pela estiagem: a seca do Rio Paraguai. De acordo com os dados do Serviço Geológico do Brasil, os índices de medição apresentam os menores números em quase 50 anos. Curiosamente quase o mesmo tempo pelo qual o Estado não tinha tanto tempo sem chuva.
Segundo o Serviço de Sinalização Náutica da Marinha, o Rio Paraguai atingiu na terça-feira (23) nove centímetros em seu ponto de medição em Ladário. Em Corumbá, no Forte Coimbra, a situação é ainda pior: de -0,84 centímetros.
São os píores números da região em quase 50 anos, quando a bacia do Paraguai apresentou seca semelhante aos dias atuais. Durante o período entre 1968 e 1973, a estiagem castigou o Paraguai. Dados do SGB apontam que o ponto de medição em Ladário foi de -2 centímetros em 19 de outubro de 1973. Recorde negativo que está próximo de ser alcançado, já que a previsão da própria Marinha é que o rio atinja -11 até o final deste mês.
A situação não é necessariamente inédita. No início do século passado, após se definir qual seria o nível 0, o Pantanal atingiu -48 em outubro de 1918. Em setembro de 1964, um novo período de secas bateu recorde em quase -50, segundo os dados do pesquisador Marcelo Parente Henriques.
Mas desta vez a estiagem traz problemas. Grande parte dos 2,7 mil quilômetros do Rio Paraguai passa pelos biomas atingidos pelos incêndios. E, sem água no leito, não há inundação. Sem a inundação, o fogo vence a floresta.
“Seca de rio é algo comum desde que ele não esteja canalizado. Mas diferente das situações do século passado, o Rio Paraguai agora tem uma importância sócio-econômica enorme, de comércio e a própria sobrevivência da população que ele atende. Os danos são muito maiores, já que existe a indústria do agronegócio no entorno, populações muito maiores”, disse Alexandre Delijaicov, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (Universidade de São Paulo), especialista em rios e coordenador do Grupo Metrópole Fluvial, que integra diversas universidades e estuda o comércio marítimo brasileiro.
Os efeitos de dois anos seguidos de seca, podem ser catastróficos. Os dados apontam que o rio ainda não se recuperou da estiagem de 2019. Na ocasião, após variar entre dois e três metros de profundidade, os índices baixaram para um metro e até mesmo centímetros. E até agora não se recuperou.
Neste ano, o maior índice registrado foi em 8 de junho, quando atingiu 2,1 metros. Desde 1º de julho, contudo, quando atingiu 2,02 metros, a medição só apontou queda. Ou seja, em 86 dias o Rio Paraguai nunca apresentou aumento de profundidade.
E os problemas ocasionados pela seca já aparecem com força à população pantaneira. Cerca de 2,39 milhões de pessoas vivem as margens do Paraguai. E em diversos trechos há acúmulo considerável de sedimentos, que a pouca água não tem força para empurrar. Onde era rio, agora são largas ilhas de areia e terra, sendo possível andar a pé ou carro.
Sem água, a navegação está interrompida e toda uma parte considerável do comércio de Mato Grosso do Sul está prejudicada. É pelos portos de Corumbá e Porto Murtinho que são escoados soja e minério, base do comércio exterior do Estado, junto com a celulose. Acesse a reportagem completa.
(Texto: Rafael Ribeiro)