O Brasil teve tempo para se preparar, mas a politização prejudicou o combate ao coronavírus, afirmou o infectologista e pesquisador da Fiocruz (Fundação Oswaldo cruz) Júlio Croda.
Em entrevistas ao jornal “O Globo”, o especialista disse que o país teve quatro meses desde os primeiros casos na China para preparar uma estratégia de combate ao vírus, mas perdeu tempo com “questões menores e sem base científica”, como a discussão se a cloroquina funciona ou não.
“Cloroquina não vai resolver o problema. O que vai deter o coronavírus é isolamento social, testagem em massa e ter leitos de UTI suficientes para todos. A população não está discutindo se terá leitos caso adoeça, se haverá testes. Não, ela está falando de cloroquina, uma droga para a qual ainda faltam provas de segurança e eficiência. Desviar o foco do que funciona, o isolamento, os testes e as UTIs, é condenar nossa população ao sofrimento”, declarou.
Croda deixou o cargo de diretor do Departamento de Imunização e Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde no final de março, em meio à pandemia, por divergências internas.
Ao jornal, o infectologista afirmou que sua saída do ministério foi motivada pela disputa interna entre a ala técnica —liderada pelo ministro Luiz Henrique Mandetta, e ideológica, seguida pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido)— e que não embarcaria em “concessões políticas”.
“Eu sou um cientista, um técnico, tenho uma carreira científica a zelar. Saí quando vislumbrei que o caminho de combate da covid-19 seria prejudicado pela Presidência. Considerei que o Brasil será prejudicado sem uma resposta unificada, tomada sem pensar em política, em eleição. Saí no momento oportuno. É preciso despolitizar a luta contra o coronavírus e pensar de forma técnica”, disse.
(Texto: Uol)