Segundo o médico, Campo Grande não precisa construir mais um hospital público. Ele garante que o próprio El Kadri conseguiria atender à demanda
Para o médico e proprietário do Hospital El Kadri, Mafuci Kadri, a Prefeitura de Campo Grande não precisa construir outro hospital para colocar em funcionamento o Hospital Municipal. Além do próprio El Kadri, com mais de 200 leitos, o médico exemplificou que tem o prédio onde funcionava o antigo Hospital Sírio-Libinês, pertencente ao grupo e que está desativado desde que foi locado também para o município de Campo Grande, para o funcionamento do Centro Pediátrico, em 2015.
“Na minha opinião, Campo Grande não precisa de hospital. Têm hospitais e digo, por exemplo, o El Kadri, que tem vagas suficientes para abrigar esses pacientes mediante uma conversa equilibrada, harmônica, de interesse mútuo de resolver isso perfeitamente. E tem o hospital com 100 leitos fechados, que é o antigo Sírio-Libanês. Então, é necessária realmente a construção de mais uma edificação pública? Deixo aqui meu ponto de interrogação, para que as pessoas façam suas interpretações”, explica.
A prefeitura anunciou, no dia 14 de setembro, a intenção de construir um Complexo Hospitalar e de diagnóstico municipal de Campo Grande, com PPP (Parceria Público-Privada). O local onde o hospital vai ser construído não está definido, mas as obras devem ser iniciadas neste ano. Serão investidos R$ 200 milhões numa área de 10.000 m². Inclusive, em relação à construção, Mafuci garante o interesse em ser parceiro, justamente pelo fato de já ter o prédio onde funcionava o Sírio-Libanês.
“Tem um hospital que pode ser perfeitamente aproveitável e querem edificar um outro prédio que sabe- -se o que ocorre realmente nos hospitais que estavam à mercê dos órgãos que nós conhecemos. Sobre o Sírio- -Libanês, eu não só tenho interesse, como acredito que está mais do que evidente a disponibilidade dele e do próprio El Kadri”, acrescenta.
O El Kadri é um antigo parceiro da prefeitura, que durante a pandemia da covid-19 cedeu leitos para atendimento público. Conforme o médico e sua formação, os hospitais particulares devem ter esse dever social, de ajudar a população nas situações emergenciais.
“Todos os hospitais e todos os médicos realmente têm a área médica como sacerdócio, pelo menos essa foi a minha formação. Na pandemia, o hospital abriu as portas para o público, para a sociedade, socorreu todos os pacientes e pessoas que procuravam o hospital, sendo pagantes, com convênio, foram atendidas, internadas, muitas foram parar no CTI (Centro de Terapia Intensiva)”, disse.
O Estado: A Prefeitura de Campo Grande voltou a estudar a construção de um Hospital Municipal. É um desejo de muito tempo, tivemos a experiência com o Centro Pediátrico, na qual o senhor foi parceiro. É possível que um acordo seja bom tanto para a iniciativa privada como para a prefeitura, na questão de administrar um hospital público?
Mafuci Kadri: Quando existem pessoas civilizadas, existe sempre a possibilidade de um diálogo harmônico e equilibrado, para beneficiar o próximo. Eu sempre costumo dizer o seguinte: não adianta ter a ganância da materialidade das coisas, todos nós morremos e é por meio das coisas boas que deixa que você será lembrado. Já quanto às coisas ruins, vão dizer assim: ainda bem que foi.
O Estado: O que foi feito de positivo na parceira do Centro Pediátrico, em 2015, pode ser repetido para o Hospital Municipal?
Mafuci Kadri: A história do Centro Pediátrico foi quando dois vereadores da época convenceram-me a alugar o antigo Hospital Sírio-Libanês e eu disse: vamos pegar um corretor e ver o valor do aluguel, porque o hospital estava mobiliado. Foi estabelecido um valor e os prefeitos de então pagaram um ou dois meses de aluguel, deixaram de pagar os outros meses e num belo dia vieram e jogaram a chave do hospital na minha mesa, entregando o prédio. E eu disse que não, que eu ia lá verificar realmente como é que estava o hospital, até porque eu entreguei o hospital mobiliado, funcionando, com tomografia, raio X e tudo aquilo que o hospital precisa ter para realmente funcionar.
Quando cheguei no hospital, a decepção foi tão grande, tão grande, porque tinham roubado tudo. Sucatearam o hospital. Tentei, então, por outras vias, conversar com outro mandatário da prefeitura, apresentando- -lhes a situação em que se encontrava o hospital e ele sugeriu que entrasse na Justiça. Fiz isso e o município perdeu, pagou em precatórios, espero até hoje e o hospital está fechado, com praticamente 100 leitos parados.
O Estado: Na sua opinião, a questão política que envolvia o prefeito na época, Alcides Bernal, pesou para que tenha sido desfeita a parceria do Centro Pediátrico?
Mafuci Kadri: Na realidade, começou com o prefeito Gilmar Olarte, veio para gestão do senhor AlcidesBernal e terminou na gestão do senhor Marquinhos Trad. Pesou muito porque fizeram com que um hospital fosse fechado por outros interesses e por outra politicagem realmente condenável e falta responsabilidade dos homens para fazer o bem para o próximo, justamente o que não tiveram, nesse caso.
O Estado: Campo Grande necessita mais de um Centro Pediátrico ou de um Hospital Municipal?
Mafuci Kadri: Na minha opinião, Campo Grande não precisa de hospital. Têm hospitais e cito, por exemplo, o El Kadri, que tem vagas suficientes para abrigar esses pacientes mediante uma conversa equilibrada, harmônica de interesse mútuo para resolver isso perfeitamente. E tem o hospital de 100 leitos fechados, que é o antigo Sírio- -Libanês. Então, é necessária realmente a construção de mais uma edificação pública? Deixo aqui meu ponto de interrogação para que as pessoas façam suas interpretações.
O Estado: O El Kadri tem interesse de entrar como parceiro na construção do Hospital Municipal?
Mafuci Kadri: Não, porque tem um hospital que pode ser perfeitamente aproveitado e querem edificar um outro prédio que sabe-se o que ocorre, realmente, nos hospitais que estavam a mercê dos órgãos que nós conhecemos. Sobre o Sírio-Libanês, eu não só tenho interesse, como acredito que está mais do que evidente a disponibilidade dele e do próprio El Kadri.
O Estado: El Kadri é um parceiro antigo do município, na pandemia e quando é necessário cede leitos para atendimento público. Os hospitais particulares têm este dever social de ajudar a população nas situações emergenciais?
Mafuci Kadri: Eu acho que todos os hospitais e os médicos realmente têm a área médica como sacerdócio, pelo menos essa foi a minha formação. Na pandemia, o hospital abriu as portas para o público e a sociedade, socorreu todos os pacientes e pessoas que procuravam o hospital, sendo pagantes, com convênio, foram atendidas, internadas, muitas pararam no CTI e saíram daqui com dificuldade de honrar os compromissos de pagamentos que ocasionou essa época.
O Estado: O hospital ampliou o número de leitos. O que a saúde tirou de lição com a pandemia?
Mafuci Kadri: Essa resposta é merecedora de quem é responsável pela saúde pública. O que nós realmente vemos é a falta de estruturação, não só hospitalar, mas política para resolver muitos casos que ocorreram ou trouxeram, em consequência dessa pandemia. Quantas vidas se perderam pela ineficácia de atos políticos? [Um ponto de interrogação que as pessoas devem responder]. Então, mesmo os interessados em resolver a saúde pública de interesses não sou eu que respondo, mas a própria sociedade e aqueles que são responsáveis. O El Kadri chegou a ser ocupado em quase 80% dos leitos e abrimos mais um CTI adulto. Chegamos a ter três CTIs adultos, todos eles lotados e depois, numa parte da pandemia, com a conversa que houve com a Secretaria de Saúde da época e com o responsável pela administração do hospital, permitiu-nos ou autorizou-nos que abrisse mais 20 leitos de CTI. Foi feita a reforma material e quando começou a se pensar nos equipamentos, vieram outros órgãos e houve bloqueio. Esses 20 leitos ficaram parados. Então, hoje, o Hospital El Kadri tem capacidade de absorver muitos leitos que estão dizendo que faltam na sociedade.
O Estado: O hospital tem previsão de ampliação de área?
Mafuci Kadri: Nesse momento, não. O El Kadri é um hospital que tem mais de 220 leitos.
O Estado: É um dos poucos hospitais de MS que tem o próprio plano de saúde. Como ele funciona?
Mafuci Kadri: Em primeiro lugar, o Hospital El Kadri não tem um plano de saúde, o que houve é um cartão fidelidade de pessoas ligadas à família, que não tem nada a ver com o hospital. O El Kadri presta serviço a este cartão, como presta serviço a outros cartões e outros convênios médicos. O plano não pertence ao hospital.
O Estado: A questão social que envolve o hospital é o maior diferencial?
Mafuci Kadri: A questão social é uma questão familiar. Como pertence a um dono só e que é muito fácil de as pessoas e de qualquer funcionário entrar aqui e conversar comigo e resolver todos os problemas de uma forma pessoal, humanizada e que realmente põe em primeiro lugar que o interesse no outro é maior do que o interesse pessoal e o interesse do colaborador.
Por – Rafaela Alves
Confira mais notícias na edição impressa do Jornal O Estado do MS.
Acesse as redes sociais do O Estado Online no Facebook e Instagram.