Judô paralímpico fecha ano com resultados expressivos e projeta ciclo até Los Angeles

Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal
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Trio formado no Ismac soma medalhas internacionais, liderança de categorias e consolida trabalho liderado por sensei do Ismac

Medalhas internacionais e convocações recorrentes para a Seleção Brasileira marcaram a temporada de 2025 do judô paralímpico de Mato Grosso do Sul. Os resultados vieram, principalmente, a partir do trabalho desenvolvido no Ismac (Instituto Sul-Mato-Grossense para Cegos Florisvaldo Vargas), em Campo Grande, que tem, hoje, como principais representantes os atletas Gabriel Ferreira Rodrigues, Kelly Kethllyn e Hellen Machado, sob o comando da sensei Anne Talitha.

A base desse processo começou antes das medalhas. Talitha atua no judô paralímpico desde meados dos anos 2000 e levou o projeto ao Ismac em 2011, com um objetivo que ia além do esporte. “O judô entrou como uma ferramenta de habilitação, reabilitação e autonomia para a pessoa com deficiência. A medalha veio depois. O principal sempre foi a formação humana”.

É dentro dessa lógica de formação e de convivência no mesmo tatame que as trajetórias se cruzam. O mais jovem do grupo é também um dos principais nomes do judô paralímpico brasileiro na atualidade. Aos 17 anos, Gabriel Ferreira Rodrigues, atleta da classe J1 até 70kg, encerra o ano como o brasileiro mais bem ranqueado da categoria.

A trajetória no esporte começou aos nove anos, após a perda da visão por um glaucoma secundário. “A ideia no começo era só a reabilitação, lidar com o luto. Eu não pensava em competir. Com o tempo fui gostando, me identificando, e hoje o judô virou minha carreira”, conta.

Em 2025, conquistou a medalha de ouro no Pan-Americano de Jovens, principal competição da modalidade no ano, o ouro nos Jogos Juvenis, e garantiu o pódio com um bronze no Campeonato Americano, além de integrar os treinamentos de campo da Seleção Brasileira. Para a sensei, o desempenho simboliza o quão importante tem sido o trabalho do projeto. “O Gabriel tem só 17 anos e ficou o ano inteiro como o atleta mais bem ranqueado do Brasil na categoria dele. Isso mostra que estamos no caminho certo.”

Mesmo com os bons resultados, Gabriel aponta o amadurecimento como principal ganho da temporada. “Foi um ano difícil. Tive derrotas que doeram, mas que me ensinaram muito. Isso vai fazer diferença nos próximos anos.” A relação construída com a técnica também tem sido um dos pontos altos da vida de atleta, além do tatame. “Ter uma pessoa como ela dá segurança. Mesmo quando a gente não está junto nas viagens, a gente conversa, troca ideia. Isso faz muita diferença.”

Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

A vivência do judoca se soma à experiência de Kelly Kethyllin, de 22 anos, atleta da classe J2 até 70kg e a mais experiente do trio em competições internacionais, tendo disputado os Jogos Olímpicos de Paris em 2024.

Kelly foi formada dentro do Ismac e tem a carreira diretamente ligada ao trabalho da mesma comissão técnica. Neste mês, conquistou duas medalhas de prata, no Campeonato Americano e no Grand Prix, realizado em São Paulo.

A judoca conheceu Talitha ainda na infância, quando era aluna de mobilidade no Instituto, antes mesmo de pensar em seguir no esporte, e destaca a presença constante da técnica nas delegações. “Ela não viaja só como nossa treinadora. Muitas vezes vai como técnica da base da Seleção Paralímpica, acompanha todos os brasileiros na competição. Isso dá segurança e confiança para a gente.”

Mais nova no cenário internacional, Hellen Machado, de 22 anos, completa o trio de destaque. Atleta da classe J2 até 60kg e estudante de Educação Física, ela iniciou no judô em 2018, após convite da sensei, sem qualquer pretensão competitiva.

Assim como Kelly, também conquistou a prata no Grand Prix São Paulo e foi vice-campeã pan-americana, sob a orientação da sensei. “No começo eu só queria fazer alguma atividade. Não pensava em competir. Hoje vejo o quanto evoluí, consegui uma vaga na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) graças ao judô, consegui algumas medalhas importantes, mas sei que ainda posso melhorar muito”, avalia.

A relação, rapidamente se transformou em vínculo de confiança e cuidado. “A Talitha é como uma segunda mãe. Ela puxa nossa orelha, briga com a gente quando precisa, não importa onde a gente esteja”, conta. Segundo Hellen, o acompanhamento próximo da técnica é determinante para o crescimento do grupo. “O trabalho que ela faz com a gente é impecável. A gente treina junto, cresce junto, e isso reflete nos resultados.”

A convivência diária entre os três atletas é um dos pilares do projeto. Gabriel, Kelly e Hellen treinam juntos no Ismac e também mantêm intercâmbio com o judô convencional, em parceria com a Academia Judô Clube Rocha. “Eles se espelham muito uns nos outros, treinam com os atletas do Rocha de igual para igual. São estímulos constantes dentro do projeto”, explica a técnica.

Com o ciclo paralímpico de Los Angeles em curso, os atletas seguem no radar da Seleção Brasileira, ainda que em estágios diferentes da corrida por ranking. “Os três têm chances. A disputa é dura, o Brasil é forte, mas estamos no caminho. O nosso tatame é pequeno, o investimento é baixo comparado com outros estados, mas a ascensão é grande”, afirma.

Talitha resume 2025 como um ano de confirmação coletiva. “Foi um ano muito bom, de visibilidade, de competitividade alta e de confirmação do trabalho que temos feito no Estado. Mostrar que a pessoa com deficiência pode, alcança e tem espaço no esporte é o que mais importa.”

Por Mellissa Ramos

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