Os deputados Rodolfo Nogueira (PL) e Camila Jara (PT) protagonizaram bate-boca em diversas ocasiões, durante o primeiro dia da CPI do MST, ontem (23), na Câmara dos Deputados. Com trocadilhos conhecidos, a oposição travou discussões duras com deputados da base do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A sessão foi realizada para definir o Plano de Trabalho da Comissão.
O deputado Rodolfo Nogueira usou a palavra, argumentando que a CPI é importante para o agronegócio e produtores rurais. Além disso, citou que o mundo depende da segurança alimentar. Ele citou o artigo quinto da Constituição federal, que concede o direito de propriedade particular, fazendo uma comparação com artigos do Código Penal sobre invasões e destruições de plantações.
“Quem pratica crime de invasões e destruições infringe o Código Penal, portanto, é bandido. Essa CPI tem a missão de mostrar a verdade para o Brasil. Há anos, o agronegócio vem sendo refém desse movimento, que deveria, juridicamente e pela lei, conseguir as suas terras pela reforma agrária, mas não. Incita e invade propriedades.”
A fala dele foi rebatida pela deputada Gleisi Hoffmann (PTSC), que destacou sobre os discursos de parlamentares que tentam criminalizar o movimento. “Quando falamos que o objetivo dessa CPI é criminalizar, é exatamente por esse tipo de discurso, do deputado que me antecedeu. Falando em bandidos, em crimes e sem mostrar efetivamente provas ou o que, de fato, está acontecendo. Isso é muito ruim, é grave. O MST nasceu em 1984, na cidade de Cascavel-PR e especialmente para trabalhadores do entorno da Itaipu, que não receberam pelo alagamento e perda de suas terras.”
Gleisi contou a história da grilagem no Brasil e convidou os parlamentares a conhecer os assentamentos do MST. “Tratar o movimento e essas pessoas como bandidos é um crime. Temos produtores, pessoas que produzem. Eu vou mostrar a história do MST e porque nós o defendemos.”
Na mesma linha que os parlamentares de oposição, o deputado Marcos Pollon (PL) também chamou o movimento de criminoso e citou diversos crimes que, segundo ele, são cometidos em vários Estados. “Teremos o início do fim de um crime abjeto que acomete o Brasil. O agronegócio é responsável pela economia do Brasil e alimenta um quinto da população mundial, não pode ser assolado por criminosos que invadem a propriedade privada, levando terror e destruição”, disse ele, que citou violência, assassinatos, queima de sedes, abigeatos, dentre outros, como próprios desse movimento.
Pollon afirma que o objetivo é investigar quem são os mandantes das invasões. “Não podemos passar a mão na cabeça de criminosos. É necessária a segurança no campo. Na Expoagro de Dourados, em MS, tive de explicar ao produtor rural como não ser atacado, ofendido e vilipendiado. Esse fato já deveria ser motivo de ojeriza pela população.” A deputada Camila Jara (PT) destacou que havia presença de jovens na sala e que narrativas indicando inimigos máximos do Brasil não eram resolutivas. “Queria perguntar qual a impressão que queremos dizer a esses jovens? Esse é o país que estamos construindo para eles? Entendo que criar narrativas totalizadoras, de inimigo comum, seja mais fácil para cativar adversários do que alinhar os problemas reais do Brasil”, disse Camila Jara que, posteriormente, protagonizou discussão com a deputada Caroline de Toni, de SC.
Bate-boca
A deputada Caroline de Toni (PL-SC) se referiu à Camila Jara. “A hipocrisia é muito grande nessa comissão. Agora, vem aqui a deputada, dizendo que ‘sou neta de assentado, não tem saneamento básico’. O que o PT fez, nessas mais de duas décadas de movimento, que não colocou saneamento nas terras?”, disse ela, e continuou: “é fácil falar de justiça social com bolsa de grife e iPhone. Por que não vende a bolsa para compartilhar aos pobres e dar essa justiça social, que a deputada tanto fala?”, ironizou.
Camila Jara respondeu à provocação, contando a história de Dorcelina Folador. “Foi prefeita de meu Estado e foi assassinada por uma parcela do agronegócio que não sabe lidar com o diferente e o contraditório. Mas eu não posso trazer esse debate para essa Casa e dizer simplesmente que o ‘agronegócio mandou matar Dorcelina Folador’ porque entendo que, aqui, não temos de trazer juízo de valor e sim soluções para os problemas que a gente enfrenta, no dia a dia.” A briga continuou, pela parlamentar catarinense. “Chamou o agronegócio de assassino. É absurda essa hipocrisia e falta de vergonha na cara dos deputados da esquerda.”
Outro bate-boca foi quando a deputada Samia Bonfim (PSOL-SP) argumentou sobre titulações de terras que, por regra, são permitidas só após 10 anos de estadia dos assentados. Nisso, ela olhou para Rodolfo Nogueira e disse que ele saberia bem do que se tratava, pois devia ter muitos amigos grileiros.
Rodolfo pediu a palavra e respondeu: “sou amigo de trabalhadores, deputada. A deputada falou que eu conheço vários grileiros. Eu conheço o Zé Rainha, preso por extorsão e invasão de terras. Não tenho amigo grileiro, amigo com processo judicial, amigo investigado e nem preso”, disse ele.
Início da sessão da CPI teve clima de paz
Antes de a sessão começar, a deputada Camila Jara (PT-MS) ofereceu, aos presentes, copos com suco produzidos em assentamentos do MST. “A gente pode experimentar como a gente consegue aliar a produção de alimentos saudáveis com o incentivo para que a agricultura familiar produza cada vez mais”, disse. A deputada ofereceu a Salles, que tomou o suco e posou para fotos, segurando uma garrafa do produto. Uma nova sessão será realizada nesta quarta-feira (24), para análise de 15 requerimentos que já foram apresentados por parlamentares – até a tarde de terça, havia 102 disponibilizados, no portal da Câmara.
Por Rayani Santa Cruz – Jornal O Estado do MS.
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