É no topo da serra de Maracaju que o apicultor Pedro Paulo Pires nos mostra que é possível produzir com sustentabilidade. Quando adquiriu a propriedade localizada em Campo Grande, há seis anos, não sabia a potência que se escondia nas nascentes ainda subaproveitadas. “Eu me apaixonei pela altura, pelo solo. Aqui a região é muito fértil e tem sempre um vento gostoso”, lembra.
E foi no solo fértil que ele viu a água brotar de duas nascentes. No início, elas ainda eram pequenas, mas a paixão do produtor pelo campo fez delas uma missão. Cheio de orgulho, Pedro nos convida para uma prosa no pé da cachoeira oriunda de uma delas.
“Quando eu vi a nascente pouco preservada, eu tomei a decisão de cuidá-la. Então, com ajuda de parceiros, plantamos mais de duzentas mudas na região. Depois eu cerquei a área da nascente, protegi e hoje temos uma mata crescendo e a água mais volumosa”, explica.
A técnica de campo Lívia Lopes Duarte, responsável pela Assistência Técnica e Gerencial do apiário do produtor rural, identificou e mapeou as duas nascentes preservadas, logo no primeiro encontro, em novembro do ano passado. Uma delas ressoa sob uma árvore frondosa.
Para fazer a identificação, Lívia participou de uma capacitação por meio do Programa Proteção de Nascentes, criado em 2015 pela CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) e o Senar, que tem o objetivo de orientar e recomendar boas práticas aos produtores rurais.
O Programa consiste em cinco passos que garantem eficiência na preservação. Tudo é feito em um dia. O primeiro é identificar a característica da nascente. Se é fundo de vale, encosta ou contato, por exemplo. Em seguida, cercar a área para que não haja interferência e danos em humanos ou animais. Depois, a limpeza. O quarto passo é controlar a erosão.
“Solos com erosão normalmente são muito compactados e impedem a infiltração da água e são prejudiciais para as áreas ao redor, dificultando o florestamento. Além de proteger a nascente e controlar a erosão, melhora a fertilidade do solo. A prática promove a recarga do aquífero, fazendo com que a água seja sempre filtrada, infiltrada e que a vegetação ao redor seja estabelecida”, explica a analista de Assistência Técnica e Gerencial, Janaina Menegazzo Gheller. O quinto e último passo é replantar espécies nativas.
A nascente da propriedade de Paulo é uma das 1.373 identificadas por técnicos de campo do Senar/MS em 391 propriedades rurais, em 51 municípios do estado, nos últimos quatro anos. Trabalho que vem sendo realizado intensamente em todas as cadeias produtivas atendidas pelo Sistema Famasul. Só no ano passado, foram 834 nascentes encontradas. Até o final de 2023, a meta é chegar a 2 mil.
Com o acompanhamento e orientações do Senar/MS, o produtor rural destaca a evolução nos últimos anos. “As cachoeiras que são formadas após a nascente trazem a água limpa. A vegetação cresceu, o homem parou de destruir e está cada dia com mais água e mais fresco”.
O presidente do Sistema Famasul, Marcelo Bertoni, ressalta que a água é o bem mais precioso para o produtor rural, independentemente da cadeia produtiva. “Para o grão desenvolver, o gado beber, as florestas crescerem, tudo precisa de água. Se não houver preservação, nada disso se mantém. E é isso que buscamos no Sistema Famasul: produzir com sustentabilidade e em sintonia com o meio ambiente”, afirma Bertoni.
A água é um recurso natural imprescindível à vida, sendo fundamental para atender as necessidades do campo, da cidade e da rica biodiversidade do país. Sem meio ambiente e os recursos hídricos, não há alimentos, fibras ou bioenergia. E para Pedro, é muito além disso. Com a voz embargada, ele nos explica.
“A água não dá só a vida para a natureza, ela é a alma da terra. As nascentes saem do fundo do solo. Eu passo horas olhando… a paixão cresce tanto que é impossível fazer algo que não seja, no mínimo, cuidar dessa água; cuidar do que é nosso bem maior”, finaliza.