Mesmo sob pressão, juros ficam em 13,75% ao ano

Foto: Valentin Manieri
Foto: Valentin Manieri

A decisão do Copom deixa a taxa como a maior, desde 2016

O Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central) manteve a taxa Selic em 13,75% ao ano, pela sexta vez seguida. A decisão ocorreu durante a terceira reunião do ano, realizada ontem (3). O resultado, que é o maior desde 2016, mostra que a pressão do governo federal, para baixar os juros, não teve efeito.

Desde janeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem criticado a Selic. Em seu posicionamento mais recente, no dia 1° de maio, ele culpou o índice pelo desemprego e disse que não consegue controlar a inflação no país.

“A gente não pode viver mais em um país onde a taxa de juros não controla a inflação, ela controla, na verdade, o desemprego porque ela é responsável por uma parte da situação que vivemos hoje”, disse, em evento com centrais sindicais.

Além disso, Lula acredita que não existe explicação para uma taxa de juros que considera alta e que impede o crescimento. No entanto, o Banco Central já sinalizou que não há previsão de afrouxamento da política monetária, já que o arcabouço fiscal ainda não foi apresentado. Segundo o presidente do BC, Roberto Campos Neto, um arcabouço que garanta controle nas contas públicas é um dos fatores que permitiria a queda dos juros sem que a inflação suba.

Impactos

Na avaliação do economista e advogado Dax Goulart, os juros não vão cair por pressão do governo federal. “O Bacen tem autonomia para estabelecer a política monetária no combate à inflação. Os juros não vão cair por pressão do governo federal. Recentemente, o ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, tentou reduzir artificialmente a taxa de juros dos empréstimos consignados e o resultado foi a suspensão dessas operações por parte dos bancos privados e também públicos, como Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal”, exemplificou o profissional.

Dax lembra ainda que a taxa elevada não é atraente para os investidores, o que desacelera o setor.

“A taxa de juros alta não é atraente para quem quer investir em atividades produtivas. Portanto, taxas de juros altas sugerem retração dos investimentos produtivos, desaceleração da produção, menor abertura de postos de trabalho, menor renda e, consequentemente, menor consumo das famílias. Porém, é preciso combater a inflação”, ressaltou.

Por outro lado, na visão do economista, o governo precisa dar sinais de que pode controlar a dívida pública e o próprio crescimento do gasto público. “Banco Central e governo precisam fazer suas respectivas partes, para que os juros possam efetivamente baixar”, completou.

A manutenção da taxa Selic também impacta nas compras por crédito. A correspondente bancária Maria Aparecida Ferreira Chaves afirma que a taxa Selic estando em alta acaba prejudicando o setor de linhas de créditos em geral, pois é preciso que as agências bancárias cobrem juros maiores nas operações.
“Com o aumento da taxa de juros, os empréstimos e financiamento ficam mais caros, pois inviabiliza as operações”.

Maria relata ainda que teve queda de 50% nos empréstimos. “Desde a metade do ano passado, quando começou a subir os juros para 2023, não conseguimos renovar contratos com os clientes, pelo fato da taxa de juros que o cliente contratou, no ano de 2021 e 2022, ser menor do que a taxa atual. Desta forma, tivemos uma redução de cerca de 50% nos empréstimos, porque o cliente vê que os juros estão altos e não utiliza a linha de crédito”, pontuou.

PIB e emprego

O PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro, – que é a soma de todos os bens e serviços produzidos no país –, cresceu 2,5%, em fevereiro. A informação é do Monitor do PIB, divulgado ontem pela FGV (Fundação Getulio Vargas).

Na comparação do trimestre encerrado em fevereiro deste ano, se comparado com o mesmo período de 2021, a alta foi de 2,7%, devido a crescimentos no consumo das famílias. Em relação à empregabilidade, segundo dados da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), a taxa de desemprego no Brasil encerrou o primeiro trimestre de 2023 em 8,8%, chegando a 9,4 milhões de pessoas.

Se comparado com o trimestre anterior, entre outubro e dezembro de 2022, o número de desempregados cresceu 10%.

Taxa Selic

O que é taxa Selic?

A taxa de juros Selic tem como intuito controlar os preços na economia, ou seja, controlar a inflação. Esse é um dos três pilares da estabilidade econômica brasileira.

No Brasil, o principal indicador de inflação é o IPCA (o Índice de Preços ao Consumidor Amplo), que é divulgado mensalmente pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Neste ano, a meta de inflação ficou fixada em 3,25% e será considerada formalmente cumprida, se oscilar entre 1,75% e 4,75%. Já a meta de inflação de 2024 é de 3% e será considerada cumprida se oscilar entre 1,5% e 4,5%.

Desta forma, a taxa tem como objetivo final assegurar a estabilidade da economia e evitar descontroles de preço como os que o país já viveu, causando a perda do poder de compra da moeda.

O Copom reúne-se a cada 45 dias. São dois dias de reunião. No primeiro dia do encontro, são feitas apresentações técnicas sobre a evolução e as perspectivas da economia brasileira e mundial, além do comportamento do mercado financeiro. No segundo dia, os membros do Copom analisam as possibilidades e definem a Selic.

Por Marina Romualdo – Jornal O Estado de Mato Grosso do Sul.

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