Para não passar vergonha, no Dia dos Povos Indígenas

Foto: Arquivo pessoal
Foto: Arquivo pessoal

O dia 19 de abril era nacionalmente conhecido como dia do índio, desde de 2022, por meio da Lei 14.402, para ressaltar a diversidade étnica, passou a ser chamado oficialmente de dia dos povos indígenas. Infelizmente é corriqueiro, anualmente, vermos sujeitos não indígenas praticando atos que violentam a cultura indígena numa suposta ‘comemoração’ ao dia reservado aos povos originários.

Antes de tudo é preciso ressaltar ao leitor que os povos originários são diversos e estão bem distantes de ser um povo de cultura única, exatamente, por isso, fala-se em povos indígenas no plural e, não, apenas índio no singular.

Para que se tenha noção, ainda hoje, após muitos projetos que tentaram e tentam dizimar esses povos, existem em torno de 305 etnias e 274 línguas indígenas, segundo o IBGE. Nós, não indígenas, precisamos urgentemente compreender que o dia 19 de abril não é data folclórica, mas momento de apoio à luta desses povos que, na democracia, batalham, ainda, por direitos básicos como terra, água, alimentação, moradia, segurança e tantos outros.

Assim, se você não é indígena como eu, há formas de você não passar vergonha e violentar sujeitos brasileiros que lutam pelo seu direito à cultura originária. Não se aproprie da data, em especial, as escolas, para pintar o rosto, colocar cocar ou distribuir arco e flecha para as crianças e os adolescentes não indígenas, como referência à cultura indígena e ao seu dia.

Jamais seremos indígenas ou estaremos os valorizando por colocar elementos dessa cultura em nossos corpos. Essa prática ajuda a construir a errada ideia de que ser indígena é usar este ou aquele elemento e se portar dessa ou aquela forma e, inclusive, reforça o pensamento de que indígena que não esteja com cocar, arco e flecha, morando na oca ou andando nu na natureza e venha a usar calça jeans, celular ou more na cidade deixe de ser indígena. Quer fazer uma ação no dia 19 de abril que valorize os povos indígenas no ambiente escolar? Leve um indígena ou um estudioso e apoiador que possa falar a real situação como vivem e por qual motivo lutam.

Além disso, indígenas são brasileiros e não estão fora do Estado nacional, bem como não são sujeitos incivilizados, bárbaros e primitivos. Assim, não existe nós (brasileiros) e eles (indígenas).

Existe, nós brasileiros: indígenas e não indígenas. A Constituição Federal, no Art. 231, garante a eles que mantenham seus modos de vida. É direito, por exemplo, dos indígenas, ter acesso ao SUS, à escola, à universidade, votar e ser votado e, somado a tudo isso, o direito de ter seu território originário demarcado, falar e ter respeitada sua língua, professar sua espiritualidade, sua cultura e tudo que garanta seu modo de vida étnica. Indígenas não são violentos e preguiçosos. São sujeitos que originariamente já estavam neste continente antes da invasão colonial, mas que resistiram e resistem às várias imposições agressivas.

Sua relação com a terra e a natureza é de subsistência muito distante de uma relação meramente econômica. Como disse Daniel Munduruku, é preciso que nós não indígenas passemos por uma atualização.

“Atualizar significa trazer pro presente, pro agora, pra este momento que nós estamos vivendo. […] pensar a temática indígena não como uma temática presa ao passado, mas que ele comece a olhar, a ver, de hoje pra trás. Aí ele vai entender o que é o ‘pra trás’… Mas olhando de hoje, olhando esses povos como seus contemporâneos”.

Não dá mais para nós, não indígenas, seguirmos passando vergonha no dia 19 de abril. É chegado o tempo de olharmos ao redor, pois eles, povos indígenas, todos os dias, estão nos ensinando como sermos menos preconceituosos e salvarmos o planeta por meio de uma ética ambiental que respeite os limites da terra, da água, da natureza e dos animais humanos e não humanos.

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