Dois peritos federais estão trabalhando em tempo integral na análise do vídeo da reunião do presidente Jair Bolsonaro com seus ministros no último dia 22. Os trabalhos começaram na quarta-feira (13). O Instituto de Criminalística da Polícia Federal ainda não informou quando a perícia deverá ser concluída, mas técnicos da área acreditam que o trabalho deverá durar entre cinco e dez dias.
A perícia foi determinada pelo ministro Celso de Mello, do STF (Supremo Tribunal Federal), que pediu a degravação integral dos diálogos e a verificação de eventuais edições no vídeo, apontado como prova pelo ex-ministro Sergio Moro de que Bolsonaro tentou interferir politicamente na Polícia Federal. O objetivo, segundo o ministro, é averiguar a autenticidade e a integridade do material.
Policiais federais, representantes do governo e da Procuradoria-Geral da República, além da defesa do ex-ministro, assistiram à gravação da reunião. Celso de Mello deu prazo de 48 horas para a PGR se manifestar sobre a divulgação do vídeo. Segundo fontes que acompanharam a exibição, Bolsonaro defendeu mudança na superintendência da Polícia Federal para proteger sua família de investigações.
A defesa de Moro pediu a divulgação do vídeo na íntegra como “lição cívica”. Há relatos de que ministros se excederam durante o encontro e dispararam ofensas contra autoridades. O governo resistiu a entregar o material e quer que seja divulgado apenas o trecho mencionado pelo ex-ministro. Em tese, Celso de Mello pode dar publicidade à gravação antes mesmo da conclusão da perícia.
O processo obedece a protocolos internacionais. Os peritos trabalham sobre cópia da gravação para preservar a integridade do conteúdo original. Em seguida é feita a análise de conteúdo, que é a transcrição objetiva de tudo que se passou na reunião, com a descrição do cenário.
Os técnicos analisam também se houve alguma edição, intencional ou não, da gravação. Nesse caso, é avaliado se houve mudança no conteúdo, como inversão na ordem dos trechos, supressão ou adição de imagens. Nem toda edição é considerada uma fraude. Isso só é caracterizado quando há tentativa de mudar o conteúdo com a finalidade de favorecer a parte envolvida.
O período para análise de um vídeo depende do tamanho da gravação e de sua qualidade. Os peritos costumam gastar 30 vezes o tempo de duração do conteúdo para concluir a apuração. Ou seja, se o vídeo tiver duas horas, o trabalho poderá chegar a 60 horas.
(Texto: João Fernandes com Congresso em Foco)