Sem imunizantes em MS, infectologista alerta para risco ao grupo prioritário e alta de internações

Foto: Divulgação
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Pelo menos 1/3 do lote de imunizante contra a covid-19 do Ministério da Saúde perdeu a validade e vários estados estão sendo afetados. Há mais de 15 dias sem a vacina no Mato Grosso do Sul, a SES (Secretaria Estadual de Saúde) comunicou que faltam doses tanto para adultos quanto para crianças. Infectologista alerta para o risco, principalmente para pessoas do grupo prioritário e sobrecarga de internações.

Conforme a coordenadora Estadual de Imunização, Ana Paula Goldfinger, “por ser uma vacina importada, trâmites, como envio, precisam ser cumpridos. Portanto, não temos a data exata ainda da possível entrega dessas doses ainda”, comunicou em vídeo.

O imunizante monovalente, comprado da farmacêutica Moderna, era destinado a crianças e adultos. Sem opção de doses de outras marcas, a pasta já havia reduzido a entrega da vacina nos últimos meses. Segundo uma pesquisa divulgada em setembro pela CNM (Confederação Nacional de Municípios), a escassez de vacinas já apresentava indícios. Faltavam imunizantes em seis a cada dez cidades, especialmente as destinadas às crianças. O levantamento foi produzido entre os dias 2 e 11 de setembro, com 2.415 municípios.

Ainda segundo a publicação, que pediu providências para sanar a falta de vacinas nos municípios, os problemas enfrentados estão relacionados principalmente à fabricação, à logística e à demanda. Em nota técnica do Ministério da Saúde, responsável pela aquisição e  distribuição de todas as vacinas do Calendário Nacional de Vacinação, reconheceu a falta na rede pública de saúde. O Ministério também informou tentar formas alternativas de aquisição, porém,
argumentou que a exigência de baixíssimas temperaturas de armazenamento e as campanhas de fake news tornaram-se obstáculos para a campanha de imunização.

Para o infectologista e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz, Julio Croda, as consequências do cenário atual demandam atenção ao grupo prioritário, como idosos, imunossuprimidos e gestantes, em especial devido às novas variantes.” A falta de vacina pode deixar essa população desprotegida e, portanto, aumentar, eventualmente, o número de hospitalizações e óbitos no futuro. O risco aumenta porque justamente não existe uma imunização específica para variantes e existe uma queda da imunidade principalmente para essas populações”, explica.

4,2 milhões de imunizantes vencidos

Os lotes perdidos, parte de uma compra de 12,5 milhões de vacinas, geram um prejuízo de 4,2 milhões de imunizantes que travaram no estoque. A Farmacêutica Moderna já recolheu 1,2 milhão de unidades que estavam com o ministério para trocar por doses com validade mais longa. Documentos internos da Saúde apontam que as cerca de 3 milhões de vacinas restantes, todas vencidas, devem ser substituídas em dezembro por um modelo mais atual da farmacêutica.

A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), no fim de setembro, deu o aval para a importação de 1,2 milhão de vacinas com validade até 2025 para substituir os lotes já recolhidos pela farmacêutica. As doses ainda precisam passar pelo controle de qualidade, entre outras verificações, antes da distribuição para a rede pública.

Para evitar desabastecimentos, Croda sugere licitações de longa duração que podem evitar a escassez de medicamentos, entre outras consequências. “Todo ano, fazendo uma licitação diferenciada, pode gerar um atraso no ponto de vista da aquisição. Um planejamento adequado é uma alternativa interessante a médio prazo para que o número de doses seja garantido. Mas, infelizmente, os órgãos relatórios não permitem que essa compra possa ser feita parcelada, ao longo de cinco anos. A compra deve ser feita no vigente do calendário financeiro. Esse processo dificulta muito quando se trata de vacinas”, aponta.

Por Ana Cavalcante

 

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