Em Mato Grosso do Sul, o aumento acompanha o cenário nacional, sendo incrementado a cada mês
Em 2017, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprovou o registro do primeiro medicamento à base de cannabis sativa – popularmente conhecido como maconha – no Brasil, para o tratamento de pessoas com esclerose múltipla. De lá para cá, a indústria farmacêutica passou a investir cada vez mais em produtos com canabinoides (substâncias extraídas da planta), não sendo mais difícil encontrar os fármacos nas drogarias, atualmente. Hoje, são 25 produtos dessa natureza com autorização para serem comercializados, no país.
De acordo com uma pesquisa do portal “Cannabis & Saúde”, houve um aumento de 156% nas vendas de produtos à base de cannabis medicinal nas farmácias, entre os anos de 2021 e 2022, movimentando cerca de R$ 77 milhões em um ano. As prescrições cresceram 487,8% no último ano, sendo que os neurologistas e os psiquiatras respondem por mais da metade dos especialistas que passaram a indicar esse tipo de tratamento. No país, ao menos 15 mil médicos já fizeram prescrição de medicamentos com canabinoides, segundo o levantamento.
Em Mato Grosso do Sul, a procura também aumentou, nos últimos anos. Segundo a Associação Sul-Mato-Grossense de Pesquisa e Apoio à Cannabis Medicinal Divina Flor, os números indicam a veracidade da informação, de que a cannabis é, hoje, imprescindível na medicina.
“A procura aumenta a cada mês. E é notável que as buscas pelos medicamentos vêm dos pacientes, mais do que dos próprios médicos. Só aqui, na Associação, temos uma média constante de aumento de 8 a 10% mensal dos pacientes. A maior parte deles, que hoje procuram tratamento com cannabis, são pessoas que já estão na luta, seja contra dor e espasmos, por exemplo, há muito tempo e não veem resultado nos tratamentos tradicionais. São centenas de enfermidades que podem ser tratadas a partir da cannabis, desde as mais severas, como epilepsia de difícil controle, a Alzheimer, Parkinson, autismo e até insônia, ansiedade, depressão, entre outras”, ressaltou a diretora da Divina Flor, Jéssica Camargo, ao jornal O Estado.
A associação dispõe de cinco tipos de óleos diferentes à base da planta, além da pomada para uso tópico. Conforme a diretora, para o médico prescrever o medicamento, é preciso ter conhecimento sobre o tratamento. No entanto, diariamente, a associação tem recebido novos médicos com dúvidas quanto à “novidade medicinal”. “Para o médico prescrever, ele tem que ter o mínimo de conhecimento. Recebemos novos médicos com dúvidas quanto a esses medicamentos, e é quando os encaminhamos para os cursos, como o ‘Introdução à prescrição de canabinoides para a Prática Clínica’”.
No ponto de vista da especialista, o preço elevado dos produtos relacionados à planta ainda é um entrave e a saída consiste na produção nacional. “O preço do produto importado é, sim, um entrave, pois, nos dias de hoje, nem todas as famílias conseguem ter acesso ao óleo, que chega a custar até R$ 2,5 mil o frasco nas farmácias ou fazer a importação. O trabalho das associações é que vem mudando esse cenário e ajudando as pessoas que não têm condições de comprar. Nós sabemos que o solo brasileiro tem todas as qualidades necessárias para um cultivo barato e de qualidade, e é por isso que lutamos, pelo cultivo nacional e reparação social, para trazer um produto barato, de qualidade e com controle sanitário, seguindo as RDC (Resolução da Diretoria Colegiada)”, pontuou Camargo.
Dentre todas as especialidades médicas prescritoras de canabidiol, neurologistas são 33%; psiquiatras, 26%; geriatras, 8%; pediatras, 7%; clínicos gerais, 5% e ortopedistas, 3%. “Essencialmente, essas especialidades representam mais de 80% da importância do volume prescritivo deste mercado”, diz o estudo.
O assessor técnico do CRF-MS (Conselho Regional de Farmácia de Mato Grosso do Sul), Ronaldo de Jesus, também comentou sobre o aumento nas vendas, no Estado. “A partir de 2021, as indústrias intensificaram o registro e, com base nisso, tivemos aumento nas vendas, pois houve acesso ‘facilitado’. Antes, tentávamos importar e esse público passou a migrar para o mercado interno agora, com o medicamento disponível, precisando, obviamente, da prescrição. Em MS, o aumento é significativo, embora não tenhamos um dado para quantificar. É mais comum que os pacientes procurem as drogarias com as receitas e encomendem devido ao valor não ser acessível e, com isso, eles não ficam nas prateleiras das drogarias.”
Vale lembrar que a legislação vigente não permite o cultivo caseiro de cannabis, a não ser em casos excepcionais, concedidos pela Justiça.
Projeto de lei visa repasse gratuito de medicamentos
Pacientes que precisam buscar autorização na Justiça para acesso a medicamentos à base de canabidiol foram ouvidos pelo deputado estadual Pedro Kemp (PT), no início deste ano, que decidiu apresentar um projeto de lei que autoriza o Estado a distribuir, gratuitamente, esse tipo de medicamento, em Mato Grosso do Sul, via SUS.
Hoje em dia, para ter o medicamento, a maioria dos Estados arcam somente com os custos do tratamento se o paciente ganhar esse direito na Justiça. Apesar da liberação da Anvisa para a importação de produtos medicinais fabricados a partir da planta, os remédios ainda são inacessíveis para grande parte da população, devido ao alto custo. O valor médio desses medicamentos varia de R$ 1,5 mil a R$ 2 mil, por mês.
A proposta foi apresentada em sessão, no mês de fevereiro, e seguiu para análise da CCJR (Comissão de Constituição, Justiça e Redação). Agora, continua tramitando no Parlamento com votações pelas comissões temáticas e no plenário. Ontem (23), a Comissão de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência da Câmara dos Deputados debateu o uso medicinal e alguns Estados já autorizaram o acesso aos medicamentos para tratamentos de doenças, síndromes e transtornos de saúde.
Por Brenda Leitte – Jornal O Estado do MS.
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