A menos de um ano das eleições de 2026, o cenário político de Mato Grosso do Sul segue atípico: até o momento, apenas o atual governador Eduardo Riedel (PP) confirmou sua candidatura a reeleição. Em contraste com pleitos anteriores, quando o quadro de pré-candidatos costumava ser melhor definido nesta época, a ausência de novos nomes chama atenção e levanta questionamentos sobre o que explica essa aparente falta de concorrência.
A equipe de reportagem do Jornal O Estado buscou conversar com um especialista para entender o que explica a escassez de nomes e os fatores que influenciam o cenário político atual.
Segundo o professor e doutor em Ciência Política, Daniel Estevão, essa escassez de nomes, embora cause estranhamento, é parcialmente natural. Ele explica que, em anos de reeleição, é comum que o governador em exercício saia na frente, enquanto eventuais adversários aguardam o momento mais oportuno para se colocarem na disputa.
“O governador tem a vantagem de já estar no cargo, o que lhe permite se organizar e expor seus planos de continuidade. Já quem pretende concorrer contra ele precisa calcular muito bem quando se lançar, pois antecipar-se demais pode gerar desgaste e ataques precoces”, afirma o cientista político.
Além do fator temporal, o professor destaca que o grupo político que sustenta Riedel, construído ainda na gestão do ex-governador Reinaldo Azambuja (PL), mantém-se forte e com ampla base de apoio, o que desestimula o surgimento de grandes adversários.
“O grupo do atual governo é muito consolidado. Ele envolve um arco de alianças partidárias amplo, que até pouco tempo incluía o próprio PT, o que mostra como o poder de articulação do governador é expressivo. Isso naturalmente reduz o espaço para que outros nomes se apresentem como alternativa viável”, analisa Estevão.
O deputado federal Marcos Pollon(PL) também se colocou como pré-candidato ao governo, no entanto, ele está em um partido que já declarou apoio à reeleição de Eduardo Riedel, caso queira concorrer terá que trocar de legenda na janela partidária que deve abrir no ano que vem. O PT, por sua vez, afirma que lançará candidatura própria, e tenta convencer Fábio Trad a assumir o papel.
Histórico e precedentes
A baixa quantidade de pré-candidaturas não é um fenômeno inédito em Mato Grosso do Sul. Segundo Estevão, em anos de reeleição, como 2002 (Zeca do PT), 2010 (André Puccinelli) e 2018 (Reinaldo Azambuja), o número de candidatos também foi menor. A exceção, segundo ele, foi o pleito de 2022, que registrou um cenário de disputa mais pulverizado, com vários nomes competitivos até as vésperas da votação.
“A eleição de 2022 foi atípica. Tivemos quatro ou cinco candidatos com chances reais de ir ao segundo turno. Mas esse nível de fragmentação não é o padrão em anos de reeleição. Normalmente o governador entra forte e as demais forças avaliam que é uma disputa difícil”, explica.
O cenário nacional também exerce influência na dinâmica local. A polarização política e a necessidade dos grandes partidos de articular palanques estaduais para as campanhas presidenciais fazem com que as legendas analisem com cautela suas estratégias regionais.
“Os grandes partidos, tanto da direita quanto da esquerda, precisam organizar seus palanques estaduais em sintonia com os projetos nacionais. Isso afeta diretamente a definição de quem será candidato ao governo, ao Senado e à Câmara”, observa Estevão.
Impactos na democracia e no interesse do eleitor
Para o cientista político, uma eleição com poucos candidatos não necessariamente compromete a qualidade do processo democrático, desde que exista disputa real e debate programático. No entanto, ele reconhece que a falta de alternativas pode reduzir o interesse do eleitor.
“O importante é que haja pelo menos dois candidatos dispostos a debater ideias e projetos. Quando isso acontece, o eleitor tem informação suficiente para formar sua opinião. O problema é quando há apenas um nome, porque aí o processo perde sentido democrático”, pontua.
Em relação ao engajamento popular, Estevão pondera que o interesse do eleitor não depende apenas da quantidade de candidatos, mas do perfil dos nomes e do contexto da disputa.
“Se houver um candidato muito popular ou uma campanha envolvente, o eleitor tende a se interessar, mesmo com poucos concorrentes. Por outro lado, se a vitória de um deles parecer inevitável, há uma tendência natural de desmobilização”, conclui.
Embora ainda tenha apenas a candidatura do governador Riedel confirmada, o cenário ainda pode mudar. A expectativa é que os partidos comecem a definir suas estratégias a partir do primeiro trimestre de 2026, quando o calendário eleitoral se intensifica e as alianças começam a ser formalizadas.
Fala Povo – Eleitores comentam a falta de opções na disputa pelo Governo de MS
Pergunta: Você acha importante ter mais opções de candidatos ao governo?
Celso Ramos, 76 anos, aposentado
“É sempre bom ter mais opções. Hoje tem muito partido apoiando o Riedel, e isso acaba travando o cenário. Ninguém mais pensa pelo povo, parece que estão com medo de enfrentar a realidade. Mas quanto mais candidatos, melhor, senão fica tudo na mesmice”.
Pamela Santos, 21 anos, estudante
“Acho importante sim, porque quanto mais opções, melhor para o eleitor escolher. Essa falta de candidatos mostra um certo desinteresse dos políticos. É a segunda vez que vou votar e queria ver mais nomes disputando, para a gente poder comparar ideias”.
Gilmar dos Santos, 48 anos, mecânico industrial
“Deveria ter mais candidatos, porque o Estado é grande e tem muita demanda. Falta interesse em governar com honestidade e trabalhar de verdade. Muitos partidos acabaram se acomodando”.
Cezar Nogueira, 57 anos, empresário
“O governador Eduardo Riedel está fazendo o dever de casa. Então é difícil alguém querer encarar. Ele vem com uma bagagem grande, acho que por isso há poucos candidatos, muitos preferem disputar o Senado, onde veem mais chance. Não vejo ninguém com força para enfrentar o governador hoje”.
Silvana Pimentel, 50 anos, psicopedagoga
“Riedel vem mantendo um trabalho consistente, acima da média. Isso desestimula outros nomes a se lançarem. A verdade é que quem faz um bom trabalho afasta concorrentes.”
Por Brunna Paula
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