O desafio do uso da Inteligência Artificial nas Escolas

Mustapha Rachidi e José Luiz Magalhães de Freitas - Foto: reprodução
Mustapha Rachidi e José Luiz Magalhães de Freitas - Foto: reprodução
Desde o sensacional advento da inteligência artificial (IA) em toda parte há pouco mais de dois anos, ela tem suscitado medos e esperanças em todos os níveis de escolaridade, preocupando os atores da educação. Seria uma oportunidade para os alunos? Uma aliada ou ameaça para professores? Um desafio para profissionais de educação? Como adaptar práticas de ensino com ferramentas de IA? Não pretendemos aqui responder a essas perguntas, mas só apontar luz sobre essa nova revolução e seus desafios para a escola em geral.
Sempre que uma tecnologia ligada ao ensino surge, afloram-se temores, questionamentos e debates. No início da década de 1970 chegaram as calculadoras, cujo uso pedagógico é evidente na matemática e nas ciências (física, química, biologia etc.). Em seguida vieram os “softwares” educacionais. Embora essas ferramentas tenham demorado a evoluir e ser integradas a currículos e livros didáticos, têm sido objeto de controvérsias quanto à ausência de referenciais teóricos e metodológicos adequados e quanto aos efeitos de seu uso. O fato é que ao longo mais de 30 anos as calculadoras e “softwares” pedagógicos foram vantajosamente incorporados nos currículos e utilizados por professores e alunos.
Desde 2022, observa-se a entrada triunfante da IA no dia a dia das populações. Em particular, o rápido avanço da IA generativa na educação e pesquisa não poupou nenhuma área da produção de conhecimento em todas as suas formas. Ao contrário da calculadora e do “software”, sua rápida disseminação é favorecida por (1) acessibilidade, pois quase todos estão hoje equipados com um computador com acesso à internet, (2) facilidade no uso da IA em todas as áreas, incluindo as disciplinas escolares, e (3) resposta rápida para alunos de todos os níveis de escolaridade às solicitações do professor, entre outros fatores.
A entrada da IA no ambiente escolar mostrou-se, porém, mais veloz que a apropriação desse recurso por professores e equipes de pesquisa em educação. Em toda parte, estes, bem como os responsáveis pela elaboração e implementação de currículos escolares, estão ainda surpresos com essa ferramenta, cujos efeitos e consequências não controlam. A chegada abrupta da IA generativa atropelou toda a comunidade educacional e científica, em todas as áreas, sendo a única escolha a de buscar alternativas frente à constatação de seu uso pelos estudantes.
Os estudos e pesquisas sobre uso da IA que vimos realizando quanto ao ensino e formação de professores mostram que o ritmo da busca de respostas a essas perguntas acelerou-se nos últimos dois anos, como evidenciado em reuniões internacionais, publicações científicas e “sites” de órgãos oficiais. Experimentos temáticos direcionados vêm sendo desenvolvidos por professores e pesquisadores. A tendência do uso de IA na educação vem aumentando e essa tendência tem sido investigada em diferentes países e pela Unesco. Há uma literatura florescente e recente sobre o tema, bem como experiências pedagógicas conclusivas em diferentes disciplinas. Crescem os centros de estudos e pesquisas sobre uso de IA mundo afora e o Brasil não pode ficar para trás. Trata-se de uma tarefa imediata e contínua, que necessita de novos investimentos para alavancar o ensino e a pesquisa com o uso da IA.
Mustapha Rachidi foi professor da Universidade de Rabat (Marrocos), da Academia de Reims (França) e é colaborador do Programa de Pós-graduação PPGEduMat (UFMS). E-mail: [email protected]
José Luiz Magalhães de Freitas é professor dos Programas de Pós-graduação MECMAT (UNIDERP) e PPGEduMat (UFMS). E-mail: [email protected]
Este artigo é resultado da parceria entre o Jornal O Estado de Mato Grosso do Sul e o FEFICH – Fórum Estadual de Filosofia e Ciências Humanas de MS.

 

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