A maioria critica a lei que deveria seguir as alterações do período de 45 dias de campanhas
Por Rayani Santa Cruz [Jornal O Estado]
Radialistas e apresentadores de televisão de Mato Grosso do Sul devem se afastar das emissoras, a partir de 30 de junho, para disputar as eleições deste ano. A legislação eleitoral diz que, após essa data, é vedado às emissoras transmitir programa apresentado ou comentado por pré- -candidato, sob pena, no caso de sua escolha na convenção partidária, de imposição de multa e de cancelamento do registro da candidatura do beneficiário.
No Estado, ao menos seis pré-candidatos da área devem fazer suas últimas participações em programas. Entre eles profissionais que deverão ficar 90 dias sem remuneração alguma, porque dependem do cargo para sobreviver.
Esse é o caso do ex-vereador e radialista Miltinho Viana, que tenta uma cadeira na Câmara Federal, pelo Solidariedade. Ele comenta sobre as dificuldades em ter de se afastar do cargo na emissora de rádio, pois ficará sem ganhos salariais por três meses. Diferentemente de parlamentares do Legislativo que apresentam programas, mas que continuam com salários mensais das Casas de Leis, Viana afirma que ficará sem renda e terá de arrumar free lancers.
“Apresento meu programa até o dia 29 e não tem necessidade de fazer documento nenhum para encaminhar ao Tribunal Regional Eleitoral. Acho injusto a desincompatibilização e afastamento por 90 dias sem remuneração. A emissora não paga nosso salário, o partido manda o fundo partidário, mas é para uso em campanha. E eu não posso utilizar isso para pagar as contas de água e luz da minha casa. A situação é tão complicada para o nosso lado que nós, que somos da área de comunicação, não podemos fazer eventos, apresentar comerciais e nada que apareça em mídias convencionais. Por isso a gente tem de se virar para conseguir a renda”, disse Miltinho.
Apesar do ponto negativo, ele afirma que aceitou o desafio porque acredita no projeto do pré-candidato André Puccinelli, do MDB, para governador. “Essa eleição vai ser atípica como as outras. A passada foi de 45 dias, e essa não vai ser diferente. Nosso partido realiza a convenção até o dia 3 de agosto. Nossa preocupação é a abstenção, visto o desinteresse grande da população. Mas temos projetos importantes a apresentar e isso é o mais importante.”
A radialista e apresentadora Keliana Fernandes é outro nome conhecido no Estado, e que se afasta das funções para disputar cargo de deputada federal, pelo PSDB. Ela também classifica o afastamento das funções como injusto e realiza o último programa dia 30.
“É muito injusto, porque é a nossa profissão e assim que a gente se sustenta. Quer dizer que durante a campanha nós não podemos trabalhar porque as rádios e TVs são concessões públicas e ficamos impedidos de exercer a nossa profissão. Mas nenhuma outra profissão, a não ser a de servidor público, tem de se afastar. A diferença é que nós não trabalhamos para o Poder Público e sim para a iniciativa privada.”
Keliana pondera que a Justiça Eleitoral prevê a necessidade de os profissionais ficarem 90 dias “fora do ar”, mas acredita que a lei precisa de uma atualização, já que atualmente as campanhas eleitorais não passam de 45 dias. “A lei não corrigiu e não acompanhou esse novo calendário. Já que é o prazo da campanha é de 45 dias, por que não temos o mesmo período de licença? Seria mais coerente, mas não existe interesse em corrigirem essa falha, até porque, a maioria deles que já está no poder, não são radialistas ou apresentadores”, disse Keliana, que enfrenta o pleito e já está em pré-campanha pelo Estado.l
Deputados
Ainda sobre o afastamento, o deputado estadual Lucas de Lima (PDT), que tenta a reeleição, já se despede do público. “No programa da TV Record, de domingo, eu apresento o último programa amanhã. Já no rádio eu faço o último programa dia 29, quarta-feira”, explica o deputado.
De Campo Grande, o ex- -vereador Derly dos Reis de Oliveira, “o Cazuza”, também se desincompatibiliza de sua função. O radialista busca uma vaga à Câmara Federal nas eleições deste ano, pelo Progressistas. Para ele, a política precisa de cidadãos que tenham compromisso e experiência. Cazuza foi vereador por dois mandatos na Capital e saiu candidato a federal na eleição de 2014 e agora tenta novamente.
“Temos bons nomes, com vasta experiência política para poder disputar este pleito. Ainda mais agora com a minirreforma que não permite coligação na proporcional. Então, não tenha dúvida que a direção do partido trabalha para construir uma chapa competitiva para elegermos representantes progressistas”, disse.
Sobre deixar a emissora em que atua, ele comenta que a legislação prevê o afastamento por 90 dias antes do pleito. “Por isso eu estarei me afastando do ar no último dia do prazo, pois as eleições serão no dia 2 de outubro.”
O deputado estadual Marçal Filho, também do PP, tenta reeleição e se despede do programa de rádio em Dourados. Segundo informado via assessoria, o radialista realiza a última apresentação dia 29.