Entrevista da Semana é com Ricardo Barros

Representante de Bolsonaro na Câmara, Ricardo Barros aposta em experiência para ganhar apoio às pautas governistas

Ex-ministro da Saúde no governo Temer, o deputado federal Ricardo Barros (PP), 60 anos, teve a nomeação como líder do governo oficializada na última terça-feira (18) pelo presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido). Em entrevista exclusiva ao O Estado, ele critica as recomendações do sul-mato-grossense Luiz Henrique Mandetta, enquanto ministro da saúde, à população.

O tratamento preventivo proposto pelo ministro interino da Saúde, general Eduardo Pazuello, na avaliação do deputado paranaense, pode salvar vidas. Apesar de ser cogitado para assumir, novamente, o Ministério da Saúde, Ricardo Barros elogia a gestão do general, que está no cargo desde a saída de Nelson Teich em maio deste ano, e diz que trabalha para a permanência dele na pasta – hoje, uma das mais importantes e com maior visibilidade dentro do governo devido a pandemia do novo coronavírus.

Conhecido pela capacidade de articulação, Barros, que está no sexto mandato na Câmara Federal, aposta na convergência para acelerar a tramitação de projetos importantes para o desenvolvimento do país. Após meses de uma relação conturbada entre o presidente da República e o da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), a nomeação do deputado Ricardo Barros é vista como um aceno de Bolsonaro ao centrão em busca de mais apoio político.

O Estado: O senhor já foi vice-líder do governo durante as gestões dos ex-presidentes Lula e Dilma, além de ter concorrido, no ano passado, à presidência da Câmara dos Deputados. É um deputado com ampla capacidade de articulação. Como contribuir ao governo?
Barros: Tenho feito esse trabalho de articulação política em todos os governos, com exceção do Michel Temer porque eu fui ministro. Tenho convivência com o presidente Bolsonaro, com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia e temos experiência, estou no sexto mandato. Estamos bem articulados e em trânsito para tentar ajudar o governo a votar as matérias, que tem de ser votadas para o bem do Brasil.

O Estado: O governo sofre muitas críticas. Apesar de muitas tentativas, faltou, de fato, um articulador que conseguisse defender os anseios na Câmara?
Barros: Tivemos um momento de coalizão, os partidos com bancadas favor do governo e de oposição. O governo também tem seus interesses e naturalmente vamos articular para que todas as partes sejam atendidas e possamos passar as tratativas.

O Estado: A reforma tributária terá que ser feita pelo governo – e tem sido bastante prometida. Deve ser o assunto mais espinhoso na hora de conduzir os interesses do governo entre os deputados?
Barros: Reforma Tributária é um desejo do governo e um desejo do Parlamento. Obviamente, existem resistências de estados e municípios que vão perder receita na tributação de impostos e perder o poder de definir alíquotas de impostos e essa negociação nós faremos aqui de forma bastante eficiente, para que nós possamos rapidamente entregar ao povo brasileiro mais um avanço ao Brasil.

O Estado: Sua nomeação tem sido vista como um aceno do governo do centrão. Como o grupo de deputados deve enxergar esta sinalização do presidente?
Barros: Diria que é um esforço que o presidente faz para ampliar a sua articulação política ao mesmo tempo em que vem fazendo um bom trabalho. Nós estamos com essa tarefa de ampliação de articulação política e de buscar mais apoiamentos aqui na Casa e eu vou me dedicar muito para alcançar esse objetivo.

O Estado: A relação desgastada do presidente da Câmara com Bolsonaro rendeu uma imagem polarizada diante a sociedade. Como vê a relação dos dois hoje? E como pode contribuir para uma convivência mais harmoniosa?
Barros: Tivemos uma sessão do Congresso muito produtiva. Nós reavemos muitos vetos e mantivemos muitos vetos do governo em comum acordo entre todos os partidos. Ainda tivemos uma reunião com o presidente da Câmara [Rodrigo Maia], presidente da República e ministros para anunciar a população e ao povo brasileiro sobre o teto de gastos e contribuição fiscal. É uma construção de causas comuns. Onde haver convergência nós vamos avançar mais rapidamente e onde não haver convergência vamos construir os passos.

O Estado: A indicação de um deputado do centrão para a liderança do governo já começa a pavimentar o caminho para uma candidatura da base aliada do governo para a presidência da Câmara?
Barros: A presidência da Câmara funciona de forma independente do governo. A ideia é que o parlamento escolha conforme a indicação, o seu presidente. Esse presidente de forma autônoma tem a harmonia que a Constituição permite em comum com o Executivo e com o Judiciário. Não é adequado o presidente da República entrar nessa decisão sobre o presidente da Câmara.

O Estado: O centrão já foi alvo de críticas de Bolsonaro e seu grupo político. O que mudou nesta relação, nos últimos meses?
Barros: O presidente iniciou o seu trabalho se articulando com outros parlamentares. Através desse contato houve a nomeação de ministros como o da Saúde, Educação e Agricultura. Mas depois percebeu que não havia eficácia nesta questão, então passamos a articulação mantendo conversas desde janeiro com o presidente, e em stand-by. Acho que vamos avançar muito nessa direção.

O Estado: Desde a saída do governo, o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, tem disparado críticas à maneira que o enfrentamento à Covid-19. Na sua avaliação, o Ministério tem conduzido de forma satisfatória o combate ao novo coronavírus? As mais de 100 mil mortes de brasileiros poderiam ter sido evitadas?
Barros: Eu discordo da recomendação inicial, feita anteriormente e que pedia que as pessoas devessem ficar em casa com sintomas como: febre e dor de cabeça. E só fossem buscar o serviço médico quando tivessem falta de ar. Certamente, a melhor recomendação é do ministro Panzuello onde as pessoas devem procurar os serviços médicos aos primeiros sintomas e isso vai salvar muitas vidas. Então, aquela recomendação [de Mandetta] realmente não era a adequada para salvar vidas.

O Estado: O sr é um dos nomes cotados por Bolsonaro para assumir o Ministério da Saúde. Ele já anunciou que o atual ministro interino, Eduardo Pazuello, deve deixar a pasta após o arrefecimento da pandemia no país. Como vê uma possível nova indicação?
Barros: Eu trabalho pela permanência do ministro Panzuello que tem feito um grande trabalho. Ele comprou respiradores, entregou equipamentos necessários e está tendo uma verdadeira gestão no ministério da saúde, que não estava tendo.

O Estado: Como liderança nacional do PP, qual sua participação na decisão de candidatura própria a prefeito em Campo Grande?
Barros: Os Progressistas estão estimulando o maior número de candidaturas próprias em todo o país. Ficamos felizes que na Capital e em outras cidades do Mato Grosso do Sul tenhamos pré-candidatos levando o nome do partido e colocando os nomes a disposição da população.

(Texto: Andrea Cruz)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *