Medida levou em conta vacinação, redução de casos e mortes pelo novo coronavírus
Com ritmo acelerado na vacinação, a Prefeitura de Campo Grande resolveu atender antigo pedido do setor de eventos e vai retirar, a partir da próxima segunda-feira (20), restrição na capacidade de público no comércio e em festas. Com o novo decreto que será publicado pelo Município nesta sexta-feira (17), deixa de valer determinação que permitia atendimento com apenas 50% da lotação dos espaços.
De acordo com o prefeito Marquinhos Trad, a decisão levou em conta pareceres técnicos do grupo de trabalho criado no início da pandemia para deliberar regras lançadas aos moradores. Agora, com números favoráveis, os representantes entenderam que era hora de flexibilizar. “Nesse momento, em razão do número crescente de vacinados na nossa cidade, da diminuição da ocupação dos leitos de UTI e em razão do respeito da população ao uso de máscara e higiene, a ciência nos permite flexibilizar algumas regras, dentre as quais, a capacidade do local”, afirmou.
Apesar da novidade, Trad pontuou que os espaços não poderão funcionar com superlotação e devem obedecer normas de prevenção como uso de máscaras e disponibilização de álcool. Caso os medidores da doença piorem, o prefeito garante que “não terá receio” em revogar a determinação caso seja necessário “Assim, estamos retomando a vida com algumas prevenções para que a gente possa superar essa última fase”, esclareceu.
A promessa do prefeito Marquinhos Trad (PSD) de liberar a restrição de capacidade de comércio e eventos na Capital faz com que o ritmo de vacinação contra a COVID-19 seja considerado exemplar. Desde janeiro, com o início da imunização, as regras impostas em 2020 com a pandemia foram caindo uma a uma, com certas polêmicas até.
As primeiras flexibilizações vieram em 5 de abril, com a ampliação do toque de recolher para as oh, inclusão de alguns serviços na lista de essenciais, liberando atacadistas, varejo, academias de ginásticas, bares e restaurantes e escolas.
Em junho, veio a polêmica entre poder municipal e estadual, quando a gestão Reinaldo Azambuja (PSDB) tentou reclassificar a Capital com bandeira cinza na escala do Prosseguir, que mede o avanço do coronavírus nas cidades. Trad bateu o pé, manteve a cidade na marcação vermelha, ou seja, com menos restrições.
Ao mesmo que a vacinação seguia em ritmo excepcional e o grau de contágio da COVID-19 diminuia, a prefeitura anunciou, enfim, em agosto o fim do toque de recolher. Nos últimos dias, a gestão municipal deu os passos para a retomada total da normalidade, com a volta do passe livre no transporte coletivo e a volta das aulas presenciais.
Com a liberação de público, também ganham mais força discussões sobre a exigência de vacinação para acesso a lugares e serviços. Para Marquinhos, a questão já está fechada e não terá interferência do Poder Público. “A iniciativa privada vai regular o que achar interessante para receber sua clientela, sem interferência do Executivo”, finalizou.
José Mauro Filho, secretário municipal de saúde, afirma que os parâmetros para medir a pandemia mudaram de acordo com a nova realidade encontrada. Enquanto antes tinha-se como principal medidor a ocupação de leitos, agora, observa-se a quantidade de casos confirmados, internações e óbitos, elementos que deixam a Capital em uma situação confortável, segundo ele.
“Todo mundo consegue observar que houve diminuição considerável, inclusive, após a extinção do toque de recolher. Isso nos mostra que os decretos ficaram desatualizados com a realidade”, argumentou.
Diferentes opiniões – Após vir a público, a decisão da Prefeitura dividiu opiniões e levantou diferentes debates sobre o assunto. Para o setor da saúde, a mudança ainda exige cautela, já para comerciantes, o fim da regra de lotação foi comemorado e visto como um aliado a mais na retomada dos trabalhos.
Infectologista, a médica Mariana Croda reconhece que a Capital passa por cenário favorável ao que já enfrentou meses atrás. Realidade que, segundo ela, foi alcançada pela boa cobertura vacinal dos moradores.”Ainda existe um número de casos relevante, porém, a quantidade de óbitos e internações é baixa e o número de leitos disponíveis mostra é positivo”, afirma.
No entanto, a especialista alerta para os riscos possíveis com a variante Delta, que teve três confirmações em Mato Grosso do Sul, duas delas em Campo Grande. Atrelado ao perigo da nova cepa, considerada a mais transmissível até agora, isso, Mariana lembra que boa parcela dos moradores ainda não recebeu a segunda dose da vacina, portanto, continuam sem a imunização completa.
“Por isso eu esperaria mais um pouco e agiria com mais parcimônia sobre o fim dessa restrição de capacidade. Colocaria o foco eClayton Neves e Rafael Ribeirom avançar na segunda dose e principalmente na terceira, afinal, são os idosos que estão morrendo de fato. Também seguiria na busca pelos não vacinados para assim, ter mais segurança”, pontua.
Na avaliação da infectologista, se os cuidados forem deixados de lado, a Capital pode seguir o exemplo de São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo, que já têm predominância da variante Delta nos casos confirmados da COVID-19. “Ainda existe o medo da mutação e a realidade que hoje existe lá fora, pode acontecer aqui”, finaliza Croda.
Apesar de mais de 69% dos moradores de Campo Grande já ter recebido a primeira dose e outros 54% terem completado o ciclo vacinal, balanço da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde), revela que aproximadamente 48 mil campo-grandenses com 18 anos ou mais se recusaram a tomar a vacina contra o novo coronavírus, um total de 8% dos 610 mil moradores adultos contabilizados pelo Município. Além disso, outras 200 mil pessoas ainda precisam tomar a segunda dose da vacina.
“A vacinação avançada faz com que a gente fique em uma zona de conforto. Óbvio que o processo está avançado, mas acho que o mais prudente e seguro seria fazer isso de uma forma gradativa”, aponta a infectologista Priscilla Alexandrino.
Outro ponto defendido pela médica é a implantação do passaporte da vacinação, regra para autorizar apenas pessoas vacinadas a circular em lojas e eventos. “Seria ótimo porque estimula a população a se vacinar e leva prevenção até a essas festas”, acredita.
Juliano Wertheimer, presidente da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), disse que o novo decreto irá de encontro com o que já acontece em outras cidades onde a vacinação está em níveis elevados. “Assim como a Prefeitura agiu para restringir quando a doença se agravou, agora, está retirando as restrições diante da redução dos números”, comentou.
Segundo ele, com a permissão para ocupar 100% do espaço em que trabalham, comerciantes terão ainda mais fôlego para atingir novamente o faturamento de antes da pandemia.
“Estamos em um período mais aquecido para o setor, com previsão de festas e confraternizações. A limitação prejudicava nossa retomada econômica, mas agora, com muita responsabilidade, vamos voltar a trabalhar, gerar novos empregos e até novembro acredito que os lucros voltem aos patamares de antes”, completa.
(Texto: Clayton Neves e Rafael Ribeiro)