Foragida, gerente da facção foi “acertar contas” após operação, aponta Gaeco paulista
Conhecida como um dos principais nomes do PCC (Primeiro Comando da Capital) em Mato Grosso do Sul, uma mulher de 39 anos, chamada de “Mãe Loira” pela facção, foi presa durante o fim de semana pela Polícia Militar de São Paulo, durante averiguação de denúncia sobre a realização de um tribunal do crime em Guarujá, litoral sul paulista. A suspeita é que ela estava na cidade a mando da cúpula da facção, acertando contas após operação que identificou a nova liderança máxima da quadrilha.
Durante a ação, ela mostrou documentos falsos para os PMs. Mas após o encontro de grandes cargas de maconha e cocaína já embaladas para venda, além de um revólver calibre 32 carregado, contou a verdade, inclusive revelando sua função dentro do PCC: cadastrar novos membros em MS.
As autoridades sul-mato-grossenses sabem de “Mãe Loira” e sua posição na facção criminosa. Foragida desde o fim de 2019, quando ganhou o direito de responder em liberdade a acusação por tráfico de drogas, a acusada foi condenada depois à revelia pelo roubo de uma SUV de luxo em Campo Grande. O crime ocorreu em fevereiro do ano anterior e ela foi capturada na BR-463, próxima de Ponta Porã, na fronteira.
A posição de destaque de “Mãe Loira” no crime veio à tona quando seu nome apareceu na Operação Yin Yang do Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado) local, como sendo a responsável por dividir lucros de crimes cometidos pelos faccionados e recebimento da mensalidade dos quase 6 mil detentos filiados à quadrilha no Estado, o que corresponde a 40% da população carcerária.
Para o Gaeco de SP, a prisão de “Mãe Loira” no litoral paulista afasta de vez qualquer dúvida que ainda restava sobre a ascensão de integrantes do PCC em MS à liderança da quadrilha após o isolamento de grande parte da cúpula em presídios federais, incluindo Marcos Willians Herbas Camacho, o “’Marcola”, até então o principal nome do bando.
Conforme O Estado revelou, acusados locais já vinham tomando decisões de relevância sobre transporte de drogas e armas da fronteira para as regiões Sudeste e Nordeste do país, além de definir alianças e estratégias. Na última segunda-feira (14), o Ministério Público paulista, no que considerou a maior operação contra a facção já feita, identificou 21 nomes que estariam ocupando os principais postos do PCC atualmente. Marcos Roberto de Almeida, o “Tuta”, sucessor operacional de “Marcola” inclusive estaria escondido na faixa de fronteira de MS com o Paraguai. Outros oito desse grupo revelado continuam foragidos.
A reportagem apurou junto ao MP paulista que a suspeita é de que “Mãe Loira” estivesse no litoral paulista para “acertar contas” principalmente pela morte de Cláudio José Pinheiro de Freitas, 36 anos, responsável pelo PCC na região e que reagiu à abordagem feita pela PM em sua casa na cidade de Praia Grande (SP). Freitas já atuou na região da fronteira, tanto que foram localizados diversos números em seu celular com o DDD de Mato Grosso do Sul, além de notas de guarani, moeda do Paraguai.
O Gaeco paulista acredita que “Mãe Loira” conheceu “Tuta” durante suas duas passagens por Mato Grosso do Sul, entre 2017 e 2019, quando se utilizou do passaporte moçambicano diplomático falso que possui para a entrada, alegando estar em turismo para conhecer o Pantanal. O objetivo, na verdade, foi o de fazer reuniões com a cúpula responsável pela fronteira.
(Texto: Rafael Ribeiro)