Indústrias de celulose reforçam o combate aos incêndios florestais com uso de tecnologia em MS

Foto: MS Florestal
Foto: MS Florestal

Área plantada de eucalipto pode superar os 2,6 milhões de hectares até 2030

Quando o assunto é eucalipto e celulose, Mato Grosso do Sul é a “bola da vez”. Segundo dados do Observatório da Indústria, do Sistema Fiems (Federação das Indústrias do Estado de Mato Grosso do Sul), o Estado é líder na produção e exportação de celulose no Brasil, com capacidade atual de cerca de 7,5 milhões de toneladas por ano, o que representa aproximadamente 28% da produção nacional. Com os novos investimentos confirmados — uma fábrica em Inocência e outra em Bataguassu —, a capacidade deverá superar os 12 milhões de toneladas/ano. Para atender à demanda, a área plantada de eucalipto em Mato Grosso do Sul também deve aumentar, podendo ultrapassar os 2,6 milhões de hectares até o fim da década. E não há como falar em floresta, seja ela nativa ou plantada, sem mencionar os riscos de incêndios.

O combate ao fogo em MS tem sido quase que presente nos doze meses do ano, em decorrência às mudanças climáticas. No ano passado, o Brasil enfrentou a maior seca da história recente do país, afetando grande parte do território e causando impactos significativos em diversas áreas, incluindo Mato Grosso do Sul com as queimadas. A seca foi tão severa que a situação foi considerada a pior desde o início da série histórica em 1950.

E como as previsões apontavam que 2025 não seria diferente em relação às queimadas, as indústrias de celulose no Estado reforçaram o combate aos incêndios florestais. Além de equipes de brigadas, treinadas e capacitadas, a tecnologia tem sido uma forte aliada. Entre as inovações na cultura do eucalipto, a MS Florestal, de forma pioneira, traz o uso de drones com sensores térmicos, que identificam focos de calor e garantem uma resposta mais rápida e eficaz.

Foto: MS Florestal

A aquisição do equipamento aconteceu em 2024, quando 2 milhões de hectares foram destruídos pelo fogo em Mato Grosso do Sul. Os focos de calor saltaram de 4.592 para 11.993 em apenas um ano. Segundo o gerente de Prevenção e Combate a Incêndio da MS Florestal, Alex Mário Oliveira, o drone virou o “olho da empresa no alto”. “Ele enxerga o que a gente não vê do chão e nos dá vantagem no tempo de resposta. Cada minuto faz diferença quando o fogo começa”, afirma.

A área exclusiva da MS Florestal para Prevenção e Combate a Incêndios Florestais conta com mais de 70 colaboradores. As equipes são treinadas e capacitadas para realizar o trabalho de prevenção e combate aos incêndios florestais, e ainda para auxiliar e orientar as comunidades que moram no entorno das florestas quanto aos riscos e malefícios causados pelo fogo.

A Suzano, com fábrica em Três Lagoas e Ribas do Rio Pardo, praticamente dobrou a rede de monitoramento contra incêndios florestais, em Mato Grosso do Sul. Com novos investimentos, a empresa ampliou de 30 para 56 o número de torres de monitoramento por vídeo em suas áreas florestais, justamente, para reforçar as ações de prevenção e combate a incêndios, tanto nas áreas plantadas com eucalipto quanto nas áreas de proteção ambiental e nas unidades de conservação localizadas no entorno das operações da empresa.

“Nosso trabalho vai além da proteção dos ativos florestais da empresa. Combater incêndios é uma forma direta de preservar matas nativas, proteger a fauna local e garantir a segurança das comunidades vizinhas. Para isso, mantemos o ano todo uma estrutura robusta de prevenção, monitoramento e combate a focos de incêndio, integrada ao esforço da companhia pela conservação da biodiversidade. Esse trabalho se intensifica neste período, quando o risco de propagação aumenta devido às condições climáticas”, destaca Amarildo José Nunes, gerente de Inteligência Patrimonial da Suzano em Mato Grosso do Sul.

As torres de monitoramento contam com 54 metros a 72 metros de altura e são equipadas com câmeras 360º, com capacidade para detectar focos de incêndio, num raio de até 15 quilômetros. A rede de monitoramento por vídeo opera 24 horas por dia, 7 dias por semana, com envio em tempo real das imagens de toda a área florestal da companhia e alertas em caso de detecção de focos de incêndio. Somente em Mato Grosso do Sul, a companhia conta com uma brigada composta por mais de 250 profissionais mobilizados e preparados para atuar.

Foto: Suzano

Estiagem agora vai de maio a novembro

As mudanças climáticas que têm atingido todo o mundo também alteraram o período de estiagem em Mato Grosso do Sul. Segundo o subdiretor da Diretoria de Proteção Ambiental do CBMMS (Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso do Sul), major Eduardo Rachid Teixeira, o período passou a ter duração de sete meses — de maio a novembro. Tanto é que, em apenas 24 horas, entre os dias 5 e 6 de outubro, o Estado registrou mais de 100 focos de calor, conforme dados do Programa Queimadas, do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). “Historicamente, o período mais crítico para a propagação de incêndios abrange os meses mais secos: julho, agosto e setembro. Entretanto, nos últimos anos, a Corporação tem constatado uma expansão desse período, que vem se estendendo de maio a novembro”, disse.

Sobre a integração com as brigadas de incêndios das indústrias de celulose, o major explicou que ocorrem treinamentos e simulados constantemente, justamente para conhecer a capacidade operacional. “A integração normalmente acontece com o quartel do Corpo de Bombeiros Militar mais próximo às indústrias. Geralmente são realizados treinamentos e simulados constantes e atividade fiscalização de segurança contra incêndio, com a ida dos militares vistoriantes nas unidades, onde são testadas a capacidade operacional das brigadas”.

Ele salientou ainda que “não se tem observado ultimamente ocorrências de incêndios de grande vulto envolvendo áreas de silvicultura, sobretudo nas áreas de florestas plantadas das fábricas de celulose, às quais possuem estrutura robusta de resposta a incêndio que são aliadas aos treinamentos e ações de integração junto ao Corpo de Bombeiros Militar”.

Foto: Marcos Maluf

Sequestro de carbono

O agronegócio tem seus impactos significativos no meio ambiente. Entretanto, existem também os esforços para promover uma agricultura mais sustentável. E, especificamente sobre a silvicultura, ela desempenha um papel crucial, responsável por fomentar a prática do sequestro de carbono. Uma vez que as florestas atuam como sumidouros de carbono, absorvendo CO2 da atmosfera e contribuindo, justamente, para a mitigação do efeito estufa e, consequentemente, das mudanças climáticas.

De acordo com a OMM (Organização Meteorológica Mundial), uma agência da ONU (Organização das Nações Unidas), em um relatório divulgado nesta semana, o aquecimento médio do planeta deve superar com uma probabilidade de 70% a faixa de 1,5°C na comparação com a era pré-industrial entre 2025 e 2029.

O Serviço Meteorológico do Reino Unido, com base nas previsões de 10 centros internacionais, apontou que a Terra prosseguirá em um nível sem precedentes de aquecimento global depois de 2023 e 2024, que foram os anos mais quentes já registrados.

Prejuízos de R$14,7 bi

Para além dos danos ambientais, que são imensuráveis, os incêndios causam prejuízos. No ano passado, a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) divulgou que as perdas com incêndios causaram, de junho a agosto de 2024, um prejuízo estimado de R$ 14,7 bilhões em 2,8 milhões de hectares de propriedades rurais no Brasil. Considerando aspectos como perda de matéria orgânica, produção, redução na produtividade, cercas em áreas de pastagem e potássio e fósforo nas camadas superficiais do solo.

Por Rafaela Alves

 

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