Pré-candidato do Solidariedade à Prefeitura de Campo Grande fala sobre projeto e faz análise política
Sem rodeios, Marcelo Miglioli vive Campo Grande na sua intensidade. Durante a pré-candidatura, uma das primeiras a serem anunciadas para prefeito da Capital, tem se focado em andar pela cidade, ouvir e mapear soluções que possam “resolver” o município de forma assertiva. Para isso, aposta no que chama de “desenvolvimento social”. Segundo o ex-secretário de Obras do Estado, apenas o desenvolvimento econômico não pode ser a pauta, já que a partir dele tem de se incluir mais, gerar empregos, e pensar com prioridade a qualidade de vida das pessoas. Vindo de uma eleição para o Senado, Miglioli traz lições para 2020, só que manteve a essência. A mesma que o credenciou, com muito trabalho, a ser um chefe de pasta que inaugurou 1,5 mil obras no Estado, saiu sem mácula do cargo e pode hoje de cabeça erguida sonhar em administrar a cidade em que vive. Ao jornal O Estado, o pré-candidato do Solidariedade responde sobre as suas intenções, sua visão para Campo Grande e o próprio cenário da disputa.
‘A minha linha é programática, e baseada no que deve ser feito’, fala Miglioli.
O Estado: A sua pré-campanha começou no ano passado. Tem ido a diversos bairros, realizado reuniões, procurando ouvir a população. Mas não tem receio de ser tachado como candidato populista?
Miglioli: Não, pelo ao contrário. Estou sendo candidato de propostas. Candidato populista é aquele que fica carregando cesta básica, que fica colocando máscara em meio a caminhões para fazer de conta que está trabalhando nas ruas da cidade… Isso que é populismo. Eu e a minha equipe não fazemos isso. Nós andamos pelas ruas de Campo Grande, na extrema na ponta, para poder entender e resolver problemas como de uma favela, de pessoas que vivem extrema pobreza e neste paralelo estamos apresentando um projeto a Campo Grande. Agora teve de parar por questão da pandemia. Mas desde o lançamento do “Pense Grande em Campo Grande” que a gente tem dito que a nossa proposta é programática, ou seja, estamos apresentando um programa para a cidade. Nada ideológico. Nós não estamos nesta linha e não desde agora.
O Estado: O Solidariedade jamais disputou uma eleição majoritária em Campo Grande. Como fazer para que o partido seja uma surpresa como já foi o PP em 2012?
Miglioli: Olha, temos um partido jovem, novo, pequeno, mas de pessoas aguerridas. Eu fui convidado pelo vereador Papy, (Epaminondas Neto), que é presidente. Temos dois deputados, que têm a base em Campo Grande, o Herculano Borges e o Lucas de Lima, e a gente vem construindo este trabalho. Fizemos uma grande chapa de candidatos pré-candidatos a vereadores, são pessoas que realmente estão com propostas, de fazer a boa política. E já estamos com a chapa completa. Então, o partido vem construindo. A gente tem uma experiência em eleição. Eu fiz parte de equipes de campanha das últimas quatro eleições e as outras pessoas do partido também são experientes. O Solidariedade está tendo uma oportunidade de onde nunca teve. Vejo como um grande desafio. Uma decisão de coragem, inclusive, a própria decisão minha de sair de um partido gigante, como PSDB, e ir para um partido do tamanho do Solidariedade, mostra que não estou atrás de populismo, mas de fazer proposta diferente.
O Estado: O senhor foi secretário estadual de Infraestrutura, conseguiu elevado número de votos como candidato ao Senado; a decisão de concorrer à eleição passou pelas urnas em 2018?
Miglioli: Não diria que foi só por isso, mas obviamente, quando você se propõe a ser candidato e vem com foco de ganhar, então tem de se preparar. Senão, corre-se o risco de sentar em uma cadeira na qual não está preparado para ela, um exemplo que digo é o atual prefeito (Marquinhos Trad). Ele se preparou tanto politicamente, mas ele esqueceu de se preparar administrativamente para ser prefeito de Campo Grande. Nós estamos vendo a nossa Capital como está hoje. Eu venho de um histórico em que eu fui empresário, secretário, disputei uma eleição majoritária, obviamente tudo isso vai dando pilares necessários para a construção de um projeto. Hoje, eu me sinto preparado para ser prefeito da nossa Capital. Entre os ingredientes, sem dúvida, existe o ingrediente eleitoral, que foi disputar a eleição de Senado. Foi uma experiência positiva, um reflexo do trabalho na Secretaria de Obras do Estado.
“Eu elogiei… e acreditei!”. Vídeo gravado oferecendo apoio ao prefeito fez pré-candidato se arrepender: “O governo que deu toda a condição ao Marcos de começar administração. Quem resolveu o tapa-buraco fui eu”.
O Estado: Como ex-secretário do Governo Azambuja, o senhor acredita que poderá se unir ao PSDB em uma chapa caso o partido não feche apoio com o prefeito?
Miglioli: Hoje a chance é zero. Não existe esta possibilidade.
O Estado: Por quê?
Miglioli: Porque o PSDB tem duas alternativas. O governador Reinaldo Azambuja tem dito que tem um compromisso com Marcos (Trad) e eu disse lá atrás que não caminharia com o prefeito. E na hipótese de o compromisso não se concretizar, o PSDB terá candidatura própria. Eu entendo que o PSDB, hoje, tem dois caminhos: caminhar com Trad ou uma candidatura própria.
O Estado: O PSDB sempre foi muito próximo do PSD do prefeito Marquinhos Trad. O senhor chegou a publicar um vídeo elogiando o prefeito; como fica agora?
Miglioli: Eu elogiei… e acreditei. Tanto é que, quando ganhou a eleição contra o próprio PSDB, eu fiz de tudo para ajudá-lo. Quem resolveu o problema na época do tapa-buraco de Campo Grande? Fui eu. Quem assinou convênio e recuperou R$ 250 milhões em investimento? Fui eu. Quem deu toda a condição do Marcos começar e desenvolver a administração? Foi o governo do Estado, e na época em que eu era secretário. Agora o Marcos vem se mostrando ao longo do período um péssimo gestor… Um prefeito que olha apenas para o umbigo, não criou oportunidades, e cria pessoas submissas a ele, no ambiente político. E eu entendo que Campo Grande precisa de um projeto diferente. Quando eu elogiei o prefeito Marcos nós estávamos no início do processo, que foi em 2018. Ele estava no início da gestão. Só que hoje, no fim do mandato, que não sou eu que estou falando, mas foi o prefeito que falou que: “Não tem dinheiro para fazer um 1 km de asfalto”. Eu, como prefeito da Capital, chegar ao último ano de mandato e ter de reconhecer que uma cidade como Campo Grande não consegue fazer 1 km de asfalto sequer; eu não disputaria uma reeleição. Eu iria para casa e dava a chance para outro.
O Estado: A maior parte das obras executadas pela prefeitura foi viabilizada graças aos recursos da União e do governo. Mesmo assim o nível de endividamento do caixa do Executivo municipal aumentou. Como fazer para mudar a realidade e fazer mais com investimento próprio sem aumentar impostos?
Miglioli: Eu gostaria de corrigir esta pergunta…
O Estado: Pois não…
Miglioli: Não é a maioria das obras. São todas as obras. Todas as obras do município de Campo Grande são hoje de recursos federais, de empréstimo e do governo do Estado. Então, isso mostra ineficiência administrativa do município. Eu não consigo concordar em que o porte do município de Campo Grande não tenha capacidade própria de investimento. São interessantes o recurso federal, a contrapartida do Estado, mas o município tem de se apresentar. O prefeito, nos últimos quatro anos de gestão, a única coisa que fez foi andar com o pires nas mãos e pedindo esmola para todo mundo… Pede aqui, pede ali, pede para bancada, sem nenhuma contraprestação. Isso mostra uma ineficiência muito grande. Nós estamos vindo com um projeto muito diferente do que está aí. Nosso projeto não tem nada de populismo. Pelo contrário, muitas vezes sou colocado como uma pessoa técnica e pouco política, e eu realmente meu viés é técnico, mas a gente entende que Campo Grande precisa de alguém que saiba trabalhar, que sabe fazer gestão, que saiba produzir… fazer mais serviços e menos política.
O Estado: O senhor pretende transformar Campo Grande em 100% asfaltada?
Miglioli: Este é o sonho, mas não dá para prometer. E qualquer um que prometer estará mentindo… Mas este objetivo qualquer um que senta na cadeira terá de buscar. Mas nós temos algumas coisas que estamos prometendo e vamos procurar cumprir. Um, pavimentar todas as vias do transporte coletivo, porque hoje é inadmissível um ônibus rodando em via de terra. E vemos fazer asfalto em determinados lugares que não têm tanta prioridade. Nós vamos continuar a levantar recurso e fazer economias necessárias para investir. Nós temos um programa de recapeamento pra cidade, a maioria das ruas com asfalto hoje está comprometida, em função de desgaste do tempo. Não dá para prometer asfaltar Campo Grande em quatro anos de gestão.
O Estado: Por que não concluiu o Aquário do Pantanal?
Miglioli: Porque a Justiça não deixou… Tenho esta frustração como secretário. Eu respeito a decisão judicial, eu sou uma pessoa que entende que: decisão judicial não se discute, acata. Mas nós adotamos uma linha no governo, nós fizemos um levantamento, conseguimos um acordo transparente com as assinaturas do Ministério Público Estadual, Tribunal de Contas e do governo do Estado, e quando levamos ao Judiciário para homologar, nós não conseguimos. Então, tomamos a decisão de aguardar a decisão judicial porque o aquário é uma obra judicializada. O que previa o acordo? Basicamente duas coisas: não existiria mais aditivo e que nós poderíamos fazer uma contratação direta por meio de comitê e na época pedimos ao Ministério Público que participasse. Que acompanhasse as contratações e todas seriam com viés técnico. Foi entendido na época pelo Judiciário que não tinha legalidade, não poderia fazer.. Eu entendo que tinha, até pelo fato de ser formado em Direito; existem vários princípios que regem administração pública, o principal é Supremacia do Interesse Público. Dava pra retornar pois a obra estava se acabando. E não conseguimos resolver. Neste segundo mandato a nova gestão está tomando uma atitude, que na época nós entendemos temerosa, que é fracionar as licitações. É uma decisão técnica e eu não quis correr este risco. Porque ali dentro da obra, pelo processo judicial que existe, já tem profissionais envolvidos no processo sem nenhum tipo de culpa, apenas por questão técnica. E eu não queria comprometer profissionais sob a minha gestão. Mas eu fiz muita força para terminar o Aquário e se tivesse homologado a obra eu tenho certeza de que terminaria e ficaria mais barata do que vai ficar agora.
Confira também a participação de Miglioli em podcast da TV O Estado, o Frequência Saúde:
(Texto: Bruno Arce e Danilo Galvão)