Especialistas indicam reflexos negativos na candidatura de Trad

Foto: Divulgação
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Denúncias de assédio devem prejudicar campanha de ex-prefeito

Por Rayani Santa Cruz

Mesmo sendo investigado pela Polícia Civil, por crimes de assédio, estupro na forma tentada e favorecimento à prostituição, o ex-prefeito Marquinhos Trad (PSD) e pré-candidato ao Governo do Estado aparentemente ignora totalmente as denúncias, e aparece em diversas agendas nas redes sociais. Marquinhos continua a fazer reuniões e encontros em bairros da Capital e no interior. Ele esteve em Coxim, na tentativa de não ser afetado politicamente pela situação. Apesar disso, sociólogo e cientista político consultado pelo Jornal O Estado indicam reflexos negativos na questão eleitoral, mas divergem na análise sobre os resultados na campanha de governo.

Dois fatores

O sociólogo e historiador Paulo Cabral afirma que dois aspectos devem ser analisados, o primeiro diz respeito à situação jurídica. Cabral enfatiza que: “no momento trata-se uma denúncia que está sendo investigada, e não se pode se falar de crime”. Ele destaca que na Justiça brasileira sempre existe a presunção de inocência. “Do ponto de vista jurídico, isso aí é um caso que ainda vai levar um tempo para percorrer as instâncias e julgar.”

O outro aspecto citado pelo sociólogo, é o politico e segundo ele, nessa dimensão o que se presume e geralmente ocorre é o fato de as pessoas tenderem a assumir a denúncia, o boato e o falatório como se fosse algo concreto, ou plausível. Ele diz que dentro deste contexto entra aquele ditado popular “onde há boato há fogo”. Para Cabral, esse fato ocorrido com Marquinhos não teria repercussão maior, se fosse há alguns anos, pois no Brasil sempre houve uma tolerância muito grande nesse tipo de situação. Ele cita, exemplos desde Getúlio Vargas, que teve casos e ninguém na época achava ruim. Do líder populista, Ademar de Barros, que tinha bandeiras como ‘Deus, Pátria e família” e do próprio presidente Jair Bolsonaro, que está no quarto casamento, sem nunca ficar viúvo, e ninguém vê problema nisso.

Estrago político

Para Paulo Cabral, o fato em si já está provocando grande estrago político e pode até mudar o quadro do segundo turno em MS. Ele afirma que o perfil de Marquinhos Trad de conservador, evangélico e da família agrava ainda mais a questão do escândalo que vai ser usada por adversários políticos.

“O fato em si não tende a provocar grandes estragos políticos. Mas no caso, de Marquinhos Trad que se apresenta como conservador, e como evangélico. E essa denúncia para esse perfil acaba sendo complicada. Aquilo que no geral poderia interferir de uma forma mínima no caso do perfil dele, é um pouco mais complicado, e pode ocorrer disso se refletir eleitoralmente.”

Cabral diz ainda que o tempo será fundamental, e na política faltando dois meses para eleição pode ser fatal. “As eleições já são em outubro e há só dois meses para ele demonstrar que se trata de uma armação política. Caso isso, não ocorra ele provavelmente vai sofrer na campanha. Isso já está sendo usado por adversários. E vai mudar o quadro eleitoral, porque tínhamos quatro candidatos com possibilidade de chegar no segundo turno, e não há tempo, o tempo político é menor que o tempo jurídico.”

PSD

Cabral afirma que a exploração do caso pela disputa política vai ser grande, e que se o PSD trocar de candidato é o mesmo que “passar o recibo” e consequentemente ficaria uma situação tão complicada quanto. “A menos que tivesse um outro candidato político com mesma musculatura eleitoral. Acho que em termos de jogo eleitoral, ele deve manter a candidatura, ir em frente e tentar desmentir e desfazer esse clima político. Até porque a hipótese de desistência não procede.”

Análise de Tito Machado

O professor da UFMS (Universidade Federal de MS) e cientista político, Tito Machado, afirma que situações envolvendo denúncias como a de Marquinhos sempre ocorreram no Brasil, e que todas as vezes que isso envolveu figuras políticas “o estrago foi menor do que esperado”, já que o machismo estrutural e histórico político deixam as pessoas mais tolerantes.

“Infelizmente a sociedade não toma partido, de uma atitude tão execrável. Não estou dizendo que a denúncia relacionada a Marquinhos é verdadeira. Estou olhando o conjunto social, e sem falar na denúncia em si. Pelo histórico social do Brasil, e pelo comportamento habitual da sociedade brasileira, o impacto geral na candidatura de Marquinhos será menor, do que deveria ser. E digo porque por conta da sociedade ser tolerante e até em certo aspecto conivente, fechar os olhos ou transferia a culpa para a vítima. Dessa forma o impacto não será tão danoso, quando deveria ser.”

Diferente de Cabral, Tito Machado não acredita que o perfil de Marquinhos Trad possa pesar e resultar de forma negativa, as acusações por adversários. Ele diz que mesmo que ele seja conservador, da família e evangélico, para a “sociedade geral isso não afeta, porque a sociedade brasileira infelizmente é convivente com esses assuntos”.

Ele concorda que a pior estratégia neste momento, é o PSD trocar a candidatura de Trad. “É o mesmo que assinar a sentença de culpabilidade.”

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