Vacina contra o bacilo Calmette-Guérin (BCG), que protege da tuberculose, será alvo de estudo no Brasil a partir do próximo mês como uma estratégia de prevenção contra a covid-19.
Assim como as pesquisas realizadas nos Estados Unidos, Austrália e Holanda , os testes serão feitos com profissionais que atuam na linha de frente no combate à doença. A proposta é avaliar os efeitos da vacina em 10 mil voluntários, dos quais 3 mil serão brasileiros. Os demais serão da Austrália, do Reino Unido, da Espanha e da Holanda.
Segundo o infectologista Julio Croda, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) que vai atuar no projeto, a proposta é identificar se a vacina protege ou não contra o novo vírus, evitando a evolução para formas graves da doença. “Ela (BCG) tem dois diferenciais importantes. É uma vacina que já foi usada muitas vezes, são 120 milhões de crianças que tomam anualmente e os efeitos adversos são raros, e não tem limite de idade superior”, diz ele, que também é professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) e da Escola de Saúde Pública de Yale (EUA). “Muitos estudos com vacinas estão sendo feitos com pessoas entre 18 e 50 anos. Isso é importante para os idosos.”
O estudo será realizado pela Fiocruz em parceria com o Murdoch Children’s Research Institute, da Austrália, com financiamento da Fundação Bill e Melinda Gates. No Brasil, 2 mil voluntários serão recrutados em Mato Grosso do Sul e os outros 1 mil serão do Rio. De acordo com Croda, os voluntários serão acompanhados durante um ano e pessoas que já foram infectadas ou que já tiveram sintomas do vírus não poderão participar.
“Seguimos os modelos de outros estudos e os profissionais de saúde são as pessoas com maior fator de risco para aquisição do vírus. Eles serão acompanhados semanalmente. Este vai ser o maior ensaio clínico de fase 3 usando a BCG”, diz Croda, que até o primeiro semestre integrava a equipe do Ministério da Saúde, na gestão de Luiz Henrique Mandetta. Segundo o pesquisador, dois estudos recentes foram referência para essa pesquisa. “Um estudo realizado na África mostrou que a vacina protege contra infecções e óbitos em curto prazo, no primeiro ano de vida. E outro, que saiu na (revista científica) Cell, mostrando que ela protege infecções virais em idosos. Este foi feito do ano passado até este ano, ainda quando não tinha a circulação do vírus, mas é um estudo importante.”
Segundo Croda, se comprovado o benefício da BCG para o novo coronavírus, a vacina pode se tornar uma opção enquanto o imunizante específico para evitar a doença não é lançado. “Muito provavelmente a BCG não será utilizada no futuro, mas pode ser uma uma alternativa enquanto não tiver nenhuma vacina para a covid-19 ou se não tiver o quantitativo para vacinar bilhões de pessoas. Nesta situação, a BCG poderia ser usada na estratégia.”
Estudo apontou que Brasil teria mais mortes sem obrigatoriedade da vacina
Um estudo da Universidade de Michigan (EUA) apontou que o número de mortes por covid-19 registradas no Brasil poderia ser 14 vezes maior se a BCG não fosse obrigatória no País. O achado foi publicado na revista científica Science. Pesquisas sugerem que a vacina tem efeitos benéficos na imunidade contra infecções pulmonares, o que a tornaria uma candidata importante na prevenção da covid-19.
A Austrália e a Holanda também iniciaram estudos com a vacina com profissionais da saúde para verificar se ela tem eficácia para proteger os indivíduos do novo coronavírus.
Entre os países que adotaram políticas universais de vacinação obrigatória para combater a tuberculose, estão, além do Brasil: China, Irlanda, Finlândia e França. Alguns outros países encerraram as políticas porque a tuberculose deixou de ser uma ameaça, entre eles, Austrália, Espanha, Equador. Outros países nunca exigiram a vacinação contra BCG, são eles EUA, Itália e Líbano. A imunização, nos países onde ela foi adotada, é normalmente administrada no nascimento ou durante a infância para a prevenção contra a tuberculose.
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(Texto: com informações do IstoÉ)