Em depoimento à Polícia Federal, o ex-ministro Gustavo Bebianno afirmou que o então candidato Jair Bolsonaro chancelou em 2018 um acordo para repassar 30% do fundo eleitoral do PSL (cerca de R$ 2,7 milhões) para o diretório do partido em Pernambuco.
O PSL pernambucano é chefiado politicamente pelo fundador da sigla e hoje presidente nacional da legenda, deputado Luciano Bivar, em atrito Bolsonaro, que agora cobra transparência ao partido.
Bivar é investigado sob suspeita de ter desviado parte desses recursos por meio de candidaturas femininas de fachada. O laranjal da legenda nas eleições do ano passado foi revelado pela Folha, esquema que Bolsonaro afirma desconhecer.
Já Bebianno presidiu nacionalmente o PSL em 2018, coordenou a campanha presidencial e foi ministro de Bolsonaro (Secretaria-Geral) por menos de dois meses, tendo sido demitido ao se desentender com o chefe e um de seus filhos, Carlos Bolsonaro, em meio à repercussão da revelação do escândalo.
Ele foi chamado a depor à PF pelo fato de a verba pública do PSL repassada às supostas candidatas laranjas de Pernambuco ter partido do diretório nacional, então presidido por ele.
Bebianno repetiu aos investigadores o que já vinha dizendo, em suma, que a decisão sobre as candidaturas nos estados coube exclusivamente aos diretórios regionais. Cabia à Executiva Nacional apenas formalizar o repasse.
Em fevereiro, ao ser procurado pela Folha para se manifestar sobre o assunto, Bivar jogou a responsabilidade em Bebianno. Depois, porém, em outras entrevistas, voltou atrás e corroborou a versão do ex-ministro.
Ao ser questionado sobre por que o diretório de Pernambuco foi beneficiado com as maiores cifras, Bebianno afirmou que no início de 2018 houve um acordo político entre Bolsonaro e Bivar para que o então pré-candidato ingressasse no PSL. À época, o presidenciável chegou a negociar com o Patriota, mas acabou fechando com o PSL de Bivar.
Pelo acordo, prosseguiu o ex-ministro, Bolsonaro ficou com o poder de definir o comando de todos os diretórios regionais do PSL (“O candidato queria ter esse controle para evitar que pessoas com perfil político mais à esquerda exercessem função de comando nesses diretórios regionais e que as pessoas indicadas fossem corretas no trato público”), além de cargos na Executiva Nacional e o comando interno da legenda durante o período eleitoral, cargo que foi ocupado por Bebianno. (Folha de S. Paulo)