Em 2025, apreensões de drogas triplicam em Mato Grosso do Sul, confirma a Denar

Foto: Nilson Figueiredo
Foto: Nilson Figueiredo

Duas operações contra o tráfico foram deflagradas na Capital nesta quinta-feira

As apreensões de drogas em Mato Grosso do Sul praticamente triplicaram em comparação ao mesmo período do ano passado, conforme balanço da Denar (Delegacia Especializada de Repressão ao Narcotráfico). Somente nos últimos quatro meses, foram incineradas mais de 35 toneladas de maconha e 4,3 toneladas de cocaína no Estado.

De acordo com o delegado titular da Denar, Hoffman D’Ávila, a maconha segue liderando o ranking das apreensões.“Houve um aumento relevante e significativo nas apreensões de entorpecentes. A maconha continua sendo a droga mais apreendida no Estado, com números que realmente chamam a atenção”, destacou.

O delegado explicou que a posição geográfica de Mato Grosso do Sul o torna um alvo constante do tráfico internacional e nacional. “O Estado possui uma posição topográfica delicada e vulnerável, com extensa faixa de fronteira seca com o Paraguai e a Bolívia, além de fazer divisa com Goiás, Mato Grosso, Paraná, São Paulo e Minas Gerais. Essa condição torna nosso território visado por organizações criminosas, mas também fortalece a importância da integração das forças policiais de MS com outras unidades da federação”, disse D’Ávila.

Ele ressaltou ainda a importância da Renar (Rede Nacional de Enfrentamento ao Narcotráfico), coordenada pelo Ministério da Justiça. “Esse ambiente de troca fortalece as investigações e nos permite combater o crime organizado de forma mais exitosa e cirúrgica”, completou.

Operação Janus

Nesse contexto, a Polícia Civil deflagrou nesta semana a Operação Janus, no âmbito da Operação Protetor. Foram cumpridos oito mandados de prisão temporária e 14 de busca e apreensão em Campo Grande, Dourados, Miranda e Corumbá, contra integrantes de uma organização criminosa voltada ao tráfico de drogas.

Segundo o delegado, a quadrilha atuava de forma estruturada. “Trata-se de uma organização criminosa estável, com divisão de tarefas. A droga chegava a Campo Grande, vinda da fronteira, e também abastecia o interior do Estado, em municípios como Dourados, Corumbá e Miranda”, explicou.

Durante a operação, houve quatro prisões em flagrante e três TCOs (Termos Circunstanciados de Ocorrência), entre eles o de um advogado investigado por ligação com o grupo e um está foragido. Foram apreendidos veículos, aparelhos celulares, notebooks e documentos que devem reforçar a investigação. A investigação segue em andamento e deve avançar também na apuração de lavagem de dinheiro.

Em Campo Grande, uma mulher foi presa em flagrante, proprietária do Fumaça Fina, bar que já era investigado pela DENAR. Em sua residência e no comércio, foram apreendidos maconha e skunk, configurando tráfico de drogas. Em Dourados e Miranda, foram cumpridos mandados de busca na residência e escritório de um profissional da advocacia. Na casa do advogado, foram encontrados 40 gramas de maconha e um vidro de óleo de THC, que ele alegou ser para consumo pessoal.

O delegado explicou que, embora a quantidade seja compatível com uso próprio, a autoridade policial deve avaliar todo o contexto. “Mesmo que a pessoa tenha quantidade considerada para consumo pessoal, a presunção não é absoluta. O indivíduo pode ser conduzido para análise objetiva do caso”.

O titular da Denar frisou que todo o procedimento foi acompanhado por representantes da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e conduzido dentro da legalidade. “Cumprimos todas as ações sob o manto da transparência. O advogado investigado foi acompanhado por dois representantes da Ordem em todos os momentos, foi conduzido sem algemas e liberado após a lavratura do TCO, por porte para consumo pessoal”, disse.

Operação Corrosão bloqueia R$ 21 milhões

Além disso, o Estado também foi alvo de outra operação desenvolvida pela PPF (Polícia Penal Federal), nesta quinta-feira (25), deflagrada pela FICCO/GO (Força Integrada de Combate ao Crime Organizado em Goiás), que teve como objetivo combater o tráfico interestadual de drogas, a lavagem de dinheiro, a atuação de organizações criminosas e crimes correlatos.
Ao todo, foram cumpridos 64 mandados de busca e apreensão e 55 mandados de prisão (39 preventivas e 16 temporárias). A Justiça também determinou o bloqueio de R$ 21 milhões em bens e contas bancárias vinculadas à organização criminosa.

A ação mobilizou policiais penais federais, tanto da área operacional quanto de áreas técnicas e de inteligência da SENAPPEN (Secretaria Nacional de Políticas Penais), reforçando a atuação integrada do órgão com as demais forças de segurança pública.

As investigações identificaram dezenas de novos integrantes da facção criminosa. O trabalho revelou uma estrutura complexa e hierarquizada, com funções claramente definidas: desde a liderança central e responsáveis pela contabilidade e movimentação de fundos ilícitos até encarregados pela disciplina interna, distribuidores, fornecedores e intermediários financeiros. Esse mapeamento representa um passo decisivo para o desmantelamento completo da organização.

A FICCO/GO é composta por integrantes da Polícia Penal Federal, Polícia Federal, Polícia Civil, Polícia Militar, Polícia Penal do Estado de Goiás e SENAPPEN, atuando de forma integrada no combate às organizações criminosas no estado.

Força Integrada

A Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (FICCO) é uma iniciativa de integração entre diferentes órgãos de segurança pública e instituições de justiça, com o objetivo de combater de forma articulada e eficiente as organizações criminosas que atuam no Brasil. A SENAPPEN tem contribuído com a FICCO por meio da atuação de policiais penais federais, que trazem conhecimento especializado no monitoramento e combate ao crime organizado dentro e fora dos presídios.
Atualmente, a SENAPPEN integra a FICCO em 17 unidades federativas, sendo elas: Minas Gerais, Ceará, Goiás, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Paraíba, Piauí, Paraná, Rondônia, Sergipe, São Paulo, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Espírito Santo, Bahia, Santa Catarina e Distrito Federal. Essa cooperação reforça a importância da integração entre segurança pública e inteligência penitenciária na luta contra o crime organizado.

Desdobramento Carbono Neutro

O Ministério Público de São Paulo, a Receita Federal e a Polícia Militar realizam na manhã desta quinta-feira (25) uma operação para cumprir 25 mandados de busca e apreensão contra o envolvimento do PCC no ramo de combustíveis e de jogos de azar.

A ação é um desdobramento da Operação Carbono Oculto, realizada no dia 28 de agosto, contra suspeitos de usar postos de combustíveis, empreendimentos imobiliários, motéis e lojas de franquia para lavagem de dinheiro e ocultação de patrimônio e que também teve alvos em Mato Grosso do Sul.

As novas buscas, solicitadas à Justiça pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), ocorrem em endereços ligados ao empresário Flávio Silvério Siqueira e à empresa BK Bank.

Elas ocorrem em endereços de São Paulo, Santo André, Barueri, Campos do Jordão, Osasco, Santos e Bertioga. Participam da operação 64 servidores da Receita Federal e 28 do Ministério Público, além de representantes da Secretaria da Fazenda e Planejamento do Estado de São Paulo e cerca de 100 policiais militares.

Segundo o Gaeco, a partir da apreensão de máquinas de cartão de crédito em casas de jogos de azar localizadas em Santos, no litoral de São Paulo, foram realizadas apurações que levaram à identificação de Silvério como responsável por lavagem de dinheiro, assim como o uso do BK Bank para essa finalidade.

As irregularidades envolveriam também outras pessoas físicas e jurídicas, alvos da operação desta quinta.

Os investigadores apontam que parte do lucro da organização criminosa é proveniente de crimes de adulteração de combustíveis, com postos vinculados a Silvério.

A defesa dos suspeitos não foi localizada até a publicação deste texto.

Segundo a Receita Federal, recursos de origem ilícita eram inseridos no setor formal por meio de empresas operacionais. Esse movimento acontecia por maquininhas via fintechs, e posteriormente os recursos lavados eram reinvestidos em negócios, imóveis e outros ativos, por meio de Sociedades em Conta de Participação (SCP).

A Receita Federal identificou ao menos 267 postos ainda ativos, que movimentaram mais de R$ 4,5 bilhões entre 2020 e 2024, mas recolheram apenas R$ 4,5 milhões em tributos federais – o equivalente a 0,1% do total movimentado.

Também foram identificadas administradoras de postos que movimentaram R$ 540 milhões no mesmo período.

Durante as fiscalizações, foram identificados 21 CNPJs ligados a 98 estabelecimentos relacionados a uma mesma franquia, todos em nome de alvos da operação, e com indícios de lavagem de dinheiro.

Entre 2020 e 2024, elas movimentaram cerca de R$ 1 bilhão, mas emitiram apenas R$ 550 milhões em notas fiscais. No mesmo período, recolheram R$ 25 milhões em tributos federais (2,5% da sua movimentação financeira no mesmo período) e distribuíram R$ 88 milhões em lucros e dividendos.

Mais de 60 motéis também foram identificados, a maioria em nome de “laranjas”, com movimentação de R$ 450 milhões entre 2020 e 2024, segundo a Receita.

Restaurantes localizados nos motéis, com CNPJs próprios, também integravam o esquema —um deles distribuiu R$ 1,7 milhão em lucros após registrar receita de R$ 6,8 milhões entre 2022 e 2023.

Segundo a Receita, com os recursos obtidos por meio do esquema, os investigados adquiriram imóveis e bens de alto valor, entre eles um iate, helicópteros, um Lamborghini Urus e terrenos onde estão localizados diversos motéis, avaliados em mais de R$ 20 milhões.

As máquinas de cartão foram apreendidos em duas casas de apostas ilegais em Santos, no litoral paulista uma na rua da Paz, no bairro Boqueirão, e outra na Euclides da Cunha, no Gonzaga. Nos dois casos, os equipamentos estavam registrados em nome de postos de gasolina, e não dos proprietários, o que levantou a suspeita dos investigadores.
A investigação mostrou que, também nos dois casos, o dinheiro movimentado nas máquinas de cartão era enviado para o BK Bank mesma fintech que foi apontada, na Carbono Oculto, como destino do dinheiro do PCC.

Um e-mail vinculado a um dos postos de gasolina, que teve o sigilo quebrado trouxe indícios de que empresas de Flavio Siqueira lucravam com combustível adulterado, além da exploração ilegal de jogos de azar, segundo documentos apresentados à Justiça.

Os dados encontrados ali apontaram também para nove empresas do setor hoteleiro e ao menos três do setor financeiro que participariam do esquema de lavagem de dinheiro. Elas estão em nome de laranjas e operam em nome de Siqueira, segundo os promotores.

Os postos de gasolina também já foram alvos, no passado, de autuações da Agência Nacional do Petróleo por adulteração de combustíveis. Em apenas um desses postos de gasolina, por exemplo: o Posto de Serviços DJF, teria movimentado mais de R$ 1,5 milhão, além da venda de combustível adulterado, segundo documentos da investigação.

Por Inez Nazira e Michelly Perez

 

Confira as redes sociais do Estado Online no Facebook Instagram

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *