RICARDO DELLA COLETTA E MARIANNA HOLANDA
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Depois de dizer que não participaria da posse de Gabiel Boric, o presidente Jair Bolsonaro (PL) escalou seu vice, Hamilton Mourão (PRTB), para representar o governo nas cerimônias de início de mandato do líder de esquerda no Chile. Os atos estão programados para 11 de março, em Santiago.
Em 12 de janeiro, Bolsonaro havia adiantado que não compareceria à posse do chileno, que derrotou nas eleições um candidato de ultradireita que tinha apoio do bolsonarismo, José Antonio Kast.
“Não vou entrar em detalhes, porque não sou de criar problemas nas relações internacionais. O Brasil vai muito bem com o mundo todo. Você vê quem vai à posse do novo presidente do Chile [Boric]. Eu não irei, vê quem vai”, disse o presidente na ocasião.
Com a decisão, o brasileiro mantém um comportamento que adotou no passado, de se ausentar de cerimônias inaugurais de líderes de esquerda na América Latina.
Em duas ocasiões, aliás, na Bolívia e em Honduras, o governo Bolsonaro nem sequer enviou representante para as posses de Luis Arce e Xiomara Castro, respectivamente. Na linguagem diplomática, esse é considerado um gesto para marcar distanciamento político.
No caso do presidente boliviano, a decisão de reduzir a representação brasileira ao embaixador em La Paz ocorreu ainda na gestão do ex-ministro Ernesto Araújo, que promovia uma guinada ideológica no Itamaraty.
Já o recado à nova administração de Xiomara se deu depois de a hondurenha ter convidado os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, ambos do PT, para as solenidades. Dos dois, apenas Dilma viajou a Tegucigalpa.
A avaliação no Itamaraty, agora comandado por Carlos França, é que não é possível dar tratamento semelhante ao Chile, uma das principais economias da América do Sul e que mantém um fluxo de comércio bilionário com o Brasil. Em 2021, as exportações para Santiago somaram mais de US$ 7 bilhões. As importações, por sua vez, chegaram a US$ 4,4 bilhões.
Ainda em seu primeiro ano de mandato, Bolsonaro faltou à posse de Alberto Fernández na Argentina. O presidente chegou a ameaçar enviar apenas o então ministro da Cidadania, Osmar Terra, mas, pressionado, acabou escalando Mourão para viajar a Buenos Aires.
Em julho do ano passado, o vice-presidente também encabeçou a delegação que foi a Lima para as solenidades de início de mandato do líder de esquerda Pedro Castillo –que, diga-se, encontrou-se com Bolsonaro nesta quinta-feira (3) em Porto Velho.
Das posses de líderes direitistas, porém, Bolsonaro participou: em março de 2020, o mandatário foi a Montevidéu prestigiar Luis Lacalle Pou no Uruguai e, em maio do ano passado, a Quito, no Equador, na cerimônia inaugural de Guillermo Lasso.