Após operação no Rio, sete governadores criam “Consórcio da Paz” e Riedel defende integração nacional no combate ao crime organizado

Reunião aconteceu
após a operação do Rio de Janeiro que culminou com 120 mortes - Foto: Reprodução
Reunião aconteceu após a operação do Rio de Janeiro que culminou com 120 mortes - Foto: Reprodução

Governador de MS reforça que o tráfico e a lavagem de dinheiro nas fronteiras estão ligados à violência em grandes centros

A criação do “Consórcio da Paz”, anunciada nesta quinta-feira (30) por sete governadores após a megaoperação no Rio de Janeiro que deixou mais de 120 mortos, marca um novo capítulo na discussão sobre a segurança pública no país. O pacto propõe integração entre estados, compartilhamento de inteligência e apoio conjunto de efetivos e recursos para enfrentar o crime organizado de forma articulada em todo o território nacional.

Foto: Nilson Figueiredo

O governador de Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel (PSDB), participou do encontro ao lado dos governadores Cláudio Castro (RJ), Romeu Zema (MG), Jorginho Mello (SC), Ronaldo Caiado (GO), e da vice-governadora do Distrito Federal, Celina Leão (PP). O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), acompanhou a reunião por videoconferência. O encontro foi realizado no Palácio Guanabara, sede do governo fluminense.

“A gente tem que aumentar a integração, aumentar a inteligência, apertar o cerco e em paralelo com aquilo que a gente sempre prega. Não tem como você fazer isso e não ter educação, não ter inclusão, não ter oportunidade de emprego, renda para as pessoas. É um conjunto de ações de políticas públicas que vão levar a uma transformação”, destacou Eduardo Riedel durante evento na UEMS.

O Governador de Mato Grosso do Sul destacou que durante visita ao Rio de Janeiro conseguiu entender a dimensão da operação realizada pelas forças de segurança e cita que estas ações devem ser acompanhadas de investimentos em outras áreas.

“Esse episódio da segurança pública é muito triste e lamentável que a gente tenha chegado a esse ponto. 120 pessoas, 4 policiais, 115 pessoas que reagiram, formaram uma barricada. É um negócio que nos impressiona do ponto de vista de como o Estado está ausente de diversas comunidades. E o governador Cláudio Castro decidiu fazer essa retomada desses territórios. Agora não basta uma ação isolada, ela tem que vir junto com educação, com escola, com oportunidade para aquelas comunidades. E é um grande desafio”, pontua.

“Consórcio da Paz” e enfrentamento coordenado

Durante o evento, os chefes estaduais destacaram que o Consórcio da Paz será estruturado nos moldes de outros consórcios regionais, mas voltado exclusivamente à troca de informações de inteligência, ações conjuntas contra facções e compra compartilhada de equipamentos. O Rio de Janeiro será a sede inicial e ficará responsável pela formalização do grupo.

“Faremos um consórcio entre estados, no modelo de outros que já existem, para dividir experiências, soluções e ações de combate ao crime organizado”, afirmou Cláudio Castro, governador do Rio.
Apesar da afinidade política entre os participantes, o grupo informou que pretende incluir todos os 27 estados da Federação.

“Nós vamos perseguir o objetivo de integrar o país. Temos profissionais altamente qualificados e podemos, juntos, enfrentar essa onda de violência que atinge não só o Rio, mas o Brasil inteiro”, disse o catarinense Jorginho Mello.

Durante a reunião, os governadores também criticaram a PEC da Segurança Pública, proposta pelo governo federal, alegando que o texto poderia reduzir a autonomia dos estados sobre as forças policiais.
“Querem transferir nossa autonomia e transformar as diretrizes estaduais em regras gerais do Ministério da Justiça. Isso é uma intervenção direta nas polícias dos estados”, afirmou o governador de Goiás, Ronaldo Caiado.

Cime de fronteira e integração nacional

Nas redes sociais, Riedel afirmou que a reunião foi marcada por um tom de reflexão e urgência diante do avanço da criminalidade no país.

“Não há como não se sensibilizar com os últimos fatos. Hoje temos pedaços do território nacional onde o poder público não tem acesso. Em dois anos, foram movimentados R$ 32 bilhões por empresas de fachada ligadas a facções. No Mato Grosso do Sul, aprendemos 500 toneladas de drogas no último ano. O crime é interligado e só pode ser combatido com integração e inteligência”, declarou o governador.

Riedel enfatizou que o Mato Grosso do Sul tem papel estratégico no enfrentamento às facções criminosas e à lavagem de dinheiro, por sua posição geográfica de fronteira com Bolívia e Paraguai.

“Quem acha que o que acontece no Rio não tem reflexo no nosso estado está enganado. Temos atuação de membros do Comando Vermelho e do PCC em território sul-mato-grossense. O enfrentamento precisa ser conjunto”, disse.

Presídio Federal de Campo Grande deve receber chefes do Comando Vermelho

Paralelamente à criação do consórcio, o Ministério da Justiça confirmou a transferência de dez líderes do Comando Vermelho (CV) para presídios federais, incluindo o Presídio Federal de Campo Grande, onde já está detido Marcinho VP, um dos chefes da facção.

Entre os transferidos estão Marco Antônio Pereira Firmino (“My Thor”), Wagner Teixeira Carlos (“Waguinho de Cabo Frio”), Rian Maurício Tavares Mota (“Da Marinha”) e Alexander de Jesus Carlos (“Choque/Coroa”), que já esteve preso em Mato Grosso do Sul, envolvido em um plano de fuga de Fernandinho Beira-Mar, também recluso na Capital.

A transferência ocorre após a Operação Contenção, considerada a mais letal da história do Rio, que resultou em 121 mortes e na apreensão de 93 fuzis, segundo a Defensoria Pública.

Governo federal anuncia novas medidas

Enquanto os estados articulam o consórcio, o governo federal anunciou duas frentes de ação: a criação de um escritório emergencial de combate ao crime organizado no Rio de Janeiro e a sanção da Lei nº 15.245/2025, que endurece as penas e tipifica novos crimes ligados a organizações criminosas.

A nova legislação, sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, aumenta a pena para quem contrata integrantes de facções e prevê prisão obrigatória em presídios federais de segurança máxima para investigados acusados de obstruir ações contra o crime organizado.

Segundo o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, o governo federal também vai reforçar o efetivo da Polícia Rodoviária Federal e das equipes de inteligência no Rio.

“O objetivo é melhorar a integração entre as esferas federal e estadual e fortalecer o enfrentamento às facções”, disse Lewandowski.

Reflexões e próximos passos

A megaoperação no Rio e a escalada de violência nas comunidades colocaram o tema da segurança pública no centro do debate nacional. Governadores e especialistas reconhecem que a força policial, por si só, não resolve o problema, mas que a integração entre os estados, a inteligência e o combate financeiro ao crime são passos essenciais.

“Não é tarefa fácil. É uma guerra nacional, e só com cooperação e foco em resultados vamos vencer batalhas nos estados e no país inteiro”, concluiu Riedel.

Por Suelen Morales

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