O Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, participou num suposto esquema de desvio de dinheiro público quando era deputado federal, segundo mensagens atribuídas a sua ex-cunhada, de nome Andrea Siqueira Vale, divulgadas hoje pelo UOL.
Gravações em áudio reveladas pelo UOL apontam o suposto envolvimento de Bolsonaro num esquema ilegal que consistia na devolução de parte do salário de seus assessores em troca permanecerem nomeados no seu antigo gabinete na Câmara dos Deputados, ou seja, crime de peculato, prática conhecida popularmente pelo nome de ‘rachadinha’.
Andrea Siqueira Vale, irmã da segunda mulher do Presidente, Ana Cristina Vale, conta numa mensagem divulgada em áudio que seu irmão André Valle “dava muito problema” ao acordo familiar para o suposto desvio de dinheiro público, porque nunca “devolveu o dinheiro certo que tinha que ser devolvido” para Jair Bolsonaro.
“Tinha que devolver 6 mil, o André devolvia 2 mil , 3 mil. Foi um tempão assim até que o Jair [Bolsonaro] pegou e falou: Chega. Pode tirar ele porque ele nunca me devolve o dinheiro certo”, disse numa das mensagens de áudio atribuídas a Andrea Siqueira Valle.
André Valle foi assessor de Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados entre 2006 e 2007.
Em outra mensagem, Andrea Siqueira Valle afirmou que pode prejudicar a vida do atual chefe de Estado, de seu filho e senador Flávio Bolsonaro e da irmã Ana Cristina Valle.
A ex-cunhada do Presidente cita também o tio Hudson, que a reportagem diz ser Guilherme dos Santos Hudson, um coronel da reserva do Exército que foi colega de Jair Bolsonaro na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman).
“O Tio Hudson também já tirou o corpo fora porque quem pegava a bolada [dinheiro] era ele. Quem me levava e me buscava no banco era ele”, afirmou.
Andrea Siqueira Valle esteve nomeada como funcionária nos gabinetes da família Bolsonaro por 20 anos.
Neste período, segundo o UOL, era fisiculturista e frequentava academia três vezes por dia e era conhecida por fazer trabalhos temporários limpando casas.
A ex-cunhada de Bolsonaro esteve nomeada como assessora na Câmara dos Deputados de 30 de setembro de 1998 a 07 de novembro de 2006.
Em 2006, foi nomeada para a Câmara Municipal do Rio de Janeiro, no gabinete de Carlos Bolsonaro, filho do Presidente, onde permaneceu até setembro de 2008.
Depois disso foi nomeada no gabinete de Flávio Bolsonaro, onde permaneceu até agosto de 2018.
Flávio Bolsonaro é o filho mais velho do Presidente Jair Bolsonaro, investigado por peculato desde 2018 quando o antigo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) descobriu movimentações atípicas em contas bancárias de um ex-assessor seu na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) chamado Fabrício Queiroz.
Nas mensagens atribuídas a ele, a ex-cunhada do chefe de Estado diz que “ficava com mil e pouco reais e ele [Flávio Bolsonaro] ficava com sete mil reais, então assim, certo ou errado, agora já foi, não tem jeito de voltar atrás”.
O portal também divulgou uma suposta mensagem de Marcia Aguiar, mulher de Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro apontado por investigações da polícia como a pessoa responsável por recolher dinheiro devolvido pelos funcionários do gabinete do filho mais velho do Presidente na Alerj.
Segundo a mensagem atribuída a Márcia Aguiar, seu marido insiste em voltar a trabalhar na política, mas o “01, o Jair [Bolsonaro] não vai deixar. Tá entendendo? Não pelo Flávio [Bolsonaro], mas enfim. Ainda não caiu a ficha dele”.
Contactado pelo UOL, o advogado Frederick Wassef, que representa o Presidente Bolsonaro e já foi advogado de seu filho Flávio Bolsonaro negou ilegalidades e disse que existe uma antecipação da campanha presidencial de 2022.
Segundo Wassef, as mensagens “são narrativas de fatos inverídicos, inexistentes, jamais existiu qualquer esquema de ‘rachadinha’ no gabinete do deputado Jair Bolsonaro ou de qualquer de seus filhos”.