Especialista acredita haver bloqueios dos próprios partidos nessa questão
Com incentivo maior à participação de mulheres na política, a Justiça Eleitoral determina que todos os partidos cumpram a cota de 30% de candidaturas femininas, e esse ano houve empenho da comunicação do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) em transmitir propagandas e conteúdos encorajando as mulheres a procurarem seus lugares na política.
Foram 201 mulheres candidatas a deputadas estaduais, federais, ao Senado e Governo, em Mato Grosso do Sul. Porém, mesmo com todo o incentivo, o efeito nas urnas ainda foi tímido no Estado, resultando em apenas quatro eleitas.
Depois da votação no primeiro turno, em 2 de outubro tiveram resultados positivos: a senadora eleita Tereza Cristina (PP), deputada federal eleita Camila Jara (PT), deputada estadual reeleita Mara Caseiro (PSDB) e deputada estadual eleita Lia Nogueira (PSDB). As candidatas ao Governo do Estado, Rose Modesto e Giselle Marques (PT) não conseguiram chegar ao segundo turno.
Das 24 vagas na Assembleia Legislativa, duas serão ocupadas por mulheres. A deputada Mara Caseiro já exerce mandato, e a nova vaga ficará com a vereadora de Dourados, Lia Nogueira. Ainda que o resultado não seja tão alto, já é melhor que o ano de 2018, onde nenhuma das vagas teve uma mulher eleita e o Mato Grosso do Sul ficou conhecido nacionalmente por ser o único sem representante feminina. Mara Caseiro na época ficou como primeira suplente, e só assumiu em 2020 quando o então deputado Onevan de Matos, do PSDB, faleceu.
Em relação ao Congresso Nacional, o estado terá apenas uma mulher entre as oito vagas na Câmara Federal. A vereadora de Campo Grande, Camila Jara, do PT, assume a cadeira em fevereiro de 2023 e também ocupa o posto de deputada federal mais jovem do Brasil. Ela já protagoniza um feito em Campo Grande, e foi a única mulher eleita entre as 29 vagas da Câmara Municipal no pleito municipal de 2020.
Em relação à Câmara Federal, em 2018, houve duas mulheres eleitas: a deputada Rose Modesto e a deputada Tereza Cristina, que assumiu o posto de ministra da Agricultura, e deixou a vaga em aberto para a segunda suplente, Bia Cavassa (PSDB). Levando esse histórico em consideração, houve diminuição da ocupação feminina na Câmara Federal.
No Senado, com a saída de Simone Tebet (MDB), e eleição de Tereza Cristina, o número de representantes femininas continua a ser de duas vagas, já que Soraya Thronicke (União), eleita em 2018, fica no mandato até 2024. Ano que vem, Tereza Cristina pode fazer história no Senado e ser a primeira mulher a presidir a Casa de Leis. Ela é cotada a disputar o posto sob apoio da base bolsonarista. Simone Tebet tentou o feito histórico por duas vezes, mas não conseguiu.
Especialista
O doutor em ciência política pela UEMS (Universidade Estadual de MS), Ailton de Souza, diz que os mecanismos são para melhorar os números da participação e aumentar a representatividade feminina nas Casas de Leis e Executivo. Porém, ainda há um bloqueio dos próprios partidos que não incentivam de maneira efetiva como deveriam. “Esses bloqueios estão no sentido de não potencializar as candidaturas femininas. E por mais que a gente tenha um aumento dos nomes femininos na disputa, não temos aquela potencialização necessária, como se tem o estímulo do nome masculino. Aquela questão da projeção e musculatura política, acaba criando obstáculos para um nome feminino, entre nomes que já estão consolidados na política.”
Para o doutor, poucas são as mulheres que conseguiram superar essa dificuldade, e entre elas está Simone Tebet, que ganhou projeção nacional e se tornará uma candidata muito forte para 2026. “Essa escalada é positiva e acaba influenciando novas candidaturas femininas.”
Ele cita que em São Paulo e no Rio de Janeiro houve candidaturas femininas coletivas, o que não ocorreu em MS. “Ou seja, um dos nomes é colocado e em caso de vitória fica com a vitória da coletividade que se reuniu. Já teve casos em MS, mas são muito tímidos. É uma opção para dar maior representatividade, mas a gente espera que isso venha a ser trabalhado muito mais pelos partidos e dentro dos partidos.”
Para Souza, o desafio maior é superar os bloqueios dentro dos partidos, embora a lei exija cota e haja estímulo da Justiça Eleitoral. “É claro, que a gente não pode deixar de dizer que as mulheres devem se sentir seguras para participar do processo político, para mudar o cenário de que a mulher não participa da política. Já rompemos com essa ideia, agora temos de ter muito mais estímulos para isso.”
Desafios
O cenário já começou, e o primeiro passo foi dado, mas é necessário superar mais desafios. “Acredito que a médio prazo tenhamos um número maior de mulheres participando e muito mais sendo eleitas. Ainda temos pouca representatividade na Assembleia e na Câmara. Não é possível, termos 24 cadeiras e eleger apenas duas mulheres. A gente espera que aumente essa representação, assim como a representação dos negros e indígenas. A gente identifica ainda bloqueios e falta de estímulos, e de certa forma desigualdade de competição, onde se fomentam mais candidaturas masculinas do que as femininas. E dentro do partido as vezes não é dado tantos recursos para as candidaturas femininas. Isso tem de ser rompido para que nas próximas eleições possamos mudar esse quadro.”
Por Rayani Santa Cruz – Jornal O Estado do MS.
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