“O que estamos vendo hoje é que há uma espécie de muro a separar os brasileiros”
Com posicionamento forte, a senadora vem se consolidando como o nome feminino para 2022
A quarta entrevista da série do jornal O Estado com os presidenciáveis às eleições em 2022 é com a senadora de Mato Grosso do Sul Simone Tebet, filiada ao MDB. Seu nome ganhou força após sua atuação na CPI da COVID e tem sido a alternativa viável internamente com o desinteresse do ex-presidente Michel Temer. Segundo a parlamentar, há indícios muito fortes de crime de responsabilidade pelo governo federal no enfrentamento da pandemia.
Simone tem adotado um discurso ponderado ao falar sobre candidatura, mas crê na essencialidade da construção de um novo nome para administrar o país. Na sua visão, o fato de se dizer “terceiro nome” já indica a visão dos eleitores quanto à polarização de ideias. Simone aparece como alternativa junto com Ciro Gomes, Datena, Luiz Henrique Mandetta e Sérgio Moro, sendo já citada em pesquisas. “Ainda estamos no início do processo. As peças do xadrez eleitoral estão se movimentando lentamente. A hora é de muita conversa. Precisamos de mais tempo para vislumbrar melhor o cenário de 2022, principalmente depois de uma pandemia que mudou muitos paradigmas de antes. A política não pode fugir deste novo cenário”, avalia.
A senadora passou a se destacar nacionalmente na articulação à presidência do Senado. Em 2019, foi fundamental barrar a eleição de Renan Calheiros. E no último pleito, lançou o nome, sendo a primeira mulher a disputar a presidência de forma independente. Ela perdeu para Rodrigo Pacheco (DEM-MG), que contou com apoio de Bolsonaro. Ela se define como representante da mulher sul-mato-grossense. “Meu nome tem sido citado por algumas lideranças. Não há nada definido. Tenho dito que prefiro ser candidata à reeleição para o Senado, mas estou à disposição do meu partido. Poder representar a mulher sul-mato-grossense como senadora da República e demonstrar que o nosso Estado tem lideranças políticas sérias e competentes”, diz.
Nesta semana, o “Valor Econômico” informou que a postura firme da senadora Simone Tebet em defesa da democracia aumentou a popularidade entre seus seguidores nas redes sociais nos últimos dias. O que elevou a posição dela ao 12º lugar no ranking do FSBinfluênciaCongresso. Antes de ser a primeira mulher a presidir a Comissão de Constituição e Justiça do Senado Federal, Simone ocupou o cargo de deputada estadual e de prefeita de Três Lagoas. Ela carrega um sobrenome de peso da política nacional, filha de Ramez Tebet.
O Estado: O que a fez mudar e passar a articular na CPI da COVID o pedido de impeachment do presidente Jair Bolsonaro?
Simone: Não estou articulando o impeachment do presidente na CPI da Pandemia. São dois processos distintos. O relatório final da CPI pode conter elementos que fortaleçam argumentos para que o presidente da Câmara, Arthur Lira, acate um dos mais de 120 pedidos de impeachment até aqui apresentados. Ainda na Câmara, 2/3 dos deputados devem votar pelo envio da abertura do processo de impeachment ao Senado, onde ocorre o julgamento. Trata-se, portanto, de um processo longo e criterioso.
O Estado: A senhora acha que o relatório final da CPI vai trazer elementos suficientes que possam incriminá-lo?
Simone: Há indícios muito fortes de crime de responsabilidade de autoridades. Na primeira fase da CPI, já constatamos a defesa da imunidade de rebanho por meio da contaminação em massa, em detrimento da vacinação, a apologia ao uso de medicamentos comprovadamente ineficazes para o tratamento da COVID; o descaso com as medidas de biossegurança (uso de máscaras e de álcool gel); o estímulo a aglomerações e a falta de campanhas educativas. Isso tudo já configuraria crime contra a saúde pública.
Na segunda fase, estamos nos debruçando sobre documentos que indicam a existência de esquemas criminosos no Ministério da Saúde, entre atravessadores, servidores e militares, à busca de propinas na compra de vacinas e à custa da vida de milhares de brasileiros. A questão é: o presidente sabia? Prevaricou? Sabemos, no entanto, pela experiência passada, que o eventual processo de impeachment de um presidente da República depende, também, de outros aspectos, como a perda de popularidade e o mal desempenho da economia.
O Estado: A composição do governo com o “centrão” não joga uma pá de cal nas pretensões da oposição de desgastar Bolsonaro visando a 2022?
Simone: Ao contrário. Diante dos olhos da opinião pública, o presidente desconsiderou o discurso eleitoral, ao se juntar à velha política. Ele nega agora o que foi o fio condutor da sua campanha. De que não haveria o “toma lá, dá cá”, o compadrio e as barganhas políticas com o Congresso Nacional. É tudo o que o “centrão” faz, e é a esse modo nocivo de fazer política que o presidente se curvou. O desgaste vem por gravidade.
O Estado: Por que existe tanta dificuldade para a construção de um terceiro nome à Presidência?
Simone: Não há tanta dificuldade. O diálogo está aberto. Os brasileiros estão cansados dos extremismos e buscam um ponto de equilíbrio na política. O fato de se dizer “terceiro nome” já indica a visão dos eleitores quanto à polarização de ideias e a busca de um nome que apare as arestas extremadas. O que estamos vendo hoje é que há uma espécie de muro a separar os brasileiros em muitos campos, em especial na política, o que não combina com a harmonia na diversidade, que sempre foi a nossa melhor marca, e que não pode ser apagada.
O Estado: Para esta eleição, o debate na televisão pode voltar a ser importante na questão de avaliar as propostas para o país?
Simone: Os debates são sempre ótimas oportunidades para que os candidatos expliquem de maneira clara suas propostas de governo. Mas, com o advento da internet e das redes sociais, a TV não tem mais o mesmo protagonismo de antigamente. Por um lado, isso é positivo para democratizar o fluxo de informações e baratear as campanhas. Por outro, estamos sujeitos à disseminação de fake news.
O Estado: A senhora acredita que nomes como de João Doria, Ciro Gomes, Sérgio Moro e Datena vão se manter até 2022 e ser a frente para enfrentar Bolsonaro e Lula?
Simone: Ainda estamos no início do processo. As peças do xadrez eleitoral estão se movimentando lentamente. A hora é de muita conversa. Precisamos de mais tempo para vislumbrar melhor o cenário de 2022, principalmente depois de uma pandemia que mudou muitos paradigmas de antes. A política não pode fugir deste novo cenário.
O Estado: Na sua avaliação, quem fez o pior governo, Lula ou Bolsonaro?
Simone: Os dois tiveram pontos positivos e negativos, embora não se negue que os dois estejam marcados muito mais por aquilo que os diminui. Lula saiu manchado por denúncias de corrupção e o PT, de certa forma, produziu o bolsonarismo. Bolsonaro tem tido um desempenho lamentável na crise sanitária, pelo negacionismo e pela preocupação maior em produzir factoides e instigar a epidemia política em meio à pandemia sanitária.
O Estado: A senhora já conta com o apoio total do MDB nacional?
Simone: Meu nome tem sido citado por algumas lideranças. Não há nada definido. Tenho dito que prefiro ser candidata à reeleição para o Senado, mas estou à disposição do meu partido. Poder representar a mulher sul-mato-grossense como senadora da República e demonstrar que o nosso Estado tem lideranças políticas sérias e competentes me deixa muito orgulhosa.
O Estado: Sobre articulação em torno do seu nome à Presidência, quais lições podem ser tiradas para que sua candidatura cresça e não sofra o mesmo processo de desgaste em relação à disputa à presidência do Senado?
Simone: São coisas bem diferentes. Uma candidatura à Presidência da República envolve inúmeros fatores e muito diálogo. Como disse, ainda não há decisão a respeito do meu nome para o pleito.
O Estado: A sua candidatura contará aqui em MS com apoio do ex-governador André Puccinelli, pré-candidato ao governo? Vocês subirão juntos no mesmo palanque?
Simone: Certamente, dividiremos o palanque. Fui vice-governadora na gestão de André Puccinelli e aprendi muito. Sei o quanto a sua administração foi positiva para Campo Grande, como prefeito, e para Mato Grosso do Sul, na qualidade de governador. Acesse também: Ministério da Saúde adiantará 2ª dose da Pfizer em setembro
(Texto: Alberto Gonçalves com Andrea Cruz)