Oito meses após a confirmação do primeiro caso de coronavírus no Estado, e mais de 90 mil confirmados, não há como não comparar o momento atual com a pandemia do século passado que fez 50 milhões de vítimas. No entanto, a COVID-19 tem outras semelhanças com a Gripe Espanhola, e uma delas mostra que o melhor remédio ainda é o isolamento social.
Para uma pesquisa, a docente da UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul), Manuela Areias Costa, realizou um levantamento de estudos sobre a gripe espanhola no Mato Grosso do Sul, quando ainda era Mato Grosso. com a intenção de refletir sobre o contexto e recuperar a memória da gripe no estado. No entanto, a professora ao aprofundar o estudo se surpreendeu com a similaridade dos discursos do passado, no contexto da gripe espanhola, e do presente, frente à pandemia da COVID-19, apesar dos 100 anos que as separam.
“A negligência das autoridades, que tratavam as doenças como ‘gripezinhas’, o grande número de mortes e, até mesmo o uso de medicamentos sem comprovação científica, são apenas algumas das semelhanças”, comentou a educadora.
Manuela levantou dados em documentos e notícias publicadas na época. Os números encontrados foram de cerca de 27 mil pessoas infectadas pela gripe espanhola, num intervalo de três meses. A epidemia atingiu 19 municípios, levando cerca de 700 pessoas a morte. Uma das cidades que chamou a atenção pelo número de casos da gripe foi Corumbá, onde ocorreu o maior número de mortes: 160 morreram em três meses.
Outro ponto que a professora Manuela encontrou semelhanças entre os dois cenários foi quanto ao tratamento das doenças. Enquanto na COVID-19 muito se falou do tratamento à base de cloroquina, na pandemia da Gripe Espanhola a indicação era uso de remédios com soluções de quinino.
Ao ser questionada sobre o ponto mais importante nessa comparação entre a Gripe Espanhola e a COVID-19, a docente ressalta que é a questão das estratégias e o não adoção de protocolos indicados pela OMS (Organização Mundial de Saúde).
“A gravidade da COVID-19 demonstra a necessidade de as instituições de promoção da justiça e cidadania pressionarem e cobrarem do poder público ações efetivas de combate à pandemia. […] A influenza espanhola oferece lições e experiências que poderiam ser aproveitadas em níveis local e nacional no combate ao coronavírus”, apontou.
Para ela, apesar dos 100 anos que as separam, novamente presenciamos uma onda de medo e pânico entre as populações, e os antigos problemas de desigualdades sociais e de saúde pública tornaram-se mais evidentes.
No Brasil atualmente temos 5.983.089 contaminados e 168.141 mortos pela COVID, desses, em Mato Grosso do Sul, são 90.765 positivos e 1.713 mortos. Apesar de já existirem vacinas em testes, ainda é necessário a comprovação de sua eficácia e, na visão da docente, o isolamento ainda é o melhor remédio.
(Texto: Dayane Medina)